Hoje sonhei. Sonhei que este 14 que amanhã começa será (assim espero) melhor que o fatídico 13 que já lá vai.
Por si só diz a lenda que o 13 é número de azar. E de azares andou o nosso país cheio. Nem vale a pena lembrar.
Sonhei coisas para este ano prestes a começar, porque afinal o sonho está associado à “realização de um desejo”.
Gostava de ver realizado não um, mas vários desejos. Comecei a duvidar se conseguiria tudo isso porque alguém veio soprar no meu ouvido que “o sonho é espaço para realizar desejos inconscientes reprimidos”. E aí fiquei completamente baralhado. Mas mesmo assim continuei a sonhar.
E um dos meus desejos (inconscientes e reprimidos ou não) acaba de ser colocado de lado, porque afinal já não posso apostar em mais do que três “presidenciáveis” para o ano novo. Tenho de me contentar com os que me (nos) foram impostos. Eu, e se calhar muitos como eu, apostava em outros. Mas tudo foi por água abaixo. Tive de me contentar com a explicação dada de que “a designação dos pré-candidatos foi feita no cumprimento das normas existentes”. Agora não tenho outra alternativa que não seja engolir esse rebuçado. Não sei se outros vão engolir ou não.
De fora ficam alguns nomes que tiveram largo e considerável apoio e impacto nas redes sociais, esse instrumento que o poder detesta, esquecendo-se que é lá (nessas redes sociais) que muitas verdades são ditas, que muitos podres são descobertos, que muitas denúncias são feitas.
Sonhei que já andam por aí candidatos a Ministro da Agricultura do próximo Governo, uma vez que as sondagens dão como certa a existência duma vaga, porque o actual titular daquela pasta vai (quero acreditar que sim) andar lá pelas alturas em outros voos.
Sonhei que no controlo de tráfego rodoviário a partir de agora o “cinzentinho” vai definitivamente deixar de exigir a minha carta de condução, porque essa tarefa é do agente regulador de trânsito. Que vou deixar de dar o tal “refresco” ao polícia, porque o comandante dele, quando lançou a “Operação Sossego”, já me deu autorização para denunciar esse tipo de atitude dos agentes oportunistas. Até me disse que eu podia filmar com o meu telemóvel sempre que entendesse que estava a ser subornado e depois mostrar o filme ao superior hierárquico do polícia.
Sonhei que a parte baixa de Maputo está a transformarse numa verdadeira floresta de ferro e betão. Que à falta de espaço na horizontal, agora vai tudo pela vertical. Que vamos ter espaço para estacionarmos as nossas viaturas, sem que tenhamos de pagar os 10 paus que os “parquímetros ambulantes” nos cobram, porque vamos ter silos suficientes com capacidade para albergar um número considerável de viaturas.
Sonhei que Maputo já não vai ser a cidade dos raptos. Que isso afinal é história do passado. E não é de estranhar que os raptos tenham acontecido, porque esse fenómeno, segundo um cérebro político pensante disse um dia, “está relacionado com o nosso próprio desenvolvimento”.
Sonhei que já podíamos andar pelos passeios das nossas cidades sem termos de pedir licença a quem quer que seja, para circularmos livremente, porque os vendedores de rua foram condignamente “transferidos” para outras paragens. Para lugares com segurança, com saneamento básico, com mais protecção. Um local condigno para fazerem os seus negócios.
Sonhei que brevemente começarei a deliciar-me com o atum “made in Mozambique”, pescado por barcos que são nossos. Que os “my love” já tinham acabado. Foi uma espécie rara agora extinta, que desde o ano passado nos obrigava a sermos transportados como gado. Felizmente o Conselho Municipal em conjunto com as autoridades que lidam com o transporte terrestre tinham encontrado a solução mais viável, confortável e segura para os utentes.
E nesse sonho vi autocarros novos das nossas empresas públicas de transportes a circularem pelas nossas cidades capitais, carregando passageiros dum lado para o outro.
São os chamados “papa-bichas”. É a requalificação dos centros urbanos a produzir os seus efeitos. Até vi, neste meu sonho, passar, ali pela Av. 25 de Setembro, um “metro de superfície”. Coisa bonita que eu já tinha visto quando há anos visitei alguns países europeus. O progresso, para satisfação dos seus munícipes, bateu à nossa porta.
Finalmente!
Sonhei que os professores, que ao longo de 2013 foram denunciando atrasos nos seus vencimentos e no pagamento de horas-extra, passarão a receber atempadamente os seus salários e, consequentemente, tinham tido um Natal e terão festas de passagem de ano condignos, porque com o dinheiro recebido, foi possível comprar, sem sobressaltos e tendo que enfrentar longas filas em supermercados, lojas e centros comerciais, os produtos necessários para o Natal e para o fim do ano.
Sonhei que Dhlakama tinha voltado à capital, depois de alguns meses de “hibernação” e refúgio nas matas, onde certamente foi retemperar forças e arejar a mente.
E neste regresso, como bom “pai da democracia” que é, prometeu que em Fevereiro tudo vai mudar. Ele e o seu partido vão concorrer para as legislativas e presidenciais.
A paz vai voltar aos lares dos moçambicanos.
Assim seja.
Sonhei muito mais coisas que agora não vêm para o caso. O que me preocupa é saber se o meu sonho se vai transformar em realidade.
NE: João de Sousa escreve às quartas-feiras, mas porque amanhã é feriado nacional e só regressamos ao convívio dos estimados e respeitados leitores na próxima segunda-feira, a crónia semanal de JS sai hoje. Pelos eventuais transtornos aos apreciadores desta rubrica as nossas sinceras desculpas.
CORREIO DA MANHÃ – 31.12.2013