O País está a passar por momentos de terror, entre episódios que se assemelham a guerra e raptos de cidadãos que não encontram nas forças de defesa e segurança protecção e, bem antes, porém, se suspeita que do seio delas esteja a vir a ofensiva criminosa, como acaba de denunciar, na Beira, a Mãe de uma criança raptada e assassinada, e como também, há dias, na Machava, se comprovou quando uma senhora de Maputo conseguiu ver-se livre do cativeiro dos “agentes” do crime que mais não seriam do que “polícias” dado o equipamento de que os sequestradores dispunham, entre AK47 e cassetetes.
Estão a suceder-se, na região Centro do País, mais precisamente entre o Save e Muxúnguè, episódios violentos em que se fica a crer que já se está em guerra. Mas de facto não aparecem evidências de que sejam homens armados da Renamo os atacantes, embora o ambiente político-militar leve a imaginar-se isso como provável, também pelo facto de Dhlakama já ter declarado que perdeu o controlo das suas forças. Atacam viaturas civis, matam e ferem cidadãos civis que apenas andam nas suas vidas, e destroem bens materiais, criando todo o ambiente que é conveniente para que alguém possa vir a encontrar no que vai sucedendo, argumentos suficientes para poder vir a decretar ESTADO DE SÍTIO afim de tentar adiar eleições numa derradeira tentativa de se perpetuar no poder, ainda que isso careça do aval do Conselho de Estado e da própria Assembleia da República.
Somos levados a recuar aos tempos da famigerada Guerra Civil em que as mais das vezes eram as próprias FPLM– exército da Frelimo no regime de partido único – a desempenhar todos os papéis no palco do conflito, em jeito próprio de serviços de contra-inteligência, atacando e defendendo, para criar a repulsa e ódio da população ao agressor que era suposto ser a Renamo a quem o Regime, entretanto, apelidava de “bandidos armados” omitindo as atrocidades que ele próprio engendrava e praticava.
O ataque de forças governamentais a alegados homens armados da Renamo em Nampula, esta semana, como damos conta nesta edição, amplia o clima de terror no País e transporta desse modo o drama para todas as regiões do território nacional.
No Sul, mais precisamente em Maputo e Matola – como convém em ambiente urbano – e na Beira – a cidade a “reconquistar” – o pesadelo que tudo leva a crer esteja a ser montado para satisfazer ambições de que já ninguém duvida, passa pelos raptos de inocentes e solicitação de elevados valores de resgate.
Na estrada nacional N1, entre o Save e Muxúnguè, ataques sem rosto, continuam.
Assim vai-se tentando criar o sentimento de medo nas pessoas para as levar a pedir protecção de quem afinal de contas aparenta antes estar disfarçadamente interessado neste inferno, com objectivos que já todo o mundo comenta à boca cheia e acusa de “ambição” de quem presentemente dirige o País.
Em Muxúnguè, a 03 de Abril, foi a FIR que atacou a Renamo nos seus aposentos partidários para agora nos calendários deste conflito esse facto aparecer ignorado, como se tudo tivesse começado por iniciativa da Renamo, na madrugada de 04 de Abril, em retaliação que de facto existiu mas que não foi o princípio deste “filme”.
Os raptos têm todos os traços de serem obra de quem tem mãos livres e beneficia de impunidade. Há neles todos os traços de obra bem planeada para justificar que um “pulso de ferro” se venha a impor sob o argumento de que é necessário estancar a “crise”.
O ataque a Sadjundjira, a 21 de Outubro, é precedido de sevícias a cidadãos que tinham ido de todo o País a uma festa, a 17 de Outubro, em casa de Dhlakama, ao lado do local onde também o líder da Renamo acomodara os homens da sua segurança pessoal. A provocação parte das FADM, em Mucodza, entre Sadjundjira e a Vila da Gorongosa.
Há tiros que se alega terem partido da Renamo, quando afinal em dia de festa era de se esperar confusão de todos menos da iniciativa deles. Há mortos só da Renamo e são feitos prisioneiros de alegados homens armados de Dhlakama.
Tiram-se fotos espectaculares, com armas apontadas às cabeças de prisioneiros amarrados, fotos essas que atentam contra todos os códigos internacionais de polícia ou de guerra.
Um repórter de televisão serve de mensageiro-herói da ameaça, de peito feito de cima de um camião-canhão apontado para a casa do presidente do partido que tem ainda a maior bancada da oposição na Assembleia da República e que agora anda em parte incerta.
É até morto um deputado da Assembleia da República pela Renamo, que o ministro da Agricultura José Pacheco perguntaria esta segunda-feira, no Centro de Conferências
Joaquim Chissano, o que estaria a fazer em Sadjundjira com o seu presidente, como se todos neste país devessem vassalagem à Frelimo e ao Governo do dia.
Logo a seguir há tiroteio na Vila de Marínguè, perturbando uma população que estava tranquila há muitos anos pensando que a Paz tinha vindo para ficar.
Há muito que são conhecidas as manobras viciosas de quem quer perpetuar-se no poder. Tentou tudo, desde: querer mudar a Constituição de acordo com as suas conveniências e não com aquilo que mais conviria ao futuro do País; viciar as direcções dos órgãos de comunicação social que se renderam aos seus apetites; criar o Grupo dos “Papagaios” entretanto apelidado de G40; insultar os seus próprios camaradas com prosas sob pseudónimo; ameaçar de rapto por via de SMS figuras com passado histórico; até ao que parece agora ser o seu último plano, este de montar ele próprio e os seus cúmplices, o caos, para conseguir o aval para a declaração do Estado de Sítio e continuar onde está, como se Moçambique fosse Angola e os Moçambicanos andassem distraídos para caírem nesta esparrela deste conflito arma(n)do.
Francamente: Já chega de fitas!!!
Este momento já precisa de todos nós. Isto já não vai só com conversa.
Nas manifestações de repúdio à Guerra e Raptos, desta quinta-feira, em Maputo, Beira, Quelimane e outras partes do País, provou-se que o Povo está contra veleidades que ainda pudessem existir, de alguém se perpectuar no poder.
Valha-nos este impar momento de Unidade Nacional de facto, em que independentemente das convicções de cada cidadão começamos todos a estar unidos num objectivo comum: defendermos a dignidade humana e a nossa condição de cidadãos de um país comum em que “nenhum ditador nos irá escravizar”.
Canal de Moçambique – 30.10.2013