A recente morte de Vicente Ramaya, ex-gerente da dependência BCM Sommerschield, é entendida em certos sectores atentos da nossa sociedade como sendo mais uma vítima do dinheiro endemoniado roubado a mando dos seus chefes ao Banco Estatal.
É preciso reter que antes da morte de Vicente Ramaya assistimos o abate de Amade H. Jassat, só para citar algum exemplo, que também, nos círculos da imprensa escrita, a sua morte foi relacionada com negócios de agiotagem. Qual agiotagem?
Vamos fazer uma retrospectiva daquilo que foi o modus fasciendi que envolveu a fraude do BCM.
Os executor-mor da fraude Vicente Narotam Ramaya, em coordenação de ideias com os seus superiores hierárquicos, todos em conjunto, urdiram um plano maquiavélico e tenebroso para retirar fundos dos cofres do Banco Comercial de Moçambique. Em que consistiu esse plano?
Os mentores-autores capturaram cheques de algumas entidades empresarias e pessoas singulares nomeadamente Eliseu Langa, Rui Manuel Pagoxo, Brito Augusto Companhia, Isaltina Caldino Damas, Chenaz Banú Arum e Chandling International. Estes cheques haviam sido emitidos pelo Banco mas nunca chegaram às mãos dos seus legítimos destinatários.
Com os cheques na sua posse, os mentores-autores, visaram os cheques em nome dos seus legítimos donos, sem o conhecimento nem envolvimento destes, e procederam a entrega dos referidos cheques a Assalm Abdul Satar.
Este, na posse dos mesmos, provisionou as sete contas domiciliadas no balcão da Sommerschield, nomeadamente a sua conta pessoal, a do Momad Assif, a do Yasser Mahomed, a do pai e a da mãe, a do seu empregado Henrique Cruz e a da sua empresa Armazéns Continente. De notar que em todas as contas Asslam Abdul Satar era procurador com direito a assinatura, excepto a de Yasser Mahomed e Momad Assif.
Com as contas provisionadas iniciou o longo processo do saque dos valores que consistiu no pagamento fictício a terceiros, ora beneficiários, a saber, Amad H. Jassat, Yacoob Lunat e sua esposa, Afzal Câmbios, entre outros comerciantes da praça.
A operação tinha que correr desta maneira porque no período em que ocorre a fraude, havia problemas de liquidez. Basta recordar que para se levantar 50.000,00 MT tinha que se ficar um dia inteiro no Banco. Por isso, os beneficiários precisariam de muito tempo, muitos meses, para poderem captar os fundos que nominalmente foram subtraídos fraudulentamente para chegarem as mãos dos mentores e dos autores materiais.
Quando a fraude despoletou a família Satar teve que abandonar o País e, de fora, não paravam de implorar aos beneficiários para fazer chegar o dinheiro. Os beneficiários fizeram chegar o dinheiro a apenas os Administradores do Banco porque mesmo com a fuga dos autores (executores materiais), os beneficiários precisavam dos Administradores por causa da falta de liquidez dos bancos.
Foi assim que um famoso administrador comercial começou a vender diariamente dólares ao arrepio de todas as normas aos beneficiários da fraude.
Estas operações de fornecimento de dólares as casas de câmbio, era para permitir que a fraude se consolidasse e consequentemente os mentores recebessem a parte que lhe cabia. A mesma sorte não coube aos executores ora foragidos.
Por isso, no desespero, Momad Assif resolve regressar ao País para se entregar as autoridades.
A vinda de Momad Assif ao País foi objecto de muita oposição por causa do pseudo-assistente do Banco, Dr. Albano Silva, esposo da então Ministra das Finanças Luía Diogo, que entretanto entrara em cena a mando dos mentores-autores para branquear a imagem deles e sacrificar o peixe miúdo.
Começaria assim uma odisseia processual que é aquilo que toda a gente viu e assistiu: uma autêntica encenação e pura palhaçada graças aos dinheiros distribuídos e sacados fraudulentamente do BCM.
A escolha do causídico Albano Silva não foi por acaso. Tinha a ver com a aposição que a esposa ocupava na governação do País, que permitiu que o dinheiro roubado fosse pago pelo Estado sem o julgamento prévio da fraude.
Este pagamento foi ordenado por Luísa Diogo e constituiu o seu marido, pseudo-advogado Albano Silva, como advogado do Banco, a quem foram pagas somas avultadas em dólares, a troco dos seus “serviços”. Quer dizer, a Sra. Luísa Diogo retirou dinheiro dos contribuintes usando e abusando da sua posição no Governo, para permitir que o seu marido amealhasse avultadas somas de dinheiro e este, por sua vez, protegeu os mentores da fraude, fazendo incidir as culpas todas no “peixe miúdo” como o Vicente Narotam Ramaya.
Os autores materiais foram condenados e, já cumprindo a pena, não tinham mais nada a perder e começaram a pressionar os valores com correcção monetária com ameaças e nalguns casos com raptos.
Entre esta súcia de malfeitores que envolve Administradores, beneficiários de alto quilate que com o dinheiro do roubo multiplicaram e fizeram indústrias e os executores materiais, começou uma guerra pública que afectou e afecta a imagem do País com grandes repercussões no investimento e na fuga de capitais.
Esta guerra só começou e esperemos para ver o que vai acontecer.
Mas não podemos deixar de nos perguntar como é que uma figura como a Luísa Diogo que não hesita em deitar mão ao dinheiro dos contribuintes, isto é ao nosso dinheiro, para enriquecer indirectamente e proteger criminosos, como é que esta figura, dizia, pode hoje reclamar a sua elegibilidade para o cargo de Presidente da República?
O que aconteceria ao nosso País se esta figura fosse guindada ao mais alto cargo da magistratura da Nação, se só por ser Ministra das Finanças se julgou no direito de por sua única e exclusiva decisão, pagar dívidas criminosas sem julgamento e sem mandato de nenhum Juiz? Quem lhe outorgou esse poder? Que mais fará se o seu poder aumentar?
(Recebido por email)