ONDE está o líder da Renamo, Afonso Dhlakama? Manuel Joaquim Gimo, guerrilheiro da “perdiz” recentemente capturado em Joacane, distrito de Morrumbene, em Inhambane, responde sem rodeios: está na Serra da Gorongosa, em Sofala.
Gimo acrescenta que desde que as Forças de Defesa e Segurança tomaram a base de Santugira, em Outubro do ano passado, Afonso Dhlakama partiu em debandada para as colinas da Gorongosa, lugar a partir do qual comanda as operações militares desencadeadas pela Renamo no centro do país.
Manuel Gimo foi capturado na passada sexta-feira juntamente com outros quatro guerrilheiros, nomeadamente Alexandre João Agostinho, Alberto João Calenga, Albertino Arriscado Chapenga e Felizardo Ângelo Muchanga, na posse de quinze armas de fogo do tipo AKM e respectivas munições. Eles faziam-se transportar numa camioneta quando foram neutralizados pela Polícia, após uma troca de tiros da qual não houve registo de danos humanos nem materiais.
As armas e respectivas munições tinham como destino a cidade da Maxixe. As mesmas estavam escondidas de entre vários sacos de milho e farinha.
Manuel Gimo disse que a operação era coordenada pelo líder da Renamo. A ideia, segundo contou, era a retirada dos guerrilheiros que se encontravam na Serra da Gorongosa, com todo o seu arsenal, com destino a Gombeza, posto administrativo de Canda, para se juntarem ao comandante John Augusto para novas missões.
Referiu que a partir da Gorongosa Afonso Dhlakama acompanha o curso dos acontecimentos em Maputo e, não obstante os avanços registados no diálogo político entre o Governo e a Renamo, nunca desistiu de reorganizar os seus homens e planear ataques contra alvos civis e militares.
Antes da sua detenção Gimo vivia na cidade de Dondo, na província de Sofala. Durante a guerra de desestabilização combateu em Cheringoma durante cinco anos. Contou que no dia 19 de Fevereiro, em visita familiar no distrito de Nhamatanda, recebeu uma chamada telefónica do coordenador da segurança da Renamo, Manuel António, instando-o a preparar se para novas missões.
“Saí de Nhamatanda, na companhia de Manuel Lole, antigo deputado da Assembleia da República, com destino a Gombeza. Aqui juntamo-nos a um grupo de dez homens armados e partimos para um destino que não nos foi dado a conhecer”, contou.
Referiu que chegados a tal lugar pouco tempo depois estacionava um camião de marca Mitsubishi, com a chapa de inscrição AAZ 386 MC, conduzido por Marcelino Samuel Baraja.
Na verdade, frisou o interlocutor, este carregamento de armas tinha como destino a cidade de Inhambane, onde deveria ser entregue a um indivíduo cuja identidade não foi revelada. Gimo ia interagindo com o tal indivíduo via telefone celular. Trata-se, porém, de uma operação não finalizada, conquanto o grupo caiu nas malhas da Polícia.
CAÍDOS NA EMBOSCADA
Entretanto,o comandante da Polícia na província de Inhambane, Raul Ossufo Omar, disse ao “Notícias” que a sua corporação conseguiu neutralizar o grupo no quadro da sua mobilidade e mercê da colaboração dos conselhos comunitários e da população.
“Recebemos a informação de que havia viaturas a circular em plena EN1 transportando material de guerra em direcção a Maxixe. Soubemos ainda que os destinatários deste material estavam alojados algures nesta cidade desde o passado dia 30 de Janeiro e a partir daí acionámos o nosso plano operativo, que culminou com a neutralização do grupo”, contou.
A Polícia soube que Albertino Arriscado Chapenga, capitão, era o cérebro desta operação e que juntamente com Felizardo Muchanga, tenente, tinham a missão específica de receber a “encomenda”. Refira-se que Muchanga foi durante a guerra de destabilização ajudante de campo do comandante Triste, que chefiou o ataque a Homoíne no dia 19 de Julho de 1987.
Ao interpelar o camião transportando o material de guerra, na zona de Manhala, a cerca de dez quilómetros a norte da cidade da Maxixe, a Polícia solicitou que Gimo telefonasse aos destinatários daquele material, que alegava não os conhecer. Nessa ocasião Albertino Chapenga e Felizardo Muchanga entram em contenda com a Polícia na cidade da Maxixe. Ambos põem-se em fuga, tendo sido capturados no controlo policial de Zandamela, distrito de Zavala, quando se dirigiam a Maputo.
Muchanga, tido como desaparecido da sua zona de origem em Catine, onde desempenhava as funções de delegado político da Renamo, não consegue explicar o seu envolvimento nesta operação.
Este faz-se passar por comerciante na sua zona, algo que esconde as acções maléficas. Quando a base de Catine foi tomada pelas Forças de Defesa e Segurança Muchanga refugiou-se na cidade da Maxixe. A partir daqui continuou a manter contactos com a chefia da Renamo quer em Maputo como em Gorongosa. Sob sua guarda havia um esconderijo de armas desmantelado pela Polícia em meados do ano passado na região de Manheze, posto administrativo de Pembe.
FORTALECER O CONTROLO
A circulação de armas de fogo e outros artefactos militares começa a preocupar alguns sectores da sociedade na província de Inhambane, que vêem neste facto um perigo à paz.
Tais sectores defendem o reforço do controlo de pessoas e bens e ainda a necessidade de prestar atenção a algumas actividades desenvolvidas por determinados sectores, sob o risco de tornar a província fértil em esconderijos de armas de guerra.
Manuel Gimo explicou que Inhambane tem sido o destino de várias armas pertencentes à Renamo. Mas referiu-se também a outras províncias, tais como Sofala, Tete e Nampula, que albergam não só contingentes de homens armados como também diverso material bélico.
“Estes homens estão a ser fortemente armados à espera de novas ordens a serem emitidas depois dos resultados das eleições legislativas e presidenciais e das assembleias provinciais marcadas para 15 de Outubro no país”, disse o antigo guerrilheiro.
Manuel Gimo diz-se disposto a colaborar com a Polícia e com outras autoridades para que todos os esconderijos de armas pertencentes à Renamo sejam desactivados e também para que outros colegas seus que se encontram nas matas se apresentem às autoridades, renunciando o uso da força. Até porque, segundo disse, muitos desses colegas perderam a juventude no mato e precisam agora de gozar alguns dias junto de familiares no campo ou na cidade.
“O nosso presidente, Dhlakama, também já não está em condições de fazer guerra. Está com muitos problemas. Os seus guardas não recebem há meses e certamente que estão cansados da guerra e desmotivados”, disse Manuel Gimo, acrescentando que as acções de limpeza levadas a cabo pelas Forças de Defesa e Segurança e a captura de diverso material bélico pertencente à Renamo constituem autêntico golpe às pretensões de Dhlakama de desencadear um novo conflito armado em Moçambique depois das eleições gerais de Outubro.
VITORINO XAVIER
NOTÍCIAS – 25.02.2014