XIPALAPALA por João de Sousa
O “flic-flac” é um movimento preparatório para acrobacias. O ginasta levanta os braços esticados ao mesmo tempo em que os seus pés deixam o solo, usando um grande impulso dos ombros. Pode ser executado para frente ou para trás.
Até há bem pouco tempo, os comentadores de rádio e televisão, que normalmente saltitam entre a Rádio Moçambique e a Televisão de Moçambique, STV e TIM, passaram a vida executando o “flic-flac” só para a frente.
Agora que os ventos sopram no sentido contrário aos seus desejos, torna-se difícil a este grupo de manipuladores de opinião justificar o injustificável. Os “spin doctors” estão agora num beco sem saída.
É que depois do flic vem o flac. E agora o salto (mortal) é para trás. Para quem ao longo do tempo se habituou a fazer o movimento apenas para a frente, muitas vezes de olhos vendados, fugindo duma realidade que se vê a olho nu, vai ser complicado fazer o exercício no sentido contrário. E mais difícil ainda vai ser contrariar a Assembleia da República sobre esta matéria. Decidiu, está decidido, para mal de muito boa gente. Mesmo sabendo-se que esta votação é contrária à decisão de Dezembro de 2012. Partidarizaram-se os órgãos eleitorais com direito a aplauso “por mais esta vitória da democracia”!
Alguns já começaram a efectuar exercícios de aquecimento. Só que esse preparo físico leva tempo e provavelmente muitos deles não sabem ao certo quando estarão aptos para fazer o “flac”.
Li recentemente um artigo publicado em 2010, da autoria de Gabriel Silva e que se encaixa perfeitamente no perfil daqueles que hoje são obrigados a fazer a rotação no sentido contrário. Uma das passagens do artigo refere que “é da natureza da actividade política que se tenha de fazer alguns compromissos e nem sempre se possa defender até ao fim o que se entende pessoalmente como melhor ou naquilo em que se acredita”.
Estes nossos analistas acreditaram cegamente que “paridade” ou “pacote eleitoral” eram palavras que não estavam no dicionário político do partido no poder e por isso mesmo nunca por nunca seriam consideradas.
Durante muito tempo, estes cérebros pensantes, de boa formação académica e que, segundo sei, até não são ingénuos, foram-nos impingindo estas ideias, com o intuito, dever ou obrigação de satisfazer quem tinha encomendado estas ladaínhas todas. Nós, pagantes, contribuintes, quanto mais não seja da taxa de radiodifusão, somos obrigados a engolir essas patacoadas de cada vez que fazemos o “switch on” do nosso rádio ou televisor, nas chamadas “horas nobres”.
Como diz o Noé Nhantumbo, “aquela retórica triunfalista mediatizada e encomendada todos os dias, pariu um rato enorme, malcheiroso e indesejável”.
Paulatinamente o feitiço está a virar-se contra o feiticeiro. Como vão ficar agora estes “spin doctors” na fotografia? Acho que mal, muito mal.
PS: O Ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Gabriel Muthisse, referiu publicamente, a propósito do acidente aéreo com o Embraer das LAM, que não deve satisfações aos operadores aéreos nacionais mas sim ao público que o elegeu. Como assim, Sr. Muthisse?
Não sabia que ministro era eleito. Sempre pensei que era nomeado.
CORREIO DA MANHÃ – 26.02.2014