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Por: Noé Nhantumbo, Beira
Muito já foi dito sobre a actual crise política e militar em Moçambique.
O ano de 2013 prestes a findar testemunhou o desenvolvimento preocupante de fenómenos atípicos num país que conheceu fases apreciáveis de progresso. Uma combinação apropriada de factores naturais, políticas governamentais, necessidades externas conjugaram-se para colocar Moçambique na rota do investimento tanto nacional como estrangeiro.
Regista-se um crescimento no número de projectos de infraestruturas públicas iniciados e concluídos. Em si isso é bastante positivo e confere novas capacidades ao país atender as necessidades de seus cidadãos.
Uma vaga de descobertas e redescobertas de recursos naturais nomeadamente minerais associado a um mercado internacional ávido de novas fontes destes recursos colocou Moçambique no mapa. O sector de energia em que Moçambique possui uma vantagem comparativa importante ao deter a grande Barragem de Cabora Bassa, gás em exploração em Pande/Temane, enormes reservas descobertas em Cabo Delgado, petróleo com exploração ainda que mínima em Inhassoro, fazem de nosso país um “pequeno colosso” em África.
“Só não erra quem nada faz”. Mas alguns dos erros cometidos e repetidos são de consequências profundas para o futuro do país. Nos recursos naturais renováveis muita coisa tem de ser reequacionada e neste capítulo importa referir todo o dossier madeireiro, o sector de pescas especialmente de camarão, o ainda misterioso negócio do atum, a agricultura comercial. Alguns erros resultam de insuficiências relativas a compreensão e domínio técnico dos assuntos, que levam a que se consiga muito pouco nas negociações visando explorar recursos.
Os moçambicanos denotam consciência sobre seus assuntos e quando muitas vezes reclamam isso resulta de um entendimento cada vez maior de algumas coisas que poderiam estar melhor e ter sido feitas de outro modo.
Chegados aqui importa que se diga em abono da verdade que uma cultura de secretismo observada e implementada sob alegações de que o “segredo é a alma do negócio” tornou-se num artifício esgrimido e abusado por uma certa elite em detrimento da valorização dos recursos nacionais.
Dos vários diagnósticos oficiais e na opinião de diversos segmentos nacionais ressalta alguma contradição quando se olha para a realidade circundante. Moçambique com uma dose de realismo e de abertura política poderia estar discutindo outros assuntos.
O adiamento na adopção de mecanismos realistas, concretos, em prol da paz e estabilidade demonstram que foi errado não implementar na íntegra alguns aspectos do AGP. O governo de Joaquim Chissano teve a oportunidade de com soberania e responsabilidade eliminar pendentes.
Deixaram-se arrastar assuntos de reintegração social, política e económica de um número considerável de pessoas. Exércitos residuais não se extinguem por si sem uma acção concertada acordada e consensual. O caso dos “Madgermans” é emblemático na medida em que mostra como trabalha o governo quando confrontado com complexidades.
A concórdia é algo que se consegue através de inteligência, sacrifícios e decisões políticas por vezes dolorosas.
2013 viu o país caminhar perigosamente para um conflito militar quente, pesado, nefasto e destruidor. Cada vítima militar ou civil, cada camião queimado ou destruído, cada negócio interrompido, cada família enlutada, conduzem a um extremar de posições totalmente contra as aspirações da maioria dos moçambicanos.
Todos os êxitos que temos consciência de serem de saudar serão rapidamente esquecidos se o país entrar em guerra aberta. Nada daquilo de que nos orgulha hoje terá qualquer significado quando o número de vítimas se tornar insuportável e conhecido.
A guerra deve ser afastada do país a todo o custo.
Negociar e dialogar deve ser a palavra de ordem, opção única e inadiável em Moçambique.
É tempo de chamar todos os moçambicanos de boa vontade a participar com todo o seu saber e experiência na busca de soluções rápidas, urgentes e duradouras que dissipem de maneira definitiva o espectro da guerra.
Não vencidos e vencedores quando o povo sofre e morre.
O tempo não é para se exibirem “analistas e comentaristas” que se dedicam a marketings políticos de natureza duvidosa. Dar espaço na comunicação social pública a agentes provocadores que aumentam fogo na fogueira é contraproducente e perigoso pois aumenta a desconfiança entre as partes em “diálogo”.
Aos moçambicanos não interessam dotes em oratória ou alguma capacidade discursiva de conteúdo inócuo, desfasado e destemperado.
Queremos a paz e disso jamais abdicaremos. A situação e qualquer via que afaste os moçambicanos do caminho da paz só podem interessar pessoas com agendas diferentes da grande maioria dos moçambicanos.
Para que 2014 seja ano de esperança e de progresso requer-se liderança e inteligência, exige-se sentido patriótico que ultrapassa a estreita franja dos interesses privados.
O tempo é abandonar-se o orgulho infundado e trabalhar com zelo e dedicação para a causa nacional.
Voto de um 2014 Feliz, Pacífico, de Trabalho e de Realizações para todas as famílias moçambicanas.
O AUTARCA – 31.12.2013