As eleições autárquicas de Novembro só foram possíveis mercê da coragem – melhor, teimosia – que caracterizaram Armando Guebuza. Tapou todas as eventuais fontes de boicote, previamente anunciado, ao processo eleitoral, nem que para isso a sua imagem sofresse uma estrondosa queda vertiginosa.
É precisamente em Armando Emílio Guebuza que esta casa elege como figura do ano de 2013.
Ao longo do ano que termina, Armando Guebuza conseguiu transformar a fama que tem de casmurro, para o alcance dos seus objectivos.
Teimoso, atribuiu uma verba orçamental alvo de forte contestação, às Forças de Defesa e Segurança (FDS), para 2013, em detrimento de sectores tradicionais da Educação, Saúde e Agricultura. Pesem os argumentos na altura apontados, não se conseguiu convencer os críticos.
Fez ouvidos de mercador a alegada aquisição de equipamento bélico.
Resistiu à onda de protestos contra a EMATUM, e há quem garante que os 30 barcos semi-militares visam inviabilizar o reequipamento da Renamo, pelo mar.
Quando menos se esperava, as eleições autárquicas aconteceram em Novembro.
Para isso, Guebuza teve de chamar a sí, uma árdua missão que visou a eliminação de eventuais focos de comando de um plano anunciado de boicote.
Recorreu a vários meios para entrar em residências civis e sedes partidárias, em tarefas de busca.
Arregaçou as mangas e atacou precisamente onde Afonso Dhlakama e alguns dos seus colaboradores se encontravam, a 21 de Outubro, aparentemente o epicentro
de todos os planos da Renamo.
Pelo meio, e como se não bastasse, Armando Guebuza foi alvo de uma forte e já mais vista manifestação de repúdio, em Maputo e na Beira, por causa dos sequestros e dos raptos, com a questão da paz metida pelo meio.
Até houve quem sugerisse a intervenção de peritos internacionais para ajudarem a lidar com a crise dos sequestros.
Guebuza declinou tal oferta.
A olhos vistos, a popularidade do presidente foi caindo de forma célere, sobretudo quando o pico da violência atingiu os bairros suburbanos de Maputo e Matola, com os criminosos a recorrerem ao ferro de engomar para intimidar as suas vítimas. Essa estratégia acabaria por ser transformada por uma outra, não menos violenta, do ponto de vista psicológico: raptos e sequestros.
Os médicos e o resto do pessoal da Saúde entraram em greve sem precedentes, juntando-se a outros manifestantes, de desmobilizados de guerra e de ex-agentes da secreta, ainda com indícios de greves silenciosas dos professores, sector onde a corrupção tem estado sempre em alta.
Foi um 2013 marcado por uma sucessão de crises que mexem directamente com a vida dos cidadãos, que levam qualquer presidente a assentar os pés no chão e a não se precipitar na resolução dos problemas.
Alberto Vaquina, José Pacheco e Filipe Nhyussi foram, simplesmente, lançados para o debate, desviando algumas atenções, parte de uma sábia estratégia encabeçada por Guebuza.
No seu informe, mostra que as coisas não estão bem, daí não ter repetido o tradicional ‘slogan’ do Estado da Nação é bom.
Não deve ser iniciativa do Chefe do Estado baixar o ‘austral’ e assumir que as coisas estão péssimas.
É por isso que elegemos Armando Emílio Guebuza, figura do ano de 2013.
salvador raimundo
EXPRESSO – 26.12.2013