Por: Adelino Timóteo
Caro Ericino de Salema,
A tua análise (na rede social do facebook-10 de Abril de 2014) que imputa/relaciona a actuação do Canal de Moçambique como uma publicação fundada no “extremismo” peca por não abordar o contexto em que vivemos.
Gostaria de te lembrar que Moçambique vive uma guerra civil desde que a 3 de Abril de 2013, as tropas do Governo atacaram a sede da Renamo em Muxúnguê.
O Canal de Moçambique é o jornal que reportou em primeira mão o ataque da Renamo, a 4 de Abril de 2013, quando o País vivia a ignorância do que se passava em Muxúnguè. O Governo através da sua máquina propagandística e de controlo social, como aconteceu na guerra civil de 1976/1992, não tinha toda a imprensa sob o seu controlo, daí que os testemunhos do Canal de Moçambique e do director da publicação na STV não colheram a simpatia do regime, uma vez que vem desbaratar toda a encenação e esclarecer com detalhes os acontecimentos de Muxúnguè.
Foi na sequência dos acontecimentos de Muxúnguè, e outros que estavam em marcha, do controlo social, que o regime criou a famigerada instituição chamada G40.
Uma fase em que o G40 vem indexar toda as responsabilidades do que eles designam “crise político-militar” e da fraca popularidade de O Brilhante Camarada, com a actuação de jornalistas idôneos e responsáveis, como o Fernando Veloso, Fernando Lima, Salomão Moyana, cuja equidistância na abordagem de acontecimentos paralelos e transversais, reflexos da má governação e corrupção que enferma a pior governação que passou por este país depois da abertura democrática, mereceu dos porta-vozes epítetos como expatriados.
Caro Ericino de Salema, Indexar o Canal de Moçambique como um periódico “extremista” impõe a responsabilidade de olhar como está o país. O País não está só em guerra civil, como também vive uma grande desinformação. A transição na Frelimo é um cancro por extirpar. No decurso da guerra dos 16 anos, Marcelino dos Santos criou a designação “Bandidos Armados” e a Renamo como tal só veria a tona para muitos de nós na altura povo ignorante, analfabeto, sujeito ao controlo social, quando em Outubro de 1984 o regime assinou com a África do Sul uma declaração em que, entre outros pontos, pretendia o fim do apoio à Renamo.
Espero estar equivocado, mas a tua indexação não difere do que está em voga, sabendo que os mercenários do G40 estão na linha da frente na tentativa de lograr um difícil senão impossível “controlo social” e da imprensa, num quadro em que O Brilhante Camarada surge recambolescamente em negociatas que afectam a sua imagem. A posição do Canal de Moçambique tem sido a de denúncia à corrupção do maior corrupto que o país tem é que poucos têm a coragem de desmascarar.
É preciso olhar que numa altura em que os jornais e a comunicação social caíram nas mãos do controlo social exercido pelos G40, uma voz que fixa e vitupera a realidade como o caso do Canal de Moçambique, pode parecer desconcertada e destoada do âmbito do equalizador que o regime maneja na sua estratégia de garantir ao mundo que “o país caminha progressivamente rumo ao desenvolvimento” e a escalada da hecatombe que mata a muitos filhos deste país limita-se “a focos localizados” na região centro, fazendo vista grossa a existência de uma guerra civil que se alastrou ao sul e norte do país.
O amigo Ericino de Salema pode cair no ridículo com uma avaliação similar onde está em falta o factor contextual, pois a realidade é que a frontalidade do Canal de Moçambique opera irredutível e intransigentemente no contexto de nomenklatura cada vez mais rica, e que controla as instituições políticas e sociais estratégicas, tais como a mídia e o sistema financeiro, onde o silêncio e a crítica fazem-se por encomenda. Temos visto muitos dos nossos amigos de combate serem corrompidos.
É o modus operandi.
É parte do processo.
A identidade não se vende.
Independentemente de qualquer epíteto ou slogan não pretendemos ser “mais um jornal”, mas porta-vozes da maioria depauperada (sessenta por cento dos moçambicanos continuam na miséria absoluta enquanto um punhado enriquece através de comissões na compra de barcos, armamentos, obras públicas e prestação de serviços ao Estado).
Doa a quem doer, não vergamos.
Caro Ericino de Salema, bassopa! Pode ser que a rigidez do controlo social o tenha atingido e o apanhado em fragilidade a ponto de levá-lo a embarcar nesta análise.
A história absolverá o “heróico e glorioso” (os lambe-botas desculpem-me por recurso a estas palavras elementares) Canal de Moçambique!
Abraço!
Canal de Moçambique – 16.04.2014