MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça
Olá Júlio
Como estás tu, meu amigo?
Eu estou profundamente chocado e horrorizado.
E tudo pelo que o Comandante Abreu nos veio dizer sobre o despenhamento do voo TM 470 da LAM em que morreram 33 pessoas.
A investigação está a ser feita sob a direcção da Namíbia e as caixas negras foram abertas nos Estados Unidos num organismo especializado. Portanto, por muito que me custe, não creio que possa duvidar das conclusões que nos são apresentadas.
E essas conclusões relatam uma tragédia inimaginável.
Porque acidentes aéreos acontecem todos os dias. O nosso domínio da tecnologia ainda não é (nem será nunca...) completo e a formação dos tripulantes nem sempre é a melhor.
Mas o que aconteceu foi muito pior.
Em tempos de guerra e de terrorismo há aviões que são abatidos. Por artilharia inimiga, por outros aviões ou por bombas colocadas no seu interior.
Agora um avião de passageiros ser abatido pelo seu próprio comandante é coisa de que nunca tinha ouvido falar e espero não voltar a ouvir no que me restar de vida.
Falando com um amigo ele comparou esta tragédia com os atentados com carros-bomba de que ouvimos falar diariamente e que matam imensos civis. Mas, nesses casos, através de raciocínios loucos, os bombistas suicidas consideram as vítimas seus inimigos, porque são de outra religião, de outro país ou por outra qualquer paranóia.
Neste caso as 32 vítimas do suicida não eram, em nenhum aspecto, inimigos do comandante do voo. Eram simples passageiros, desconhecidos dele, e alguns colegas da tripulação, com quem, muito provavelmente, convivia regularmente.
Só uma mente muitíssimo perturbada pode ter feito o que o relatório diz que ele fez. E fazê-lo metodicamente, profissionalmente, mantendo-se consciente o tempo todo. Sabendo, a todo o tempo, quais seriam as terríveis consequências do que estava a fazer.
Alguém me disse que o comandante tinha avisado a empresa de que não estava bem. Não sei se isso é verdade. Mas, se for, a responsabilidade da LAM é muito grande por lhe ter permitido continuar a voar.
É essa parte da investigação que deve ser feita agora. Sabendo o que aconteceu temos que tentar saber por que aconteceu.
Li em qualquer lado que, em casos como este, os seguros não se responsabilizam e, se isso for verdade, o prejuízo para a LAM será tremendo. Muito provavelmente vai sobrar para nós, os pagadores de impostos.
Mas o pior é, sem dúvida, a situação de todos aqueles que perderam os seus entes queridos que, no seu desespero, devem estar a interrogar-se sobre o que pode ter feito desencadear-se este horror.
Se eu, que não conhecia ninguém a bordo, estou profundamente perturbado, como estarão esses familiares?
Um abraço para ti do
CORREIO DA MANHÃ – 24.12.2013