NA SUA SEGUNDA ENTREVISTA DEPOIS DE TER SIDO AFOGENTADO DE SANDUDJIRA
A Renamo sente-se muito orgulhosa porque havia gente que não acreditava na sua capacidade de mobilização. Mais de 80 por cento dos eleitores não foram às urnas e isso foi uma vitória da Renamo. Quem saiu a ganhar, de facto, fomos nós porque, politicamente, a maioria, 85%, ficou para a Renamo, 12% é que ficaram com a Frelimo e o MDM − líder da Renamo, AfonsoDhlakama
Olíder da Renamo, Afonso Dhlakama, ponderaa participação da Renamonas eleições presidenciaise legislativas de 2014, depoisde ter boicotado asmunicipais de Novembropassado.
Numa entrevista à Lusa, por telefone, e falando de um local desconhecido, “mas em Moçambique”, Dhlakama fez depender a participação do seu partido nas eleições gerais de uma nova lei eleitoral e não, como anteriormente, de um extenso pacote reivindicativo, que não foi aceite, levando a Renamo a boicotar as municipais.
“Essa palavra ‘boicote’ não está boa, nada. É exigência da democracia própria, aquela que em Portugal vocês têm participado. O que houve não são eleições, são uma fantochada, as eleições não podem ser contestadas por mais de nove pequenos partidos, todos a dizerem que foi uma fantochada, com um único partido, a Frelimo, a dizer que correu bem”, disse o líderda Renamo.
“Gostaríamos de participar” mas “há trabalho que deve ser feito antes: aprovar a nova lei eleitoral e resolver algumas coisas que têm impedido de facto a democracia neste país”, acrescentou o líder da Renamo.
Afonso Dhlakama foi expulso pelo Exército da sua base de Sandjundjira, em 21 de Outubro, e, desde então, não mais foi visto em público, tendo o seu partido boicotado as eleições municipais de 20 de Novembro, que se saldaram numa grande subida eleitoral do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), uma dissidência da Renamo, que conquistou três das quatro maiores cidades do país.
Mesmo assim, Dhlakama não se arrepende da ordem que deu para a não ida às urnas.
“A Renamo sente-se muito orgulhosa porque havia gente que não acreditava na sua capacidade de mobilização. Mais de 80 por cento dos eleitores não foram às urnas e isso foi uma vitória da Renamo. Quem saiu a ganhar, de facto, fomos nós porque, politicamente, a maioria, 85%, ficou para a Renamo, 12% é que ficaram com a Frelimo e o MDM”, disse, mantendo queo MDM não subiu à custa doseu partido.
“Absolutamente, embora esteja a apanhar boleia, mas, na verdade, não acredito que o MDM queira ganhar só porque a Renamo não está a participar nas eleições. A Renamo é um partido, com a sua história, se o MDM fosse uma alternativa à Renamo acredito que as populações tinham ido em massa votar« e, se calhar, teria ganho 15 ou 20 municípios”, disseDhlakama.
Dhlakama de novo candidato
Se a Renamo participar nas gerais, o seu líder deverá ser, novamente, o candidato do partido a Presidente da República.
Até agora, apenas Daviz Simango, presidente doMDM, avançou como candidato,e a Frelimo, partido nopoder, iniciou um processode selecção que envolvetrês pré-candidatos, um dosquais, José Pacheco, queé o chefe da equipa denegociadores do Governonas reuniões inconclusivas,com a Renamo, sobre a leieleitoral.
“Não costumo comentar as coisas da outra casa mas, como cidadão moçambicano que tenho sofrido muito, é lamentável que o PR coloque o Pacheco nas negociações”,disse Dhlakama.
“Nada irá mudar, porque se o Pacheco sabe que o chefe dele ganha com roubo, porque esta lei eleitoral não permite qualquer oposição, não estou a ver o Pacheco no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano (ondese realizam as reuniões entreo Governo e a Renamo) a proceder bem”, disseDhlakama.
Além do ministro da Agricultura, fazem parte da pré-selecção da Frelimo o Primeiro-ministro, Alberto Vaquina, e o ministro da Defesa, Filipe Nyussi.
Dhlakama assume derrota antecipada?
Aparentemente como que a assumir, antecipadamente, uma derrota nas eleições presidenciais de 2014, Dhlakama até já prevê o futuro papel do Presidente da
República de Moçambique pós-Guebuza.
“O Guebuza vai mandar pôr aqui um miúdo, esse miúdo não vai mandar, vai ser um corta-fita e o Guebuza continuará a mandar”, concluiu Dhlakama.
(LUSA & Redacção)
CORREIO DA MANHÃ – 18.12.2013