CRÓNICA de: Jorge Ferrão
Madiba visitou a Ilha de Vamizi em Dezembro de 2005. O Vamizi Lodge esmerou-se para o receber.
Anos mais tarde, os locais, contaram-me os detalhes dessa visita relaxante para ele, histórica e inesquecível para os poucos habitantes locais. De entre os vários preparativos, os gestores do Lodge optaram por comprar um carro eléctrico, desses usados pelos jogadores de Golfe, para o transportar, se fosse necessário, entre o quarto e a sala de refeições. Era o carro do Presidente.
Também lhe foi explicado que o carro seria dele. Só dele.
Alguns dias depois, ainda nas primeiras horas da manha, o carro de golfe passou defronte da sala de refeições. Madiba tomava o café e todas as atenções para si convergiam. O carro voltou a passar no sentido contrário, tendo o mar azul-turquesa como cenário.
Eis que Madiba interrompe a conversa e pergunta se o carro que fazia o vai-e-vem não lhe pertencia. Gestores e outros convidados ensaiaram desculpas e confirmaram. Naturalmente, Madiba sorriu e os sossegou. Era só um detalhe.
Provava a frescura de sua memória. O carrinho eléctrico continua em Vamizi.
Fora de uso, por falta de manutenção ou de utilizadores, sempre como o carrinho do Presidente Mandela.
Se tivesse estado na Ilha, naquele momento, teria adorado mostrar ao Presidente Mandela um exemplar vivo de uma espécie de caranguejo comum na Ilha de Vamizi, o Caranguejo-doscoqueiros.
Pode ser encontrado facilmente, nas caixas de lixo do hotel, terminando os restos dos cocos e do lanho que os turistas e funcionários consomem. O Caranguejo-dos-coqueiros
(Birguslatro) é um crustáceo terrestre encontrado em diversas ilhas tropicais e dos oceanos Índico e Pacifico. Pode pesar até quatro quilos e é muito forte.
Com duas colorações, alaranjado e meio azul-rocho, o caranguejo-dos-coqueiros alimenta-se preferencialmente de material vegetal, principalmente cocos.
Portanto, seria natural encontra-lo em regiões com muitos coqueiros.
Uma das características que o diferenciam dos restantes caranguejos tem a ver com o facto de ele ser exímio a trepar coqueiros. Parece que foi treinado para subir os coqueiros. Quando iniciam a subida se mantêm tão firmes que dificilmente podem ser arrancados da caminhada. Pode ser que já tenha identificado o coco ou os cocos a abater.
Portanto, o dispêndio de energia precisa de ser compensado e por isso ele não desiste nunca da subida.
A Ilha do Vamizi por felicidade, apesar de ter poucos coqueiros, hospeda exemplares do caranguejo trepador.
Podem ter vindo para Ilha para se refugiarem da perseguição que sofriam em outros locais. Existe uma lenda local, até hoje muito divulgada, que confirma que quem comer ou se alimentar do caranguejo dos coqueiros, jamais sairá da Ilha.
As lendas têm o valor que tem e aquelas que lhes decidimos dar. Mal ou bem, também eu advogo esta lenda.
Pelos locais onde o caranguejo dos coqueiros ele continua sendo muito perseguido. A sua carne parece ser das mais saborosas que existem. Por ser considerada o caviar dos ilhéus o caranguejo dos coqueiros foi ou continua sendo muito procurado. Em Vamizi encontram paz e harmonia. Ninguém toca neles.
Protegida pelas convenções internacionais, porém sem qualquer protecção na legislação nacional, o caranguejo dos coqueiros corre perigo de extinção. Desconheço outras ilhas e praias onde esta espécie possa ser encontrada na nossa costa. Porem, faço fé que ainda um número significativo possa ser encontrado, não para que as gerações vindouras o possam conhecer, mas para que eles próprios recriem as suas gerações futuras.
Impressiona, nestes trepadores, como eles abrem os cocos para se alimentarem. As pinças são de tal forma fortes que descascam o coco com a maior das facilidades.
Alguns pesquisadores e pessoas interessadas ainda prestam alguma atenção ao caranguejo trepador enquanto a maior parte dos turistas desconhece a sua existência.
Mandela haveria de ter gostado de ver um destes caranguejos. Onde quer que ele esteja que nos inspire e ilumine, para que as lições de tolerância, convivência pacífica, paz e amor, cada vez mais se ausentem dos nossos dicionários e deixem de ser meras palavras.
WAMPHULA FAX – 23.12.2013