CANAL DE OPINIÃO por Matias Guente
Quando Armando Guebuza chegou ao poder em 2005, há um fenómeno muito estranho que começou a ter lugar a olhos vistos. É que todos os filhos mais preguiçosos e incompetentes que o País foi criando nestes todosanos de independência, salvo raras e honrosas excepções, começaram a merecer um tratamento especial.
Tenho dificuldades de dizer com exactidão se foi por selecção via pauta classificativa de incompetência e preguiça, ou por mera coincidência de indicação. Mas o facto é que, Guebuza salvou muitos os preguiçosos e incompetentes dos seus merecidos destinos.
Bem-haja Guebuza para estes. Isto é uma assinalável obra que a ciência mais tarde deveria se encarregar de estudar as suas motivações.
Chamo a ciência à colação porque quando se aposta em incompetentes e preguiçosos, se propõe a desafiar uma das mais elementares normas da existência humana: a selecção natural. Charles Darwin já havia teorizado na sua “selecção natural” aquilo que viria a ser a convivência humana sob o escopo da competitividade e de aptidão. Mais tarde esta teoria viria a ser secundada por Thomas Malthus. É muito simples. É que segundo Darwin, na convivência das espécies e dada a disparidade da dose de aptidão em cada uma delas, as mais aptas devem por ordem natural singrar em relação às fracas ou às espécies menos aptas. A isto Darwin chamou de selecção natural. Os aptos devem, por ordem natural, singrar.
Mas cá entre nós, por alguma razão, a teoria proposta por Charles Darwin tem sido executada em sentido contrário. Ou seja: os mais fracos, os inaptos, os incompetentes preguiçosos e outros de qualidades equiparadas, são os que tendem a pontificar e singrar para o desespero da justiça entre os homens.
Os acontecimentos dos últimos dias, mostram claramente que há algo de muito grave que se está a passar no Governo. Ninguém está a governar e ninguém tem a mínima vontade de governar. Estão a acontecer coisas graves no nosso País e quando se espera que o Governo traga resposta ou manifeste alguma preocupação, eis que somos brindados com um número teatral da mais refinada irresponsabilidade.
Mas isso tem a sua explicação: é a incompetência e a preguiça de que falei antes, que está a reivindicar o seu estatuto público. O Governo decidiu por concertação aumentar mais um vocábulo aos seus chavões.
O boato. A par do combate a pobreza, a palavra boato passou a fazer parte, do vocabulário político da nossa governação. Tal como o combate a pobreza repetidamente anunciado para responder qualquer questão, o boato também passou a ser evocado para responder a qualquer crise. O boato funciona como pré solução, se não mesmo solução definitiva de muitos problemas.
Quando o Governo é confrontado com qualquer crise a saída é única: chamar jornalistas e informar que é “boato”. Esta afirmação é feita como primeira acção da “resolução” da crise. É um modelo de governação. A investigação ou apuramento funciona como acessório.
O importante é avançar o boato e ficar a gerir a incompetência. E se a crise resultar em mortes por excessiva actuação policial, a responsabilidade é transferida para os cidadãos e logo baptizados como boateiros.
Se estamos bem recordados, muito recentemente, um grupo de delinquentes (G20) semeou terror nos subúrbios de Maputo e Matola, quando à busca da satisfação com que alimentavam a sua delinquência, passavam a ferro de engomar as pessoas à calada da noite. Quando quisessem, roubavam bens e violavam sexualmente toda a família desde o marido até aos filhos.
Numa clara incapacidade criada pela incompetência de que me referi, o Governo simplesmente veio a público dizer que “é boato”. Não investigou, nem se preocupou em fazer patrulhas nocturnas junto dos populares. Simplesmente e de forma irresponsável, ignorou os factos porque era mais fácil dizer que era boato.
Lembro-me que no período áureo do famigerado “G 20” um colega nosso aqui na redacção mandou a esposa e filhos para casa dos pais, após seu vizinho (a esposa e filhos) terem sido violados sexualmente e engomados no bairro do T3. No dia seguinte, o nosso colega quase que dormia na redacção com medo de que lhe acontecesse algo similar ao que acontecera ao vizinho. Era para o Governo um boato. A população saiu a rua e à sua maneira colocou a sua “ordem”. Inocentes perderam a vida confundidos com malfeitores.
Mas para o Governo era tudo boato.
Depois seguiu-se a vaga de raptos e em tempo oportuno o Governo foi alertado que havia um sindicato que estava a raptar mais de duas pessoas por dia nas cidades de Maputo e
Matola. Empresários começaram a abandonar o País. O Governo chamou pela preguiça e incompetência e apelidou de agitação e boato.
Dias depois e já quando o sindicato começou a agir sem reservas, tendo subido o número de raptos por dia, o Governo apercebeu-se que afinal não era boato e que as pessoas estavam mesmo a serem raptadas.
Mas antes, era tudo boato.
Hoje é o recrutamento compulsi compulsivo de jovens iniciado no dia 25 de Novembro na cidade da Beira, para entrarem nas fileiras das FADM e consequentemente, na guerra que irresponsavelmente Armando Guebuza está a mover contra a Renamo.
As pessoas viram seus familiares e amigos sendo recrutados nas ruas.
Os jovens enfurecidos saíram a rua e à sua maneira “defenderam” a liberdade. Há mortos e tantos outros feridos. O Governo diz que é boato. Até dá conferências de imprensa para institucionalizar a sociologia governamental do boato.
Esta quinta-feira foram disponibilizados vídeos que provam que há de facto recrutamento compulsivo para o exército, e do nada mudou-se o discurso. “Vamos investigar”.
O que se pretende afinal investigar, se tudo não passa de boato? Quem no Governo tem uma pós graduação em “boato”?
Portanto, a sociologia governamental do boato, não é nada mais nada menos que um corolário de excesso de incompetência e preguiça que pontifica neste Governo. O País não pode continuar a acarinhar os filhos mais incompetentes, os mais preguiçosos e inaptos, muito menos coloca-los a governar uma nação.
Isso tem consequências fatais.
Hoje o Governo anda desavergonhado tentando explicar o escândalo dos barcos de 300 milhões de euros, cujos contornos repousam na almofada do crime organizado em que o regime se tornou. Se a imprensa internacional não desmascarasse o negócio, certamente que seria também um boato. Ficamos com a impressão de que este Governo nada mais faz, se não criar boatos que são verdades.
Portanto, em últma análise, boato é este Governo. Em nenhum País civilizado há um Governo que destila tamanha irresponsabilidade quanto o moçambicano. Este Governo, como se diz na gíria popular, “não existe”. É mesmo um boato.
Um boato que nos está a sair muito caro. É da mais elementar urgência desfazermo-nos deste boato que se chama Governo. (Matias Guente)
CANALMOZ – 29.11.2013