Pensamento de Adelino Buque
Terça-feira, 18 de Março, como é habito, abro o Correio da manha que leio com prazer, eis que chego a pagina nº 4 e encontro a habitual crónica de Machado da Graça, na rubrica, “Marco do Correio”. Desta vez, endereçado ao seu amigo Manuel.
Nesta crónica, Machado da Graça explica as razões que o levam a ser crítico em relação ao Partido Frelimo, de quem se diz, ter sido apoiante fervoroso em tempos. Para o meu amigo Machado da Graça a razão é muito simples como explica ele “é que sou adepto de conteúdos e não de rótulos”. Para que o Manuel compreenda melhor esta inserção dá-lhe um exemplo “para te dar um exemplo pensa numa pessoa que é grande apreciador de um bom Whisky Velho. Só que, em dado momento, alguém aproveitou uma garrafa vazia de Whisky Velho e encheu-a de tentação, ou de Rhino ou de qualquer outra dessas bebidas de fabricação local. Independentemente das qualidades que essas bebidas possam ter, é muito provável que o apreciador do Whisky Velho, ao provar o novo líquido não goste. Possa até cuspi-lo da boca”. Pois comigo e com o Partido Frelimo passou-se coisa semelhante”.
Curiosamente, no jornal Domingo de 16 de Março de 14, na rubrica “Assombrações”, de Kandiane Wa Matuva Kandia, li um retrato sobre um Machado da Graça igualmente fervoroso do Partido Frelimo. Na opinião daquele, este não olhava os meios para atingir os seus fins, chegando a passar por cima de vários conceituado jornalistas da praça de reconhecido mérito para agradar a liderança na altura e, tudo parece mudar como efeito da queda do avião presidencial em Mbuzine. Esta é minha dedução.
Ora, a explicação do Machado da Graça em relação a sua militância na Frelimo vem a corroborar com aquilo que Kandiane escreve que em dado passo diz “às vivas a Frelimo, Machado respondia com as duas mãos e as pernas”.
Cito de memória mas, por aquilo que é público, os dirigentes actuais da Frelimo são os mesmos de ontem, com algumas alterações na liderança, com a morte do Presidente Samora Moisés Machel e a entrada do sistema multipartidário que obriga a eleições directas e periódicas na liderança do país e o sistema descentralizado da economia ou seja economia de mercado.
Por aquilo que é do domínio público, apesar de que, o sistema multipartidário tenha entrado por imperativos do Acordo Geral de Paz em Moçambique, muitos países com mesma orientação social e económica que Moçambique também introduziram este modelo quer político quer de economia e, há quem diga que hoje é impossível viver-se ao lado deste sistema. Aliás, os dados internos indicam que a orientação para a liberalização económica entra com o beneplácito do Bureau Politico do Partido Frelimo, sob liderança do Presidente Samora Moisés Machel, quando adere ao Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial. Eu mesmo me lembro de ter estudado as teses creio da IV Sessão do Comité Central do Partido Frelimo como estudante do Centro de Estudos Africanos que marca de forma clara e inequívoca a mudança do sistema económico, salvo erro nos finais de 198/5. Esta mudança e orientação económica e social não impediu e não impede à Frelimo, como Partido Politico, manter nos seus estatutos os ideais de justiça social, económica e de igualdade entre os Moçambicanos, ou seja, qualquer desvio de alguém que seja membro, por mais alto que seja o seu estatuto, não altera a essência do Partido, creio que, como adulto que é, devia saber que a militância nos partidos se faz pelos seus ideais e não pela simpatia com as lideranças, porque, essas passam e as instituições continuam.
Um dado interessante é que Machado da Graça é tão adepto do sistema pluralista de opinião e de expressão que era quase que proibido no sistema que diz ter sido adepto, este mesmo cidadão, hoje, fala mal da China tal como se diz que se falava no tempo de Salazar em Portugal mas, a China é comunista e agrega todos os valores que diz defender. Este senhor, hoje, é defensor daqueles que os rotulou de “bandidos armados” hoje, defende as suas acções como “legitimas”. Assim sendo, acredito que Machado da Graça nunca foi adepto de coisa alguma mas, adepto de si próprio!
CORREIO DA MANHÃ – 20.03.2014