O livro 'O Fim do Império', da autoria do jornalista português Ribeiro Cardoso, que se debruçou sobre o assalto ao Rádio Clube de Moçambique, hoje Rádio Moçambique, em 7 de Setembro de 1974, lançado em Fevereiro passado, em Lisboa, pela Editora Caminho, do grupo Leya, está à venda nas livrarias em Portugal,
Tra-se de uma história real que tem por fundo a descolonização de Moçambique, e que está centrada no 7 de Setembro de 1974, dia em que os brancos extremistas da então Lourenço Marques assaltaram o Rádio Clube de Moçambique, hoje Rádio Moçambique, na tentativa de impedir a promulgação dos Acordos de Lusaka.
Os Acordos de Lusaka foram assinados no dia 7 de Setembro de 1974, em Lusaka (Zâmbia), entre o Estado colonial Português e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento nacionalista que desencadeou a Luta Armada de Libertação Nacional, com o objectivo de conquistar a independência de Moçambique. Nestes acordos o Estado Português reconheceu formalmente o direito do povo de Moçambique à independência e, em consequência, acordou com a FRELIMO o princípio da transferência de poderes, ou seja, transferência da soberania que detinha sobre o território de Moçambique.
No âmbito dos mesmos acordos foi igualmente estabelecido que a independência completa de Moçambique seria solenemente proclamada no dia 25 de Junho de 1975, data que coincidiria, propositadamente, com o aniversário da fundação da FRELIMO.
O episódio sangrento do processo de descolonização é agora recuperado em livro pela Editorial Caminho, num trabalho do jornalista Ribeiro Cardoso.
O assalto ao Rádio Clube de Moçambique, em 1974, aconteceu após o estabelecimento dos acordos de Lusaka. Tais acordos, assinados horas antes por representantes de Portugal e da Frelimo, estabeleciam os mecanismos da transferência de poderes que levariam à independência de Moçambique o que certos brancos não aceitavam.
'O assalto à Casa da Rádio, que durou três longos dias, foi efectuado com a cumplicidade da Polícia e o desnorte das cúpulas das Forças Armadas portuguesas em Lourenço Marques, com António Sebastião Ribeiro de Spínola mexendo os cordelinhos a partir de Lisboa. Spínola foi
um militar e político português, décimo quarto presidente da República Portuguesa e o primeiro após o 25 de Abril de 1974 (Revolução dos Cravos).
O resultado foi trágico: largas centenas de mortos negros, algumas dezenas de mortos brancos, ódios raciais à solta, medo branco à flor da pele, uma descolonização envenenada', nota a sinopse de 'O Fim do Império'.
Em setembro de 1974, 'Lourenço Marques testemunhou um crime sem perdão que originou incontáveis mortos, na esmagadora maioria negros - graças à loucura e irresponsabilidade de um punhado de brancos que, sentindo o seu mundo de privilégios a ruir, se lançou numa aventura sem sentido, arrastando emocionalmente milhares de compatriotas que, desinformados e impreparados politicamente, naquele contexto eram presa fácil de qualquer patrioteirismo rasteiro', reafirmou esta terça-feira Ribeiro Cardoso, quando entrevistado por Mário Crespo, no jornal da Sic Notícias, das 21h00 de Lisboa (23h00 em Maputo).
O resultado foi, num primeiro momento, uma euforia balofa, difundindo via rádio desejos e boatos como realidades com os seus membros mais exaltados entregando-se, ao som do Rádio Clube de Moçambique assaltado, a uma autêntica orgia de sangue negro nas ruelas sem esgoto do caniço.
'O Fim do Império - Memória de um Soldado Português' foi lançado no dia 13 de Fevereiro, na Livraria Buchholz, em Lisboa, com a apresentação a cargo de Aniceto Afonso, do grupo Leya, detentor da Editorial Caminho.
A sinopse do livro lança uma análise sobre o que sucedeu em 1974: 'Talvez alguns dos brancos mais extremistas tenham então compreendido que nunca houve, nem podia haver, uma colonização justa e muito menos uma descolonização perfeita. Mas poderia ter sido bem melhor do que foi se não se tivesse criminosamente lançado gasolina na fogueira'.
O livro de Ribeiro Cardoso, numa edição com quase 400 páginas, está à venda, ao preço de 18,9 euros.
Ribeiro Cardoso nasceu no Porto, Norte de Portugal, em Maio de 1945. Licenciado em Filologia Germânica, é jornalista profissional desde 1971. Iniciou-se no Diário de Lisboa e foi sócio fundador do semanário O Jornal e redactor-fundador dos jornais O Diário e Europeu. Vencedor, em 1987, do prémio 'Gazeta', Ribeiro Cardoso integrou, ao longo de vários mandatos, os corpos sociais do Clube de Jornalistas e da Casa de Imprensa. Em 2011 publicou, na Editorial Caminho, o livro Jardim, a Grande Fraude.
DM
AIM – 12.03.2014