Numa pose digna de chefe terrorista, orgulhoso dos seus feitos, o fugitivo Afonso Dlhakama reapareceu vindo do seu esconderijo no último dia do recenseamento, para testemunhar que afinal entre o suicídio político e a sobrevivência tinha optado por esta última. Mesmo assim como é seu apanágio assacou para o governo o ónus da crise ou ao que ele chama (crise política), como se as mortes por ele orquestradas fossem culpa dos outros, ou se o vandalismo, roubos e destruição de vidas e de bens de dezenas de moçambicanos, não tivessem a sua assinatura ou se estes fossem notícias pré -fabricadas.
Logo de seguida, numa entrevista radiofónica a RTP África, foi dizendo que a guerra terminou há 21 anos, mas omitiu que foi ele, desde Abril do ano passado, o promotor dos ataques ao paiol de armas na região de Savane, província de Manica, que vitimou 5 militares, sem falar de contínuos ataques armados na região de Muxúngue, com dezenas de moçambicanos mortos e feridos entre velhos, crianças e jovens de ambos os sexos, civis e miltares.
No delírio costumeiro, afirmou que foram as FDS a atacá-lo em sua casa, referindo-se ao ataque a Sandjundira, omitindo que as FDS apenas quiseram apagar o incêndio de que ele foi o incendiário.
Num exercicio de cinismo digno de psicopatas, defendeu o paradigma tipológico com uma frieza e crueldade que chega a arrepiar, como se a dimensão dos danos colaterais não fossem com ele. Apareceu anelado a uma segurança bem visível, num compromisso com o medo de quem não sabe nem quer viver de outra maneira. Dlhakama sente que por descargo de consciência e culpas no cartório, necessita de segurança para viver. Mas será que isso é viver?
Achei sempre relevante a participação da Renamo na democracia, mas uma Renamo responsável como partido político, comprometida assumidamente com a democracia, e não uma milícia armada tribalista, regionalista, belicista e contrária à unidade nacional como tem sido até aqui. A amenização da coabitação política em Mocambique passa pela retirada de Afonso Dlhakama do cenário político. Na minha perspectiva e da maioria absoluta de moçambicanos, as acções de Dlhakama nada têm a ver com ética política, sendo de todos ângulos de visão deploráveis.Trata-se de terrorismo puro, idêntico àqueles que tristemente nos é dado a conhecer vitualmente do Boko Haram na Nigéria..
Dlhakama pelo extremismo exibido e, como a organização que dirige, está politicamente desacreditado, sendo este um pária político mesmo entre os seus. O seu poder de persuasão ter-se-á diluído entre os sectores mais moderados da organização.
No início, bem tentou estratégicamente distanciar-se dos ataques militares, mas no fim teve de assumi-los quando reparou na sua liderança ameaçada. Trata-se no fundo de um inimigo declarado do regime que usa a chantagem militar para obter cedências políticas e económicas, como agora ao pretender condicionar o desarmamento da sua organização a um potencial cessar fogo, …mas afinal por quem Dlhakama nos toma?
O líder da Renamo colocou pessoalmente o dedo no gatilho para que moçambicanos fossem mortos para fins pessoais e políticos. Moçambicanos foram mortos e não membros da Frelimo, MDM ou mesmo da Renamo e outros partidos extra-parlamentares. Cidadãos da pátria amada, com uma bandeira que os simboliza, um Parlamento democrático e um Presidente da República. De qualquer ângulo a observar, as acções de Dlhakhama constituem um atentado gravísimo à segurança do estado.
Por que passados 21 anos de paz Dlhakama pretende que o governo recue para o AGP, caso contrário iria paralisar a economia que ele e a sua organização nunca trabalhou por ela, .....exigindo a integração dos seus homens que ele mantem escondidos na mata como triunfo de última hora para atazanar a vida dos moçambicanos? Tudo quanto sei, segundo parecer do jurista Teodato Hunguana, o AGP prescreveu, e legalmente não existe nada que a Renamo possa exigir.
Compete no entanto ao governo responder, mas como moçambicano e patriota posso adiantar que o recurso ao terrorismo para fins de cariz político apenas reforça o ressentimento dos moçambicanos contra o líder da Renamo. O recurso ao acto terrorista é uma nota dissonante numa democracia. A democracia tem regras constitucionais, e todos os partidos políticos, organizações da sociedade civil e individualmente, devem reger-se pela Carta Magna. Constitucionalmente, as pessoas podem fazer greves, e caso os seus desideratos obstaculados, fazê-los chegar ao Parlamento ou ao Presidente, mas recurso ao terrorismo, nunca!..
Certo que cada democracia tem os seus espinhos, o seu percurso e dinâmica,.. sendo nosso dever como democratas defendê-la e batermo-nos contra interesses inconfessáveis.
Um homem com agenda própria de terrorismo munido de 20 a 30 a 100, 200 homens ou mais pode criar problemas a qualquer país africano sem com isso querer dizer constituir uma alternativa governativa. Um terrorista é um criminoso e uma vez criminoso nunca abandona o terrorismo.
Como moçambicano não posso olhar com indeferença para este clima de impunidade para com o terrorismo, e seus agentes internos, assim como a uma mídia ao serviço da inverdade política. Não fiquei pasmado quando o jornal o País deu relevo de primeira página à entrevista do foragido Afonso Dlhakama. Desde que o foragido reapareceu na mídia, vem tentativamente lançando uma campanha de aproximação, tanto na RTP África e no jornal o País. A intenção é que os moçambicanos o vejam num prisma diferente daquele que realmente é. Um pouco tarde e um pouco delirante, mas a atitude deste jornal e da RTP África não deixa de ser intrigante....
Os moçambicanos devem discernir sobre o tipo de democracia pretendido, e quanto à mídia, tirar-lhe as medidas antes de lhes abrir as portas do mercado. Com o aproximar das quinta eleições legislativas e presidenciais e para Assembleias provinciais iremos ter de engolir sapos vivos em ondas de mentiras na tentativa de massificar a sociedade de falsidades, com origem em instrumentos estrangeiros com interesses económicos em Moçambique. O governo não vai fazer cedências antipatrióticas que têm apenas um objectivo: criar uma cisão e enfraquecer o partido Frelimo e o governo , ao mesmo tempo que se criam espaços alternativos a uma governação em capacitação de sectores conotados com o neocolonialismo.
A grande capacidade do governo de valorizar os recursos existentes têm atraído muitos interesses, fazendo com que alguns ao se aperceberem da sua extensão, se aprontassem a querer desvirtuar para benefício próprio o sentido da democracia que vivemos. Nós os patriotas moçambicanos sempre soubemos da riqueza da nossa mãe Africa, que mesmo em momentos de maior dificuldade nunca permitiu que nos faltasse pão na mesa. Para aqueles países que formam a parceria económica com Moçambique, e se aproveitam das nossas fraquezas para exigir cedências antipatrióticas tendentes a causar danos ao partido Frelimo e à governação, apenas isto: inequivocamente continuarmos a batermo-nos para que a razão e a transparência na democracia prevaleçam contra as pressões e vontades neocolonialistas expressas de grupos de pressão política interna e externa.
Não abdicaremos da democracia por esta ser uma opção feita conscientemente dos moçambicanos, facto que não implica que tenhamos perdido o norte ou a dignidade como povo de remar rumo ao nosso destino.
Moçambique Rumo ao Progresso
Inácio Natividade
JORNAL DOMINGO – 25.05.2014