Afonso Dhlakama em entrevista
Do esconderijo, nas matas de Santungira, Dhlakama falou à Stv e ao “O País”. Com a linguagem que lhe é peculiar, disse que o país não é da Frelimo e que defende o Estado de Direito. Numa entrevista de 40 minutos, revela que está bem actualizado, como se nunca tivesse saído da cidade
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, contactou, ontem, por telefone celular, a redacção do grupo Soico para prestar declarações sobre o processo de recenseamento eleitoral, eleições gerais e diálogo político. Dhlakama revelou que está em Moçambique, concretamente nas matas do distrito de Gorongosa, de onde orienta o partido, incluindo os representantes da Renamo nas negociações com o Governo. Defende que falta vontade política por parte do Chefe do Estado, Armando Guebuza, para resolver as diferenças com a Renamo e volta a queixar-se de exclusão de elementos da Renamo nas Forças Armadas de Defesa e Segurança. Igual a si próprio, chama-se democrata e defensor do Estado de Direito e diz que mandou cessar os ataques há quatro meses, porque viu a economia a afundar. A entrevista foi feita antes do Conselho de Ministros decidir prorrogar o recenseamento eleitoral, daí que as perguntas de partida chamam atenção ao líder da Renamo sobre o fim do processo. A seguir, as respostas mais significativas do político que diz que só se candidata à presidência da República se assim o partido decidir.
Faltam escassas horas para o fim do processo de recenseamento eleitoral. O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, já se recenseou?
Ainda não. Esperava fazê-lo nestes dias, de acordo com a aliança feita com a Frelimo. Os vogais da Renamo na CNE vieram a Gorongosa para tratarem disso, só que as brigadas até hoje ainda não partiram da vila da Gorongosa para entrar nas zonas para me recensearem. A população desta área está também à espera, só que a Frelimo exige a entrada da polícia. Acordámos que as brigadas entrariam sem nenhuma força militar e nós, por nosso lado, cessámos fogo para permitir que não houvesse qualquer confronto.
E qual é o impasse neste momento, tendo em conta que desde sexta-feira passada já havia um acordo para entrada das oito brigadas até ao interior de Gorongosa?
O impasse é fabricado pela Frelimo. Se quiser, pergunta aos residentes da vila se alguma vez impedimos a entrada de pessoas para ajudá-las. Até comida trouxeram e ninguém os impediu. Até as brigadas vinham, mas parece que há má vontade da parte do Governo. As brigadas vêm e dizem que entrarão logo à tarde ou depois de amanhã. O STAE central e os vogais da CNE estiveram acompanhados pelo senhor Meque Braz e tudo foi combinado. Se calhar, as brigadas recebem ordens superiores para levarem obrigatoriamente a polícia. Por que deve ser assim? Se os residentes notarem a presença de homens armados ou pessoas com uniforme militar, não irão recensear-se. Parece que existem estratégias criadas para que não me recenseie. Aliás, há rumores segundo os quais a intenção é essa. O que está a acontecer não faz sentido.
Houve um acordo de cessar-fogo. Cumprimos. Então, exigem a presença da polícia para benefício de quem? Pretende candidatar-se às eleições presidenciais como candidato da Renamo?
Não posso dizer sim nem não, porque não se trata da decisão do líder do partido Renamo, mas de todos os membros. Embora seja presidente, não sou ainda candidato, sou apenas líder da Renamo. Isso dependerá do meu partido, mas o meu interesse agora é exercer o meu direito de votar e, para tal, devo recensear-me.
O PAÍS – 30.04.2014