UMA vez mais, os moçambicanos deram mostras inequívocas de serem um povo adulto e que sabe muito bem o que quer e qual o seu rumo em momento de tomada de grandes decisões para a vida da Nação.
Na passada quarta-feira, 20 de Novembro, pouco mais de três milhões de eleitores foram pela quarta vez às urnas votar para as quartas eleições autárquicas no total das 53 cidades e vilas autárquicas, um pleito que, ao que tudo indica, e segundo uma avaliação preliminar, decorreu de forma exemplar, ordeira e pacifica à escala nacional.
Infelizmente, o processo não deixou de ter sido beliscado por incidentes entre graves e de pequena monta em algumas autarquias, tendo alguns deles resultado em feridos graves e ligeiros bem como na destruição de bens móveis e imóveis.
Em todos estes casos, a intolerância entre os actores políticos exacerbou-se de tal modo que valores como a tolerância e o respeito pelas diferenças não conseguiram vingar, sendo este um mau marco no historial da jovem democracia moçambicana que, seguramente, ninguém quer ver repetido.
Mesmo ao longo dos 15 dias de campanha eleitoral que antecederam o escrutínio, registarem-se alguns incidentes entre caravanas de membros e militantes dos partidos e organizações concorrentes, a despeito destes não terem ofuscado todo um evento festivo em que os candidatos e os partidos que os suportam divulgaram os seus manifestos eleitorais. Isto porque a campanha foi realizada dentro da ética eleitoral, cujo código foi subscrito por todos actores relevantes no processo.
Mas a despeito destas marcas negativas, verdade seja dita e sublinhada, os eleitores moçambicanos, e mesmo sob o espectro de ameaças de inviabilização do pleito, pela Renamo, acorreram de forma massiva aos postos de votação para exercerem o seu dever de cidadania e o seu direito de votar e ser eleito. Mesmo em regiões localizadas vivendo sob ameaça da acção bandistesca da Renamo, como é o caso de Gorongosa, em Solfala, as pessoas foram votar e em massa. Foi a prova mais que evidente do desmoronar do discurso belicista renamista, segundo o qual o povo não iria votar.
Mau grado o facto de muitas assembleias de voto terem iniciado tardiamente com a votação, e algumas onde se registaram troca de cadernos entre outras anomalias que poderiam ter sido evitadas se os órgãos competentes tivesse aprimorado a organização de toda a máquina operativa.
No momento em que escrevemos este Editorial já se consolidam os resultados parciais na maioria das assembleias de voto espalhadas pelas 53 autarquias do país, sendo que é de esperar que os eleitores moçambicanos, como o tem feito, continuem a aguardar com serenidade, calma e espírito de civismo pelo anúncio dos números definitivos desta eleição local.
Neste exercício, uns ganharão e haverá também perdedores. É esta a lógica de qualquer que seja o jogo. Todavia, o maior vencedor destas quartas eleições municipais, serão os moçambicanos por terem dado mostras ao mundo do seu cometimento com a democracia, pese embora alguns percalços que julgamos serem de evitar nos próximos pleitos em nome duma convivência política e pacífica onde vinga o respeito pelas diferenças.
Aos órgãos eleitorais vai também uma palavra de reconhecimento por todo um trabalho exemplar que continuam a realizar em prol do sucesso desta eleição, embora não deixemos de sugerir que em próximos actos de género se acautelem situações como as que se registaram na autarquia da cidade de Nampula, onde o nome duma concorrente legalmente registada não figurou no boletim de voto, agravado pelo facto de ter sido cometido um erro na denominação duma das forças concorrentes. É um incidente grave que ditou o adiamento da eleição na cidade de Nampula, sendo de esperar que quem de direito venha a público explicar aos moçambicanos em geral, e aos eleitores, em particular, sobre o que, de facto, teria ditado tamanho erro.
Fora os incidentes mencionados, longe da verdade não estaremos, se reconhecermos publicamente, aqui e agora, que até aqui todos nós, eleitores, órgãos eleitorais, comunicação social e forças de defesa e segurança, estamos no bom caminho.
NOTÍCIAS – 22.11.2013