Sem perder tempo, o diálogo governo/Renamo já está a abordar o pacote relativo às Forças de Defesa e Segurança, onde está inclusa a proposta da desmilitarização do maior partido da oposição. É provável que a Renamo não dê o braço a torcer…
A teoria de que a Renamo terá de recuar em muitos pontos, imitando o governo na questão do pacote eleitoral, está posta de lado nesta matéria relativa à desmilitarização do maior partido da oposição.
Nas últimas semanas, elementos da Frelimo/governo têm defendido um posicionamento “mais responsável” por parte da Renamo quando entrar em debate – já decorre desde ontem - a questão da desmilitarização do antigo movimento rebelde. Isto lembrando a cedência encetada no tema eleitoral.
Mas nas hostes renamistas a ideia que prevalece é de que o governo não cedeu tal como a Renamo pretendia, i.e., a paridade muitas vezes exigida não foi observada, dando lugar ao equilibrismo na nova composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Perante isso, a Renamo irá exigir, nas discussões sobre a desmilitarização, uma espécie de meio-termo, onde em vez de um contingente de 250 ‘seguranças’ dos dirigentes do partido, com destaque para Afonso Dhlakama, este número baixe para os 200 ‘seguranças’ com direito a acesso ao equipamento militar.
Consta, pois, que a delegação da Renamo no referido debate com o governo, vai-se bater firme neste aspecto, até porque o governo não recuou o suficiente, conforme as exigências do partido.
As fontes do ET alertam que a Renamo não será desmilitarizada nos moldes que têm sido propalados a torto e a direito.
De boca fechada
A nova ronda relativa, particularmente, à desmilitarização da Renamo, iniciou ontem com duas grandes novidades. A primeira, a mudança repentina do local do frente-a-frente entre o governo e a Remano.
Do Centro de Conferências Joaquim Chissano, onde aconteceram todas as sessões relativas à revisão eleitoral, passou-se, desde ontem, para uma das salas da Assembleia da República.
O ET sabe que a proposta para tal mudança veio da Renamo, provavelmente temendo eventual ‘escuta’ sobre as matérias em discussão entre as quatro paredes.
A segunda novidade tem a ver com o ‘boca fechada’ para consumo público atravez da comunicação social, que nem sequer tem sido informada sobre o mais elementar em torno desta questão, como o informe sobre as sessões, muito menos declarações após cada sessão.
Perante este novo cenário, está claro que se está perante um assunto sensível o qual não se admite qualquer fuga de informação.
No quadro do entendimento de Roma, em 92, as Forças Armadas (governamental) e a guerrilha (Renamo) foram desmobilizadas sob os auspícios das Nações« Unidas. De imediato, foram criadas as Forças Armadas de Defesa de Moçambique(FADM), integradas por elementos propostos pelo governo e pela Renamo, em 50% cada.
As Nações Unidas supervisionaram a desmobilização das partes e a recolha das armas utilizadas pela Renamo durante o conflito, com excepção aos ‘seguranças’
de Afonso Dhlakama, 250.
Aparentemente, as antigas bases da Renamo foram desactivadas.
O facto é que não longe de onde as bases do ex-movimento rebelde existiam, nasceram aldeias, onde residiam os antigos guerrilheiros (desmobilizados) e suas famílias.
O governo nunca teve capacidade de controlo deste grupo, dirigido por um comando que actuava na clandestinidade, com a responsabilidade de manter o equipamento bélico escondido não muito longe das aldeias.
Nos últimos meses, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) reclamavam destruição de palhotas alegando tratar-se de bases da Renamo, bases essas que nem sequer existiam.
As FADM deixaram de constituir exército único, com a saída de grande parte dos elementos oriundos da Renamo, situação que precipitou os ânimos nas hostes renamistas.
EXPRESSO – 25.02.2014