Há já alguns anos, Marçal Grilo, publicou um livro sobre a sua experiência como Ministro da Educação como sugestivo título "Difícil é sentá-los". Quem não o leu pode pensar que se referia aos alunos, os tais maus alunos. No entanto, difícil de sentar eram os Deputados portugueses, excepcionando alguns como Carlos Coelho, actual candidato do PSD às europeias.
Recordei-me desde título ao "esmiuçar" o perfil dos cabeças de lista às eleições europeias. Em Portugal não temos o hábito de escrutinar o percurso dos nossos candidatos, ao contrário do que acontece noutros países em que, até de forma exagerada, as candidaturas e, principalmente, a imprensa desvendam todo o passado dos representantes do povo. Sempre defendi que o trajecto político deve ser escrutinado, pois muitas vezes somos induzidos em erro por um mediatismo das personagens que nem sempre traduz o seu trabalho.
Francisco Assis, o cabeça de lista do PS às europeias, é um desses exemplos. Apesar de todo o respeito intelectual que me merece, da consideração pessoal pelo seu enorme carácter, que aqui testemunho, na verdade não podia deixar de escrutinar o seu percurso no Parlamento Europeu que acompanhei bem de perto durante 5 anos.
Francisco "ne s´est pas Assis souvent en pléniere"
Como dizem os franceses, Francisco "ne s´est pas Assis souvent en pléniere". Ou seja Assis, que em francês quer dizer "sentado", nem fez jus ao nome. Curioso que enquanto o BE quer fazer uma campanha de "pé", Francisco Assis nem sequer se sentou no PE (Parlamento Europeu). Marçal Grilo estava preocupado pois os Deputados não se sentavam, crítica que vai direita a Assis que aparentemente não é apreciador de Bruxelas. Francisco Assis não se sentou muitas vezes no plenário porque, ou não aparecia, ou por lá ficava muito pouco, ou porque não se esforçava no pouco tempo que lá estava.
Nos 5 anos que passou em Bruxelas, entre 2004 e 2009, o agora cabeça de lista do PS não foi um bom exemplo dos Eurodeputados portugueses. A verdade é esta.
No último Governo de Sócrates, Assis foi a sua primeira linha de defesa no Parlamento, o que só por si já não promete nada de bom. Com Seguro a seu lado na bancada socialista (embora, então, sentando na última fila....), aplaudiu a estratégia que levou Portugal à bancarrota sem sequer, quer Seguro, quer o seu seguro de vida Francisco Assis, terem tentado algo para o impedir. Mas o que está em causa nestas eleições é o mandato europeu de Assis, o local do "crime" onde agora quer voltar, e logo como cabeça de lista.
A vantagem da "transparência" das instituições europeias é que nos permite acompanhar e escrutinar o trabalho dos nossos eurodeputados. Se consultarmos o site do Parlamento Europeu poderemos verificar com exactidão aquele que foi o trabalho do cabeça de lista do PS às próximas eleições europeias.
Em 5 anos de mandato, Francisco Assis fez apenas 9 perguntas escritas à Comissão Europeia, teve 25 participações entre intervenções e declarações de voto e fez 0 (ZERO) relatórios. Até António Costa, que só esteve no Parlamento Europeu durante cerca de um ano e ficou conhecido pelas suas dificuldades linguísticas, fez mais do que Assis que cumpriu o mandato de 5 anos. É lamentável que em 5 anos, com staff próprio pago pelo Parlamento Europeu, todas as condições necessárias, não tenha produzido praticamente nada. A estatística não nos diz tudo, mas neste caso, nem estatística o salva. Foi mesmo zero. Aliás, até nas presenças foi pouco assíduo (só esteve em 65% das reuniões) como se poderá ver neste relatório oficial.
Os Eurodeputados portugueses são em média bons
Os que mais aparecem nos jornais ou nas televisões nem sempre são os que mais trabalham em prol do nosso país. Francisco Assis até pode merecer uma segunda oportunidade no Parlamento Europeu, mas parte coxo para a maratona. É nesse aspecto o mais fraco dos cabeças de lista. João Ferreira do PCP e Marisa Matias do Bloco de Esquerda têm uma folha de serviços que não envergonha ninguém, digo-o aliás com orgulho, que os Eurodeputados portugueses têm em média uma excelente reputação em Bruxelas, independentemente dos seus partidos. Sobre Paulo Rangel sou suspeito para falar, dado que com ele trabalhei de perto, mas é hoje claramente um dos eurodeputados mais decisivos e influentes no Parlamento Europeu e a ele podemos, por exemplo, agradecer o facto de mantermos uma representação de 21 eurodeputados, conseguidos através de duras negociações na altura da reorganização do Parlamento Europeu.
É isso que está em causa nestas eleições europeias. Saber quem está mais preparado e nos garante mais empenho na defesa do interesse nacional e de Portugal. Francisco Assis é, em matéria europeia, o mau exemplo a evitar. Seguro optou por despachar para Bruxelas os seus mais agressivos adversários e alguns dos seus mais leais seguidores. Mas Seguro, que tanto tenta apresentar uma forma moralmente superior de fazer política, escolheu para seu cabeça de lista um dos piores exemplos portugueses quer qualidade ou volume de trabalho, empenho e dedicação no Parlamento Europeu: teve apenas 5 actividades no plenário (média anual) e fez apenas 1,5 perguntas por cada ano que esteve em Bruxelas. Será esta a mudança que tanto defendem para o país?
Talvez fique agora explicado por que razão o Partido Socialista não quis ao longo desta campanha falar dos temas europeus, das suas propostas ou do que vai defender nos próximos 5 anos em Bruxelas.
Não foi fácil escrever este artigo sobre alguém que respeito, mas eu acima de tudo respeito os portugueses. Não foi por acaso que me comprometi a dar a minha opinião "sem cerimónia.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-be-quer-estar-de-pe-e-assis-nem-se-sentou-no-pe=f871073#ixzz32NOiOupF
20.05.2014
Publicado no Expresso online
NOTA:
Já o ouviram falar dos 5 anos que lá passou e da sua "obra" como Deputado Europeu?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE