A RELATIVA calma que se vive nos últimos quinze dias, na Estrada Nacional Número Um (EN-1), troço Muxúnguè/Save, na província de Sofala, é para alguns utentes desta é a espinha dorsal da rede viária nacional, fruto dos entendimentos que têm sido produzidos no diálogo entre as delegações do governo e da Renamo, no quadro da procura da solução do problema da tensão político-militar que se arrasta desde o primeiro trimestre do ano passado.
Não se registam ataques perpetrados pelos homens armados da formação política de Afonso Dlhakama há sensivelmente quinze dias, situação que proporciona uma relativa tranquilidade aos utentes da via, ao ponto de alguns ensaiarem uma circulação fora das colunas militares. Para muitos, este interregno, pode ser o princípio do fim de um momento conturbado que os moçambicanos viveram durante cerca de um ano, mercê dos resultados positivos do diálogo entre as delegações do governo e da Renamo.
O regresso à normalidade da circulação rodoviária da secção da EN-1 apelidada de “zona perigosa”, Muxúnguè/Save é também caracterizada pela existência de algumas viaturas que ousam transpor a zona fora do circuito estabelecido pelas Forças de Defesa e Segurança, em muitos casos, devido à existência de muitas maçanicas nas bermas da rodovia, situação aliado ao mau estado do piso, bloqueiam a estrada impedindo, deste modo, que outras viaturas continuem na marcha em obediência à velocidade determinada pelas autoridades.
Ainda assim, as Forças de Defesa e Segurança, manifestam moral e determinação no cumprimento das suas atribuições, nomeadamente da defesa dos interesses socioeconómicos do país, continuam com todo rigor que se impõe, a escoltar viaturas exigindo disciplina rígida aos automobilistas para que ninguém atravesse aquele troço fora das ordens emanadas pelas FDS, como forma de conferir maior segurança aos utilizadores da principal rodovia do país.
A nossa Reportagem, que escalou a vila Franca de Save, distrito de Govuro, constatou que apesar da prevalência da ordem da circulação de viaturas em colunas militares naquela região, alguns automobilistas, de propósito se atrasam a integrar a escolta, alegadamente para permitir a sua circulação em alta velocidade sozinhos, chegando mesmo a transpor a chamada zona perigosa fora da escolta.
RELATIVA ESTABILIDADE NÃO SUBSTITUI COLUNAS MILITARES
Entretanto, Samuel Maculuva, da Força de Guarda Fronteira com responsabilidade de organizar as viaturas, explicou que a relativa alteração da ordem e segurança naquela região de confrontos militares, não levantou ainda as decisões tomadas a nível superior, razão pela qual embora alguns automobilistas queiram viajar sem escolta, não existe ainda uma orientação contrária.
“Não há aventureiros aqui. Todos devem andar escoltados, não por mero capricho como alguém pode pensar, pois, o desejo de um motorista, por exemplo, pode não ser de todos que estão na sua viatura. A nossa missão aqui é garantir que as pessoas e bens cheguem ao seu destino em condições seguras, sem sofrer danos nem derramamento de sangue”, explicou Samuel Maculuva, Sargento Principal da Força da Guarda Fronteira.
Explicou que aquelas viaturas que são tidas de aventureiras que, em algum momento, chegam quinze a vinte minutos depois da coluna partir, tal situação, muitas vezes, surge como consequência da avaria da viatura, condicionando que as que vêm a seguir não tenham possibilidade de acompanhar a coluna na velocidade que se recomenda.
“Temos feito muito para que não haja indisciplina na arrumação das viaturas, bem como na circulação. É proibido fazer ultrapassagem ao longo da coluna, a velocidade é moderada, portanto, exigimos disciplina e ordem aos automobilistas para a segurança de todos, sobretudo para que não haja acidentes de viação. Mas, infelizmente, nem sempre conseguimos evitar acidentes, ocorrem acidentes provocados por motoristas que consideramos desordeiros”, sublinhou Samuel Maculuva.
Rodrigues Carlos, fazendo trajecto cidade de Quelimane/vila de Nova Mambone, conduzindo uma camioneta de marca Isuzu, foi um dos automobilistas que no dia 19 de Fevereiro corrente, na primeira coluna, Muxúnguè/Save, chegou ao posto de fiscalização de Save, ainda do lado da província de Sofala, cerca de 30 minutos depois da chegada da coluna. À sua traz vinham mais de dez camiões. Explicou que viajou fora da escolta porque um camião de grande tonelagem que ia à sua frente tinha problemas mecânicos e dai a fragmentação da coluna.
Por seu turno, Mustafá Mussagy, um dos assíduos utilizadores daquele troço por imperativos de negócios, disse que embora haja medo por parte dos utentes, nos últimos quinze dias, reina alguma tranquilidade porque parece que os consensos no diálogo já se reflectem no terreno.
“Por favor, que não haja mais sangue nesta estrada. Queremos viajar livremente. O medo ainda não acabou. Embora os ataques na EN-1 só se registam nesta zona, temos medo de andar um pouco por todo o país. Circulamos de dia e de noite pelo resto do país por necessidades inadiáveis, mas queremos segurança em todo Moçambique. Actualmente, quem pensa em viajar da Beira tem que fazer contas de dois dias, e para Quelimane saindo de Maputo são três dias, pernoitando em condições deploráveis, o que representa mais custos. Por isso mesmo queremos que prevaleça bom censo no diálogo entre o Governo e a Renamo e que o entendimento político conseguido seja a principal alavanca para o restabelecimento da ordem e segurança públicas”, implorou aquele automobilista.
QUE A CALMA VENHA PARA FICAR
Utentes da Estrada Nacional Número Um, desejam uma estabilidade duradoira naquela secção, para que o país volte à normalidade no que tange à ligação rodoviária entre sul, centro e norte, pois, segundo defenderam, Moçambique é uno e indivisível.
Para a irmã da caridade da paróquia do distrito de Guro, Rosália Paliczka, a única via para que a livre circulação de pessoas e bens em todo território nacional se processa numa calmia e segurança necessárias, é a consolidação dos consensos que caracterizam o diálogo do “Joaquim Chissano” rumo ao fim da instabilidade político-militar.
Irmã Rosália que estava à espera da primeira coluna Save/ Muxúnguè no dia 19 de Fevereiro corrente, disse que optou pela via terrestre porque não dispunha de recursos financeiros suficientes para viajar via aérea.
“Como eu está esta moldura humana a passar por este sofrimento. Estamos aqui desde ontem à noite, não podemos continuar com a nossa viagem sem escolta militar, independentemente da pressa que tivermos, dependendo dos assuntos que cada um vai tratar. Temos que passar por este ritual da coluna porque só assim é que viajamos com alguma segurança”, disse.
Aquela freira acrescentou que só o diálogo é que pode trazer o país de volta na rota do desenvolvimento, daí que os entendimentos que chegam da sala de conferências Joaquim Chissano produzam uma paz duradoira e que esta relativa calma seja efectivamente um dos sinais dos consensos.
“Vinte e um anos depois do fim da guerra, o nosso país teve grandes progressos no que diz respeito à reabilitação da sua economia, mas em cerca de um ano, regredimos cerca de dez anos, portanto, somos todos moçambicanos, temos capacidade para sentar à mesma mesa e resolvermos as nossas diferenças, daí que o aguardado encontro entre o Presidente da República, Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dlhakama, sejam o culminar do já considerado longo e sinuoso caminho de diálogo entre as duas delegações em curso desde o ano passado.
Para Luís Raul Vilankulo, encarregado da empresa de transporte de colectivo de passageiro Inter-provincial, a situação político-militar está a por em causa os investimentos nacionais e estrangeiros para vários sectores da economia do país.
“Veja só, nesta coluna há apenas dois autocarros. Isto significa que o transporte de passageiros reduziu muito porque as pessoas têm medo. Mesmo assim, estes dois autocarros não estão cheios. No meu, por exemplo, não tem mais de 20 passageiros e isso, em termos de produção, não representa quase nada, ou seja, gastamos mais pela viagem do que ganhamos. O dinheiro que produzimos não chega sequer para pagar as despesas de operação da empresa e muito menos para pagar os nossos salários. Como exigir o patrão para pagar salários se todos vemos que não produzimos dinheiro? Portanto, é necessário que esta estabilidade que se vive nestes dias seja para sempre porque queremos relançar a nossa economia. Chega de mortes e destruições”, deplorou.
VICTORINO XAVIER
NOTÍCIAS – 27.02.2014