MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Macuácua
Como estás tu a passar as festas, meu amigo?
Do meu lado está tudo normal, felizmente.
Só que com uma grande tristeza com a continuação dos actos de guerra na região Centro do país.
Acabei de ler a informação de que houve mais combates entre homens da Renamo e das forças governamentais, com numerosos mortos e feridos.
Pela primeira vez em 21 anos passamos o período das festas aos tiros uns aos outros. Maldita situação esta para a qual nos empurraram e da qual não sabem, ou não querem, tirar-nos.
Quando nos vêm falar das razões do impasse, o paleio é sempre sobre os aspectos técnicos das negociações: se haverá mediadores ou não, para que servem os observadores, se só estarão na sala moçambicanos ou também estrangeiros e coisas do mesmo tipo.
Do que nunca nos falam é da questão de fundo, daquilo por que estão a ser mortos e feridos tantos moçambicanos: a necessidade de revisão da Lei Eleitoral para evitar situações vergonhosas como aquelas a que assistimos nas recentes eleições autárquicas.
A questão de fundo é acabar com o completo domínio dos órgãos da administração eleitoral por um dos concorrentes, o partido Frelimo.
Os moçambicanos estão a ser mortos para que os delegados da oposição, nas mesas de voto, possam continuar a ser detidos, em grandes quantidades, quando chega o momento da contagem dos votos; para que a FIR continue a ser usada como tropa de choque do partido no poder para intimidar e desorganizar a oposição; para que a vitória de uns se transforme na vitória de outros nas estranhas recontagens de votos feitas à porta fechada.
É por isso que as negociações não avançam. Para que quem a tem não perca esta vantagem, fundamental para garantir vitórias eleitorais.
E como, em 2014, vamos ter eleições presidenciais, legislativas e provinciais, estou muito pessimista de que as negociações avancem até lá.
O que, muito provavelmente, vai significar mais luto em muitas famílias moçambicanas.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 31.12.2013