Por: Noé Nhantumbo
Afinal o desaparecido “super-porta-voz” não está inactivo…
Os que controlam os cordelinhos na comunicação social pública e nalguma “independente” não estão dormindo como por vezes pode parecer.
Golpes e contragolpes são ensaiados e executados com alguma perícia. Sem espalhafatos órgãos da comunicação social pública cumprem instruções e movem quadros para sectores considerados vitais.
O objectivo que se pode apontar é impedir que haja surpresas e que o bombardeamento mediático seja aprofundado e mais certeiro.
Quando “caras” simpáticas ao partido no poder são colocadas em posições de relevo na TVM não se pode dizer algo mais.
Quando no Facebook perfilam “funcionários” do regime rebatendo tudo o que seja crítica legítima a um regime apodrecido e promotor de ilicitudes outra coisa não se podia esperar.
Até os “ esquerdistas” de ontem se sentem incomodados com o desenrolar dos acontecimentos.
Qualquer pessoa que tenha uma dose básica de senso comum não pode apoiar aventuras militaristas e politicamente ditatoriais de um regime que não sabe coexistir com os preceitos democráticos proclamados.
Se uns se calam e nada dizem é porque sentem que seu partido ainda tem esperança de regeneração.
Outros alinham por ele porque importa conservar o poder e assim seu status.
Posto isto várias questões podem ser levantadas.
Rodar quadros e nomear ou demitir é uma prerrogativa legítima de que dirige um órgão ou departamento.
A oportunidade dos actos administrativos é que demonstra o que se pretende.
Há uma percepção de que embora em geral a comunicação pública seja fiel e obediente ao regime isso não basta para garantir a vitória eleitoral.
A “cirurgia” efectuada no principal jornal diário nacional prova as preocupações existentes em certos círculos governamentais.
Existe uma compreensão de que o momento pouco favorável deve merecer uma atenção especial. Nesse sentido e aproveitando o super-poder discricionário que possuem não se hesita em atropelar seja o que o for para garantir a vitória.
As limitações no recenseamento eleitoral, a prisão e intimidação antecipada de membros de partidos políticos da oposição, a vergonhosa campanha eleitoral antecipada consubstanciada pela apresentação do candidato as eleições presidenciais, a ocupação privilegiada do tempo de antena nos órgãos de comunicação social pública pelos dirigentes do partido no poder, a campanha orquestrada visando “pintar de negro” os opositores políticos veiculada por agentes da propaganda frelimista revestidos da pele de analistas tem no seu conjunto objectivos concretos.
A guerrilha verbal contrapõe-se às derrotas acumuladas pelas forças militarizadas ao serviço do governo. Esta guerrilha alavancada por altos expoentes e nomes sonantes cumpre parte da estratégia de bombardeamento intenso inscrito como estratégia.
Não se poupam meios e abrem-se todos os “sacos azuis” para servir a causa definida.
Aqui a questão é denunciar o uso abusivo e ilegal de fundos do estado para suportar e financiar campanhas partidárias.
Não se pode esperar por Outubro para travar esta ofensiva ilícita.
Num momento em que seria importante todas as forças esclarecidas do país unirem esforços no sentido de viabilizar um Moçambique pacifico, uno e indivisível, próspero, dinâmico e inclusivo, continuam a evidenciarem-se sinais preocupantes de intolerância política.
Há quem insiste em menosprezar os preceitos de boa-governação e de convivência política em nome de direitos adquiridos que julgam perpétuos e inalienáveis.
Um super financiamento das forças de repressão estatais deve ser visto como corolário desta estratégia. Agentes e oficiais da PRM já violam a lei no que se refere aos direitos políticos dos partidos. A PGR mostra-se inactiva e incompetente, atrasada em agir.
Deixa-se tudo para depois ao abrigo de uma estratégia dos “factos consumados”.
Estes procedimentos preocupantes e perigosos para a convivência democrática são encobertos por uma maioria parlamentar estranhamente obediente aos desígnios de sua liderança partidária.
Atacam os outros com acusações de excessos reivindicativos mas ao mesmo tempo fazem do abuso do poder sua forma quotidiana de estar e agir.
A batalha pela democracia em Moçambique promete ser longa e complexa.
Requer-se um vigor combativo e flexibilidade estratégica de qualidade para lidar com os diversos flancos de ataque de um partido que se julgava proprietário de Moçambique.
Não se pode descansar nem um minuto que seja neste processo.
Combater os falsos legalismos um a um requer um estudo constante das variantes empregues por quem não quer jogo limpo.
O mostro da revanche pode ser vencido como já se provou… Moçambique não é “quintal privado dos libertadores”…
Canal de Moçambique – 23.04.2014