Por John Hughes, da AIM
Um investigador para a área de segurança aérea, enviado pelo Departamento do Estado dos EUA para reportar sobre o acidente de viação ocorrido em 1986 e que que tirou a vida do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, confirma que o extinto regime do apartheid na Africa do Sul tinha um sistema de rádio-navegação móvel, que poderia ter sido usado para desviar aviões do seu plano correcto de voo.
Num contacto estabelecido com a AIM, o investigador, Dr. Alan E. Diehl, manifestou o seu desejo de ver uma investigação conduzida, por exemplo, por um órgão independente como as Nações Unidas, para apurar se a causa que teria originado o despenhamento do avião de Samora Machel, uma aeronave de fabrico russo do tipo Tupolev 134, não seria um crime contra a humanidade.
Samora Machel foi assassinado quando o avião Tupolev no qual seguia a bordo colidiu na região montanhosa de Mbuzini, em território sul-africano, próximo da fronteira com Moçambique a 19 de Outubro de 1986.
O antigo estadista moçambicano regressava à capital moçambicana depois de participar numa cimeira na cidade zambiana de Mbala quando, inexplicavelmente, o avião desviou-se da sua rota normal, afastando-se de Maputo em direcção às montanhas dos Libombos.
Acredita-se que o avião de Samora Machel teria sido desviado por um sinal pirata de radio-navegação (VOR Very High Frequency Omnidirectional Range) operado pelo exército do antigo regime do apartheid.
Por isso, em Janeiro de 1987, as autoridades norte-americanas enviaram o Dr. Diehl à Africa do Sul para tentar apurar as causas da morte do Presidente Machel e das outras 34 pessoas naquela noite fatídica.
Trabalhando disfarçadamente, a sua missão era de assistir os investigadores de segurança área sul-africanos e de reportar ao seu governo sobre a veracidade das alegacões de que Machel teria sido assassinado.
Diehl disse a AIM que o Departamento de Estado dos EUA estava particularmente interessado em saber se haveria uma ameaça contra a vida do presidente norte-americano, Ronald Reagan, no caso de ser verdade de que Samora Machel havia sido assassinado.
Aparentemente, as autoridades americanas temiam uma eventual tentativa contra a vida de Reagan como retaliação.
O Dr. Diehl é um perito detentor de vários prémios sobre segurança aérea e cujas responsabilidades incluíam a formação da tripulação “Air Force One”, avião presidencial dos EUA.
Durante a sua estada na África do Sul, onde permaneceu duas semanas, Diehl recebeu um informe dos governos sul-africano e norte-americano, bem como teve a oportunidade de

Com base nessa informação, Diehl acabou concluindo que a tripulação do avião do Presidente Samora havia cometido erros crassos que, em parte, poderiam ter sido cometidos devido a má concepção do desenho do equipamento do cockpit instalado no Tupolev associados a fadiga mental resultante de uma longa espera debaixo do calor tropical que se fazia sentir na Zâmbia antes de iniciar o voo de regresso.
Contudo, a sua opinião mudou pouco antes do fim da sua estada, depois de se envolver numa discussão delicada com um membro sénior das autoridades da aviação civil da África do Sul. Na ocasião, Diehl perguntou sem rodeios sobre a localização da unidade móvel do VOR da Africa do Sul.
Eu poderia dizer que ele estava extremamente nervoso quando eu perguntei o seu paradeiro.
No seu livro publicado recentemente e intitulado Air Safety Investigators: Using Science to Save Lives - One Crash at a Time, (tradução literal em português, Investigadores de Segurança Aérea: Usando a Ciência para salvar Vidas Um Acidente de Cada Vez) Diehl afirma que eu sabia que quando um VOR precisa de ser reparado é colocado temporariamente um transmissor portátil junto a unidade original. Este VOR móvel depois transmite sinais na mesma frequência enquanto decorre a reparação de forma a permitir a continuidade da navegação aérea.
Teoricamente, um VOR potente poderia ter sido usado intencionalmente para enganar pilotos incautos, acrescentou.
Ciente das alegacões de que o avião teria sido desviado por um falso sinal de rádio da sua rota normal para Maputo em direcção às montanhas, ele perguntou directamente a um oficial sénior que respondeu que na altura estava nas mãos da polícia.
Diehl cita um funcionário como tendo dito que na noite anterior ao acidente, este VOR estava a ser transportado por um camião do departamento da aviação. Infelizmente, algumas das luzes do camião estavam inoperacionais. Quando foram interpelados pela polícia, os agentes insistiram que o camião com o VOR fosse conduzido a um parque onde permaneceu vários dias.
O nome do agente da polícia, bem como outros apontamentos recolhidos na altura foram incluídos no relatório de Diehl e que foi entregue ao Departamento de Estado dos EUA.
Agora, Diehl deseja que as Nações Unidas ou um outro órgão internacional similar investigue a morte de Samora Machel e de outros passageiros que seguiam a bordo, afirmando que isso bem poderia ter sido um crime contra a humanidade e requer uma investigação total. Espero que o Departamento de Estado dos EUA disponibilize o meu relatório às autoridades de investigação.
Ademais, essa informação deverá ajudar a responder aos apelos de Graça Machel e de outros cidadãos na África Austral que há muito desejam um explicação para esta tragédia.
Algumas pessoas duvidavam na altura da existência de tecnologia disponível para desviar um avião. Contudo, Diehl não só revelou a existência de um VOR móvel na África do Sul na altura do acidente, mas que estava nas mãos da polícia e que as autoridades da aviação civil estavam cientes de quão sinistro isso poderia parecer.
jhu/sg
AIM – 05.02.2014