É verdadeiramente surpreendente observar o posicionamento dos nossos contemporâneos portugueses, no regime democrático em que vivemos.
Poder-se-á dizer que são como verdadeiros adeptos de clubes de futebol? Sempre defendendo os seus Partidos até à morte? Ou melhor, poder-se-ia falar de verdadeiros homens perdidamente apaixonados pelas suas esposas? Não importa que venham a saber das suas infidelidades, dos filhos que possam aparecer sem serem seus. Tudo perdoam, olham para o lado, quanto mais não seja, sempre com a esperança de que tenham sido as ratoeiras da vida, aquilo que fez perder a cabeça às suas adoradas.
Não importa que a história relate a completa bancarrota da 1ª república do seu país, em que nem as Nações Unidas lhe emprestavam um tostão sequer. Não importa que, tendo a 2ª república herdado um país assim, o tenha transformado e tornado sólido financeiramente, em 40 anos. Não importa que a história lhe mostre a sua 3ª república novamente na bancarrota, 38 anos depois de ter recebido a Nação naquelas prósperas condições.
É verdadeiramente assombroso, como pode um povo ser capturado no seu entendimento, por uma propaganda com uma só palavra: o socialismo. Capturado mais ainda, por um bem-estar social que veio a ser oferecido por grupo, construído à volta dessa mesma ideia.
Deram-lhe estradas, portos, aeroportos, escolas, hospitais, empregos, reformas, lojas, shoppings, acesso fácil à compra de casas, de carros, de viagens pelo estrangeiro, regalias e direitos…, muitos direitos, assentes como adquiridos definitivamente, sem que houvesse sustentáculo real na base.
E ninguém achava estranho, nem se interrogava. Só aplausos, satisfação, e votos políticos para quem tudo lhes dava, sem querer saber da sustentabilidade para tudo isso, só recordando os 40 anos de duros sacrifícios por que passaram.
Agora, a nação acorda estupefacta com a menina dos seus olhos a dizer-lhe cruamente, que só tem dinheiro para mais três meses de vencimentos. Por outro lado, são os credores internacionais que pressionam para receber os juros e o dinheiro sem conta que emprestaram durante todos esses anos. A dura realidade vem dizer que foram hipotecadas não só as suas vidas, como também a dos seus filhos e netos, para que pudessem ter desfrutado de tanta riqueza e mordomias.
Mas é um povo, já sem vontade própria, que volta novamente a acreditar na menina dos seus olhos, que agora lhe demonstra, que a culpa de tudo não é deles, mas sim, dos credores, da célebre troika, e do governo que agora é obrigado a sanear as contas publicas, e tem que pedir ao povo para apertar o cinto.
A sabedoria popular diz que as árvores se conhecem pelos seus frutos. O fruto que se colhe agora tem a proveniência na menina dos seus olhos. Mas só dela? Onde estão os valores deste nobre povo, nação valente, heróis do mar, que deu novos mundos ao mundo? Capturado no relativismo dos seus tempos, está incapaz de discernir o bem do mal, deixou de ter a capacidade de pensar. Está refém da menina dos seus olhos.
E o dilema está em que, não é capaz de entender que a menina dos seus olhos, não é menina nenhuma. Na verdade é uma velha, muito velha, com chapéu alto e bicudo, e de abas largas. O seu nariz é adunco, tem um olho de vidro, e as suas unhas são compridas como garras. Cavalga agora na vassoura que sempre teve, pelas autoestradas da sua sustentação, soltando em voz alta e estridente, os seus hi..,hi..,hi.., de satisfação.
Para onde caminhará Portugal?
João Maria Neves Pinto