"Eu fui rebuscar artigos sobre o massacre na net e descobri que uma testemunha denunciou inconscientemente os autores do massacre praticamente no dia seguinte!
É o agrónomo Holandês Mark von Koevering, que sobreviveu ao massacre escondido num hotel.
Ele disse a AIM na altura: "do princípio, pensei que eles (os guerrilheiros), fossem tropas governamentais de Homoíne porque tinham uniformes e estavam muito bem equipados. Eles estavam muitíssimo bem organizados" ("... because they had uniforms and were very well equipped. They were very well organized" ).
Só podiam ser tropas especiais estrangeiras! Como é que ninguém viu este detalhe?!"
In https://www.facebook.com/unay.cambuma?fref=ts
Agora vejam
3.3. O massacre de Homoíne
Muito se escreveu sobre o massacre de Homoíne. Os relatos e análises muitas vezes destacam a brutalidade dos homens da Renamo no assalto à vila sede de Homoíne.
O massacre de Homoíne registou-se no dia 18 de Julho de 1987 e, de acordo com dados oficiais morreram cerca 424 pessoas70. Os depoimentos de muitos dos nossos inquiridos ilustram a brutalidade do ataque da Renamo à vila sede de Homoíne. Luciano Zita, 49 anos de idade, cozinheiro do Hospital Distrital de Homoíne, conta que os militares da Renamo quando se introduziram no recinto do Hospital em particular na maternidade, foram batendo os recém nascidos contra as paredes, degolavam as senhoras grávidas e matavam as pessoas com facas, baionetas, etc.
Esta brutalidade é mais notória quando as pessoas contam como perderam os seus familiares:
" Perdi minha esposa por volta das dez horas da manhã, quando ela tentava ir para casa juntamente com a tia, saindo do cemitério onde estávamos escondidos. Ao atravessar a zona do campo foram abatidas a tiros e morreram ali mesmo. Nessa hora a situação era calma, o que fez muita gente sair dos esconderijos., só que todo aquele que fosse apanhado era morto ... os bandidos não perdoavam."7*
Sem pretender discutir questões táctico-militares, vamos salientar a falta de coordenação entre as tropas do governo estacionadas no distrito e os apoios que vieram de Maxixe em resposta à presença da Renamo no dia do ataque. Na verdade, e de acordo com o nosso trabalho de campo, o grau de dificuldades do exército governamental reflectiu-se na actuação descoordenada das suas tropas na resposta à presença da Renamo na vila sede de Homoíne, o que parece ter agravado o número de vítimas civis, sobretudo na zona das trincheiras localizadas à entrada da vila sede de Homoíne.
70Tempo, N°395, 1987:10
" Entrevista com Baptista Francisco, Empresário local.
Américo Casimiro, Secretário Distrital da Frelimo, quando questionado sobre o elevado
número de mortes, responde:
"...as tropas da Renamo mataram muito... mas também houve alguns excessos nos apoios militares vindos de Maxixe e das unidades dos Antigos Combatentes estacionadas na localidade de Chindjinguir, a 7 km da vila sede... a população escondida nos abrigos72 ao aperceber-se do barulho dos carros militares saiu à busca de socorro; só que as tropas abriram fogo indiscriminadamente, pois confundiu-as com os bandidos uma vez que estes também não estavam uniformizados. Para além disso, os Antigos Combatentes estacionados em Chindjnguir lançavam anilharia pesada para a vila sede do distrito..."
Segundo os relatos de muitos entrevistados, a maior parte dos civis que estavam escondidos à entrada da vila sede de Homoíne, depois do cruzamento para Lindela foram vítimas desta falta de coordenação, pois os efectivos militares vindos de Maxixe abriram fogo "indiscriminadamente" a partir de Mbembe.
No depoimento de Felisberto Pascoal, ex-militar em Homoíne, é possível encontrar um relato mais detalhado sobre a falta de coordenação entre os efectivos fixados em Homoíne e os apoios vindos de Maxixe.
" a propaganda de que a Renamo trazia um batalhão com centenas de militares, precipitou a actuação dos militares governamentais vindos de Maxixe, pois, logo que se aperceberam da presença de pessoas na zona das trincheiras, abriram fogo sem procurar saber se era o inimigo ou não. Porém, tudo era uma tentativa de salvar a população, mas que infelizmente muitos tiros podem ter atingido elementos da população".
Este ataque marcou o agravamento da guerra no distrito, pois muitos dos nossos entrevistados afirmam ter sido o maior ataque perpetrado pela Renamo na vila sede e também contribuiu para a desestruturação de grande número de famílias.
Na entrada da vila sede de Homoíne, um pouco depois do desvio que vai até ao Distrito de Lindela haviam uns abrigos das tropas governamentais nos quais muitos populares se refugiaram no dia do ataque.
In “CRENÇAS E TRADIÇÕES RELIGIOSAS NA GUERRA ENTRE A FRELIMO E A RENAMO, de Jonas Alberto Mabumane(2003) – UEM(Faculdade de Letras, Departamento de História) págs.32/33
Veja http://macua.blogs.com/moamb.../2007/05/homone_monument.html
NOTA: Agora reparem que para o agrónomo Mark von Koevering* os atacantes "tinham uniformes e estavam muito bem equipados(versão do Governo que afirmava ter a RENAMO rcebido material novo lançado por para-quedas) .
Mas para Américo Casimiro, Secretário Distrital da Frelimo "a população escondida nos abrigosao aperceber-se do barulho dos carros militares saiu à busca de socorro; só que as tropas abriram fogo indiscriminadamente, pois confundiu-as com os bandidos uma vez que estes também não estavam uniformizados."
Quem eram então os uniformizados?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
* Suponho que ainda Bispo Anglicano da Diocese do Niassa