Comité Central começa a decidir hoje:
Os membros do Comité Central (CC) do partido Frelimo reúnem-se a partir de hoje até ao próximo domingo no derradeiro “conclave”, onde se joga o futuro do partido. É a mais importante reunião da Frelimo, nos últimos 10 anos, se tivermos em conta os últimos acontecimentos. Todas as facções que foram sendo criadas pelas guerrinhas internas jogam a sua última cartada. Manter o caos ou mudar? Eis a questão.
É uma reunião que acontece numa altura em que o partido tem experimentado níveis de impopularidade quase que olímpicos, com os últimos resultados eleitorais a serem a prova mais evidente, fiel e próxima. A forma como a actual direcção do partido conduziu o País atraiu mais críticas e apupos que elogios sinceros. Isso porque a dose equivocada de elogios que têm sido feitos nos últimos tempos fazem parte de um pacote de propaganda mal ensaiada, onde o tráfico de consciência assumiu-se senhora e dona do processo. Fala-se até de uma dotação financeira para suportar os custos dos elogios feitos em órgãos de conveniência a uma governação arrogante e desastrosa. Cada alma tem seu preço. E o dinheiro – diz-se – jorra nos “generosos” bolsos do diabo!
A reunião acontece numa altura em que começa a ser consensual entre os moçambicanos que o partido Frelimo é bem dispensável enquanto não se encontrar com o caminho da urbanidade e civilização.
A contestação interna atingiu também níveis jamais vistos, e num partido que – no lugar de institucionalizar o debate – privilegiou o abate, os recados e “encomendonas” foram sendo mandados a todas as freguesias até ao clímax.
O partido atingiu o nível de insustentabilidade, sendo a revolução interna a saída mais recomendável. Esta quarta-feira, o porta-voz do partido, Damião José, traçou o guião do que formalmente vai acontecer, sendo a apresentação de outras pré-candidaturas o momento mais importante em termos programáticos.
São duas as facções que lutam pelo poder. A ala do antigo estadista Joaquim Chissano, que se sente ostracizada, e a ala da situação, personificada em Armando Guebuza, que a todo o custo quer continuar a ser o “Gueus de todos”! Os candidatos de Armando Guebuza e seu grupo já são conhecidos. O actual primeiro-ministro, Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura, José Pacheco, e o ministro da Defesa, Filipe Nyussi. E nestes pré-candidatos há que reconhecer a capacidade de Guebuza de inventar coisas e factos. Guebuza e seu grupo inventaram estes candidatos que foram sendo comentados pela negativa até por crianças. Se de facto Guebuza é construtor como sói dizer-se, uma das suas obras que ficará na história são os pré-candidatos.
Do outro lado está a facção desesperada em reconquistar o poder e o respeito que foi perdendo com a nova filosofia do partido, implementada por Guebuza. Perfilam neste particular: Eduardo Mulémbwè, Luísa Diogo, Aires Ali, incluindo Eneas Comiche.
Eneas Comiche passou a ser tido como não elegível porque o debate reduziu-se à proveniência dos membros. “É a vez dos naturais do centro ou norte”, diz-se.
Mas há também um outro ponto muito crítico, tirado do caderno de encargo apresentado pelos antigos combatentes congregados na ACLLN, no último sábado. É a reestruturação do Secretariado do Comité Central. Aqui também se pode saldar em “lágrimas” e “ranger de dentes”, descritos nas sagradas escrituras. É quase que certo que o actual secretário-geral, Filipe Paúnde, fiel executor das ordens de Guebuza, não sobreviva. Mas como quem fala de reestruturação sugere substituição, Edson Macuácua, porta-voz de Armando Guebuza, também pode não sobreviver. São estas indefinições que fizeram o dia de ontem muito agitado e o mercado negro do voto também quase que cotado em bolsa.
No meio de tanta indefinição, há certezas. Uma delas é que a Frelimo nunca será a mesma depois desta reunião. E as lutas entre as facções, para além de fazerem as suas inevitáveis vítimas, têm o positivo condão de trazer opções aos membros: ou a Frelimo muda, ou os seus simpatizantes mudam.
E nesse aperto de opções também se sugere: ou os membros abraçam eloquentemente o caos e o partido afunda-se ainda mais, ou abraçam alternativas de mudança e salvam a organização.
E dependendo das escolhas a serem feitas, ficaremos a saber se a Frelimo recupera a denominação: “grande partido,” com métodos civilizados, ou acelera a sua actual condição de um “partido grande”, onde cabem todas as espécies do caos e do irrecomendável. (Matias Guente)
CANALMOZ – 27.02.2014