(…) O acto principal não é o 25 de Novembro, como diz o CDS (…)
(…) quem pena com os excessos do PREC é quem não gostou do 25 de Abril. (…)
(…) Aquilo que se pretende mostrar na exposição foi que as instituições democráticas e a própria vitória da democracia, mesmo em relação aos protagonistas que eventualmente se batiam por outras soluções, foi construída durante esse tempo. (…)
Pacheco Pereira, no I, de 17-04-2014
Se alguém me contasse eu não acreditava. Estou a escrever este texto na qualidade de investigador da nossa História Contemporânea recente (ou de “historiador”, como me “rotulou” Fernando Rosas no dedicatória de um seu livro).
Há anos atrás já tinha ficado espantado com as utópicas ideias despendidas por este ilustre comentador.
Na altura, fiz a seguinte crítica:
(…) Depois, torna-se absurda a argumentação de Pacheco Pereira quando, em termos de patriotismo, mete no mesmo “saco” os “portuguesinhos valentes, tão capazes de uma heroicidade simples”, e os que constituíram a pequena minoria de refractários e desertores, como (acrescento eu) um político e historiador, que antes de fugir para o estrangeiro, ainda recebeu as ajudas de custo de embarque para África, ou um conhecido político e poeta, que esteve cerca de 10 anos na Rádio Argel a colaborar com quem nos combatia em África.
Considero estranha a comparação feita, sobre “esta natural proximidade”, que na sua opinião, “devia envolver os homens desses dois mundos, cada um patriota a seu modo”, e com maior razão para mim, educado pra defender a Pátria, que, na altura, considerava também ser constituída pelos portugueses residentes em África e que em grande número haviam sido vergonhosamente massacrados. Recordo que um jornalista inglês, presente em Angola, em 1961, afirmava que “ nesses três dias, (além de vários milhares de negros) oitocentos civis portugueses tinham sido mortos da maneira mais atroz; feitos assassínios em massa, com muitas mutilações de cadáveres, após as violações de mulheres e crianças”.
A História poderá ser provisoriamente manipulada, mas como o tempo fizer sedimentar os dados recolhidos, o seu estudo e análise acabará por “produzir” uma verdade mais próxima da realidade. (…)
Exposição na Assembleia da República
Agora levou a efeito uma exposição, onde a manipulação e a omissão imperam à vista desarmada. E espetou com ela na Casa da Democracia!!!
Poderia lá colocar as caras de todos os jornalistas, cantores, criadores artísticos ou de quase todos os principais elementos do Partido Comunista! Mas omitir Homens como o Marechal Costa Gomes, e os Generais Hugo dos Santos e Jaime Neves e o Coronel Fisher Lopes Pires?
E os nomes dos operacionais do 25 de Abril e do 25 de Novembro não construíram a democracia? Não vi lá os nomes de Luís Casanova Ferreira, Manuel Monge, Virgílio Varela, Armando Ramos, a maioria deles presos pelo anterior regime (16 de Março) e depois pelos “homens do PREC” (11 de Março de 1975). Nem o Carlos Azeredo, que liderou o 25 de Abril na cidade do Porto. Nem os homens de Santarém, que acompanharam e actuaram com Salgueiro Maia ou os que ficaram na EPC, nessa data. Nem os homens de Estremoz e os fuzileiros, que actuaram no Carmo e na António Maria Cardoso, no 25 de Abril. Nem os militares “Comando” que acompanharam e actuaram com Jaime Neves em Lisboa (Av. das Naus e Legião Portuguesa) no 25 de Abril de 1974 e depois, de armas na mão lutaram pela Liberdade e pela Democracia no 25 de Novembro de 1975, acompanhando o seu Comandante (Monsanto e Calçada da Ajuda).
E consegue falar sobre o período de 1974-1976, num texto ontem divulgado, no “Público” sem uma única vez se referir ao 25 de Novembro, data em que foi conseguida a possível normalidade política para a instauração da Democracia, depois dos excessos do PREC!
Só quem não viveu os acontecimentos deste PREC na área da grande Lisboa poderá falar da mesma maneira como Pacheco Pereira discorre sobre este tema.
Não viu, nos livros publicados até à actualidade, o que foram esses excessos? Prisões indiscriminadas com mandados de captura em branco; torturas em prisões militares; ocupações forçadas de casas e outras propriedades; saneamentos de oficiais e funcionários públicos sem terem o direito de saberem do que eram acusados. Isto são vergonhosos atentados aos mais elementares direitos do Homem, consagrados na Declaração Universal. Quem não condena estes actos acho que não deve ser considerado defensor ou “construtor” da Democracia.
E tem o desplante de dizer que quem “pena com os excessos do PREC não gosta do 25 de Abril”? Então não sabe que muitos dos militares que fizeram o 25 de Abril, depois da agitação tumultuosa do PREC, na sua grande maioria, foram os que defenderam a Liberdade e a Democracia, no contra-golpe do 25 de Novembro de 1975?
Enfim. Uma tristeza ver o espectáculo da manipulação e omissão feitas em nome da construção da Democracia!
17-04-2014
Manuel Amaro Bernardo (Cor. ref.)
Veja:
- http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=731127&tm=9&layout=123&visual=61
- http://www.publico.pt/politica/noticia/portugal-19741976-o-nascimento-de-uma-democracia-1632346