“Irregularidades”: Forma diplomática de chamar à Frelimo de ladrão
- considera o líder da Renamo
“Fraude é sempre fraude. A fraude é um roubo. Não há roubo pequeno e roubo grande. Tudo é roubo. Como é que dizem que a fraude por ser pequena não altera nada? Afinal roubou-se ou não? Se houve roubo é porque houve alteração de resultados. Ninguém comete fraude para não alterar nada”, Afonso Dhlakama, presidente da Renamo
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama insurge-se contra os chamados observadores das últimas eleições gerais de 2004 que disseram reconhecer terem existido nelas várias “irregularidades” mas que segundo eles não alteravam os resultados finais. Os chamados observadores, nacionais e estrangeiros, fizeram uso de vários subterfúgios ao chamarem de “irregularidades” a situações que na altura a Renamo e Afonso Dhlakama apelidavam de “fraude” enquanto alegremente uns ridicularizavam ao mesmo tempo que muito povo eu nem se dignou a ir às urnas simplesmente assistia cepticamente. Há dias o boletim da União Europeia (AWEPA) editado em Maputo, finalmente, acabou chamando “fraude” ao que os prejudicados desde as eleições vinham assim classificando (Vssf Canal nr. 184, 31 de Outubro de 2006).
A fonte de deputados da União Europeia, disse pela primeira vez que houve fraude nas eleições de 2004 e destacou ainda que em 16% das assembleias de voto, em todo o país, houve problemas. É a primeira vez que uma instituição internacional fala abertamente de “fraude eleitoral” em Moçambique.
Sendo a primeira vez que uma instituição da União Europeia trata o boi pelo próprio nome o «Canal de Moçambique» foi ouvir os comentários que o presidente da Renamo teria a tecer.
Na última sexta-feira Afonso Dhlakama concedeu uma entrevista exclusiva ao «Canal de Moçambique» na qual foi categórico:
“Fraude é sempre fraude. A fraude é um roubo. Não há roubo pequeno e roubo grande. Tudo é roubo”, disse e acrescentou, “como é que dizem que a fraude por ser pequena não altera nada? Afinal roubou-se ou não? Se houve roubo é porque houve alteração de resultados. Ninguém comete fraude para não alterar nada”.
“A Frelimo foi roubando um pouco por cada círculo eleitoral. Roubou mil ali: 5 mil acolá. Grão a grão acabou enchendo o papo”, disse Dhlakama que frisou que os termos usados pelos observadores “não passam de política”.
“É uma linguagem diplomática. Quando falam de «irregularidades» é uma forma diplomática de chamar a Frelimo de ladrão”, refere o líder da oposição.
Homens armados da Renamo
O caso dos chamados homens armados da Renamo tem sido notícia nos últimos dias. O «Canal de Moçambique» questionou também Dhlakama sobre a matéria. Sem se fazer de rogado esgrimiu a sua defesa: “Aqueles homens constituem a garantia do equilíbrio da paz existente em Moçambique. Sem aqueles homens a Frelimo já teria sido tentada a voltar a infernizar a vida dos moçambicanos como fez nos tempos do marxismo-leninismo”.
O líder da Renamo chamaria entretanto à atenção para o facto dos chamados «homens armados» nunca terem causado distúrbios desde o Acordo Geral de Paz assinado em Roma a 4 de Outubro de há 14 anos. “Nunca criaram nenhum tipo de desestabilização desde que a guerra terminou, em 1992”. “Aliás, repare-se que a Renamo tem os homens armados que todo o mundo conhece e sabe onde estão”.
Homens armados da Frelimo
Entretanto Afonso Dhlakama pergunta: “E a Frelimo? Quantos homens armados tem camuflados na Polícia, no SISE, nos ministérios? Propõe depois que a desmobilização comece do lado dos efectivos do partido no poder: “A desmobilização tem que começar do lado da Frelimo”.
Cahora Bassa
Afonso Dhlakama revelou-se depois preocupado com o rumo do dossier Cahora Bassa. Ele apela aos moçambicanos em geral que exijam, cada um ao seu nível, serem informados sobre o conteúdo do Acordo firmado há dias em Maputo entre o primeiro ministro português, engenheiro José Sócrates e o presidente das República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza. Dhlakama diz que todos os moçambicanos devem ser informados sobre o que está escrito no acordo entre o Estado moçambicano e o português.
Afonso Dhlakama exorta os moçambicanos a exigir que o Governo de Moçambique mostre a todos os documentos que assinou. Os termos de negociação e outros detalhes do acordo não são do domínio público em Moçambique e segundo Dhlakama o próprio parlamento moçambicano não foi informado sobre os detalhes desse dossier.
“O meu receio é que como sempre a Frelimo vai transformar Cahora Bassa num novo “tacho” para os compadres. É isso que acontece em muitas instituições”, diria a terminar o presidente da Renamo.
João Chamusse – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 06.11.2006