Minha cara Alice
Espero que estejas de saúde, bem como os teus filhos. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
O que não está nada bem é este nosso país, onde continua a correr sangue dos moçambicanos numa guerra não declarada mas que, nem por isso, deixa de provocar luto, choro e destruições.
Uma guerra cheia de mistérios como, por exemplo, o ataque ao comboio da Vale em que ninguém parece estar a conseguir acesso ao maquinista, que se afirma ter sido ferido durante o tiroteio. Porque estará isso a acontecer? A Renamo continua a afirmar, a pés juntos, que não foi ela quem atacou o comboio. Se não foi, quem foi? Diz-se que o maquinista conseguiu soltar os vagões que transportava e fugiu na locomotiva deixando-os para trás. Mas será assim tão fácil, no meio do tiroteio, um homem sozinho soltar os vagões da locomotiva? O que se terá passado realmente?
Entretanto, no momento em que te escrevo, a população de algumas zonas da Gorongosa continua sem se poder recensear para as próximas eleições, apesar de terminar hoje (terça-feira) o prazo. O próprio Afonso Dhlakama ainda não se recenseou.
Onde é que tudo isto nos pode levar? À Paz, que todos queremos, não creio que leve...
Tenho a sensação que, de um lado e do outro da barricada, se continua a pensar que é aos tiros que as questões vão acabar por se resolver.
O antigo Presidente chinês Mao Tsé Tung afirmou um dia que “A política é a guerra sem derramamento de sangue, enquanto a guerra é a política com derramamento de sangue” e eu penso que é mais do que tempo de ser a política a prevalecer na resolução dos nossos conflitos e não a guerra. O sangue moçambicano que já foi derramado neste conflito, totalmente desnecessário, ficará sempre a manchar as mãos de quem o fez verter.
Nas histórias que contamos aos nossos filhos e netos há, normalmente, os bons e os maus. Mas quando, no futuro, se contar a história destes tempos que vivemos hoje, terá que ser dito que, no confronto, havia apenas maus e maus. Para desgraça da esmagadora maioria de bons, vítimas inocentes e pacíficas...
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 30.04.2014