CRÓNICA de: Jorge Ferrão
A saúde é reconhecida como uma componente essencial do desenvolvimento humano e para o alcance dos objectivos do Desenvolvimento do Milénio. A África subsariana possuí uma enorme escassez de médicos e outros profissionais de saúde necessários para fazer face aos grandes desafios na saúde global.
Embora a África possua 24% do peso da doença no mundo, ela tem apenas 3% dos trabalhadores de saúde e menos de 1% de recursos financeiros mundialmente disponíveis para a saúde. Dados de 2010 indicam que existem em África, aproximadamente, 18 médicos e 119 enfermeiros para 100.000 habitantes.
Moçambique não foge à regra e nem é exemplo, com 2 médicos por cada 100.000 habitantes. Os Estados Unidos da América, por exemplo, o rácio é de 280 médicos e 980 enfermeiros para 100.000 habitantes, e nem é dos melhores exemplos.
Esta escassez de recursos humanos de saúde na África subsariana deve-se, em grande parte, a reduzida capacidade das universidades africanas em formar a quantidade necessária de profissionais de saúde e a ausência de um plano de formação e retenção dos seus docentes. Para agravar, ainda mais esta escassez de quadros médicos, o continente africano, debate-se com a fuga de quadros do sector público para o sector privado e organizações não-governamentais (ONGs) dentro e fora do continente.
Cerca de 65000 médicos correspondendo a 1/5 dos médicos formados no continente africano migraram para um país desenvolvido 5 anos após terem completado a sua formação.
A produção científica nas escolas médicas africanas é também muito baixa. Apenas 10% dos docentes nas universidades africanas estão envolvidos na investigação. Um estudo envolvendo 8 universidades africanas incluindo as Faculdades de Medicina Nacionais, revelou que estas instituições possuem o ratio mais baixo de publicações , 0,03 por docente. Em Moçambique, durante o período de 2001 a 2010, foram publicados pelos docentes e médicos da Faculdade de Medina da UEM e do Hospital Central de Maputo (HCM) 202 artigos científicos em revistas indexadas, nos quais apenas em 58 (29)% aparecem como os primeiros autores.
Em Moçambique, do universo de médicos formados entre 1980 e 2006, 25% deixaram o sector público até 2010 e destes 62.4% foram para o sector privado dentro do país. Os salários, sobretudo, são um entrave para manutenção do corpo técnico e administrativo.
A Universidade Lúrio graduará os seus primeiros médicos de clínica geral em 2014. Um marco importante para a universidade e província de Nampula. Serão médicos que grosso modo alimentarão no sentido lacto e positivo, o Sistema Nacional de Saúde e não apenas a província.
Cont inuaremos distantes de minimizar as necessidades. Porém, teremos dado um significativo passo para colocar as unidades fundamentais sanitárias como referência na formação médica. Na realidade, o Hospital Central de Nampula já deveria assumir o estatuto de Hospital Universitário, como qualquer um outro hospital vocacionado no mundo. Só não acontece pois os recursos alocados não ajudam.
Os primeiros grãos, ainda assim, foram lançados. Será responsabilidade de todos contribuir e auxiliar na formação de outros médicos e profissionais de saúde.
Esta uma responsabilidade partilhada e não apenas da universidade.
WAMPHULA FAX – 27.01.2014