A Índia, maior democracia do mundo, pendeu para a direita, decisivamente. O que estava previsto para ser uma onda açafrão - a cor do partido Bharatiya Janata (BJP), liderado por Narendra Modi - acabou por ser um verdadeiro tsunami. A redução do crescimento económico nos últimos anos levou a uma vitória esmagadora do partido nacionalista hindu sobre o actual governo, comandando pelo Partido do Congresso, de centro-esquerda.
O Partido do Congresso teve papel fundamental na independência da Índia em 1947 e governou o país na maior parte do tempo, desde então. Apesar da ampla vitória, porém, será difícil para Modi, o próximo primeiro-ministro, atender às grandes expectativas que gerou na população. Seus maiores desafios serão reanimar a economia, controlar a inflação de alimentos e criar empregos para os jovens do país. Modi também terá que convencer a maior comunidade minoritária da Índia, os muçulmanos, que o partido que lidera não vai promover uma ideologia política e social abertamente hinduísta.
Um em cada sete pessoas no país acredita no Islão, e grande parte deles está apreensiva com a vitória do partido nacionalista hindu. A desconfiança remonta a 2002, quando mais de mil pessoas - em sua maioria muçulmanos - foram mortas por grupos hindus em Gujarat, estado governado por Modi desde 2001. Gujarat tem crescido mais rápido que o resto do país, baseado num modelo industrial próspero. O bom desempenho do estado catapultou a candidatura de Modi. Apesar disso, Gujarat não tem tido desempenho
tão bom em outras áreas, como saúde, educação e autonomia das mulheres. A participação recorde dos eleitores (66%) evidentemente favoreceu o partido nacionalista hindu. Aparentemente, os jovens e aqueles que vivem em cidades pequenas votaram expressivamente no BJP.
Dos 814 milhões de indianos que estavam aptos a votar, mais de 100 milhões foram às urnas pela primeira vez, após terem completado 18 anos. Atender às expectativas da juventude, bem como as da classe média em ascensão que representa cerca de um quarto dos 1,2 biliões de indianos, sem dúvida será uma tarefa difícil para o governo dirigido por Modi.
Os últimos seis anos foram marcados por uma inflação sem precedentes dos preços de alimentos que atingiu em cheio os mais pobres, elevando ainda mais a desigualdade no País. A economia indiana cresceu mais de 9% ao ano em parte da última década, mas essa taxa caiu para menos de 5% nos últimos dois anos. Apesar das alegações de que o crescimento económico tem sido “inclusivo”, os dados do próprio governo indicam que novos postos de trabalho foram criados a uma taxa média anual de apenas 2,2% desde 2004. A vitória do partido de Modi foi bem recebida pelo sector corporativo, que abertamente o apoiou e financiou sua campanha eleitoral.
HORIZONTE – 19.05.2014