de vez em quando... da Iinglaterra
Fahed Sacoor [email protected]
Quo vadis, Moçambique? (para onde vais, Moçambique?)
Quem te viu e quem te vê!
Apesar de viver fora de Moçambique, infelizmente as más notícias chegam muito rapidamente até mim. As notícias da tensão política, de assassinatos, de raptos e de outros males que arrasam o país causam-me a mesma dor dos milhares de compatriotas que vivem e sentem na pele neste momento no país. Muitos questionam-se o que terá acontecido de um momento para o outro para esta viragem num país que respirava um clima de paz a todos os níveis? É claro que onde há desenvolvimento também os níveis de crime sobem.
O que é que de repente causou este espectro de guerra novamente em Moçambique? Desde que a paz foi estabelecida e apesar das diferenças de opiniões, vivia-se um clima de tranquilidade na sociedade. Pelo menos Chissano tinha o condão de controlar o país com a sua sábia diplomacia.
Nunca me preocupei em ler o Acordo Geral de Paz (AGP), mas suponho que abordava a desmilitarização da Renamo e a integração dos seus combatentes nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) do país, obviamente de uma forma gradual.
Será que isto se verificou ao longo destes anos todos? Houve alguma comissão independente que fiscalizasse isso?
Como compreender que a Renamo ainda tenha material bélico, suficiente, para causar mais uma guerra?
Será que a Frelimo prometeu alguma coisa e depois não cumpriu?
Ou a Renamo é que não cumpriu o que estava estabelecido?
Para uma briga começar é preciso que alguém acenda o rastilho primeiro. Sinceramente, não se compreende, com tanto campo para pastar no país, porque é que o partido no poder não solta a corda, como sói dizer-se, e satisfaz as necessidades de outros partidos, principalmente da Renamo, para este se ir mantendo fiel à sua palavra. Não tenho conhecimento de Dhaklama ter padecido
de uma patologia mental repentina e desatasse a ameaçar pegar em armas. É mais que óbvio que alguma coisa grave aconteceu para este refugiar-se em Gorongosa. O pior é que não foram apenas ameaças. Há combates, inclusive, entre estes dois contendores, com prejuízos para ambos e principalmente
para a imagem do país além-fronteiras, cujas consequências já começaram a surtir efeitos, como se pode ler na notícia publicada recentemente pelo Correio da manhã (N.° 4203, pág. 2), relacionada com uma equipa norte-americana que cancelou a sua viagem ao país. Com este andar e sem que haja uma intervenção sólida do Governo, muitos outros países com intenções de investir em Moçambique irão concerteza
recuar.No passado, mesmo com a dita política do “deixa andar”, atribuída a Chissano, manteve-se a paz e segurança no país. O problema é que quando um Governo
fica refém da bandidagem, toda a segurança fica aniquilada. Este novo “modus vivendi ou operandi” de raptos jamais visto na história do país, que se apoderou
do quotidiano moçambicano, o qual o Governo não consegue estancar, pôs os citadinos em alvoroço total, culminando com o debandar de muitos para fora do país e, pior, com a morte de uma criança inocente na cidade da Beira. Essa notícia correu o mundo e é sempre de má propaganda para um país que já era visto com outros atributos. Como se a guerra não bastasse, outras modalidades de crimes acentuados no país farão com que muitos se acautelem antes de investir no país. O que me causa repulsa, e não é novidade para ninguém, é que a Polícia da República de Moçambique
(PRM), cuja tarefa é proteger os cidadãos, tem alguns dos seus membros ligados a essa cartilha do crime. Os responsáveis da PRM, quando inquiridos sobre os raptos, afirmam constantemente que os cidadãos não colaboram com a Polícia, e acho com razão, porque
o primeiro que quis colaborar com a Polícia teve o filho assassinado. É verdade que alguns polícias de patentes rasas já foram apanhados, enquanto, quiçá, os tubarões andam à solta. O problema é entregar armas a qualquer pessoa que se aliste na Polícia, seja ou não responsável. Com os míseros salários que eles auferem, vendo os seus superiores enriquecerem e impunes, qualquer
um com arma de fogo tem a tentação de cair nestas malhas, para também saciar os seus desejos. Perdeu-se completamente a noção e o controlo da responsabilidade, isso é, pois, um grande revês para uma sociedade que se quer sã e livre. Não quero fazer qualquer comparação com a Inglaterra, que é um país super desenvolvido, mas, apesar da alta percentagem do crime doméstico, devo dizer que cá nenhum polícia anda armado, salvo algumas excepções. No entanto, a segurança dos seus cidadãos
é máxima e perfeita. Estou apenas a falar de um país com uma população de mais de 63 milhões de pessoas!O povo está farto de guerra e, sobretudo, de má governação, de injustiça social, de desigualdades, da fome e da insegurança que actualmente se vive no país. As contestações têm subido de tom e as várias
manifestações populares espontâneas que ultimamente têm acontecido no país demonstram isso mesmo. O Governo, em surdina, acompanha este quadro negro que o país atravessa, mas não tem tido capacidade suficiente para colmatar esta situação ou então não pode fazê-lo porque está refém de gente poderosa, acima de tudo e todos!Espero e desejo que rapidamente se encontre uma solução para este diferendo e que o país volte ao seu funcionamento normal.Alguém dizia que “quando tudo parece perdido há sempre uma rés de esperança”!
CORREIO DA MANHÃ – 22.11.2013