Para evitar greve
O Governo moçambicano está a promover campanhas de “Educação Patriótica” nas unidades das Forças de Defesa e Segurança, sobretudo na Força de Intervenção Rápida (FIR), como forma de conter o nível de descontentamento dos agentes em missão operativa na região centro do país. A FIR é uma força especial que é muito usada pelo Governo para perseguir a oposição e espancar manifestantes. Debate-se com a falta de pagamento de subsídios e gozo de férias.
“Nos últimos dias, foram afectos, em todas as unidades da FIR, oficiais com tarefas de mobilizar os agentes para serem patriotas e não andarem a falar na imprensa da situação que vivem”, disse um oficial afecto à FIR numa das províncias da zona sul, acrescentando que “argumenta-se que deve haver compreensão, porque o país está em crise”.
O motivo da campanha de “Educação Patriótica”, segundo as nossas fontes, é, para além de fazer compreender aos agentes da situação actual, mobilizá-los para “não andarem a dizer o que vai mal na corporação”.
Enquanto decorrem as campanhas de “Educação Patriótica”, alguns agentes da FIR – que têm vindo a reclamar os seus direitos de férias e subsídios de deslocação em missão operativa na zona centro do país – estão a ser desvinculados das fileiras e a serem colocados na Polícia de Protecção (PP) e afectos nas províncias do norte do país, por terem sido considerados indisciplinados. O Governo encara o Norte do país como região para indisciplinados.
Os agentes dizem que estão cada vez mais descontentes com a forma como são tratados pelo Governo e com o número de baixas que lhes são infligidas por homens da Renamo, e, mais concretamente, com as declarações do general Avelino Binda, segundo as quais eles não podem exigir férias nem subsídios, visto que têm comida no campo de batalha.
Os agentes das províncias da zona sul dizem que, desde que se iniciou a tensão político-militar, o Governo recorre as sub-unidades de Maputo, Gaza e Inhambane, as quais, por sua vez, se vão juntar às da província de Sofala, em vez de levar as sub-unidades que estão nas províncias mais próximas, como, por exemplo, Manica, Tete e Zambézia.
Com excepção da província do Niassa, a FIR tem sub-unidades em todas as províncias do país, às quais o Governo também deveria recorrer para a frente de combate na zona centro, segundo disseram as nossas fontes.
Os elementos da FIR queixam-se de não estarem a receber os subsídios operativos e de deslocação, a que dizem ter direito, quando são levados por um período de três meses para as zonas do conflito armado, onde estão sujeitos a confrontações com os homens da Renamo.
Para além de subsídios, os membros da FIR reclamam contra as péssimas condições logísticas a que dizem estar sujeitos, sobretudo quando são destacados para o batalhão misto que opera no troço Save-Muxúnguè sob as ordens do comandante Sameiro.
“A situação logística em Muxúnguè, onde temos um batalhão misto FIR / Guarda Fronteira, é deplorável, porque estamos sujeitos a depender das outras forças, quer em transporte, quer em alimentação”, queixam-se os agentes, explicando que “a força que está bem, em termos de logística, é a dos dois batalhões mistos Guarda Fronteira / FIR, comandada pelo comandante Amade e estacionada na Gorongosa”.
Neste momento, segundo as nossas fontes, o Governo possui três batalhões de forças conjuntas (FIR / Guarda Fronteira), para além das FADM no terreno, que fazem rendição de três em três meses.
Reiteram que estão cansados das ameaças, que incluem transferências e expulsões, como aconteceu agora com os colegas que foram acusados de serem de partidos da oposição e de andarem a falar muito.
Os que recentemente foram transferidos da FIR para a PP e, na sequência, para as províncias do Norte, foi por causa deles se terem recusado a fazer as rendições no terreno antes que lhes fosse explicada a razão da falta de pagamento dos subsídios de deslocação e de férias.
Dizem que eles também são funcionários do Estado, e, por isso, a deslocação deve ser paga, como acontece com os seus comandantes.
O comandante da FIR, Avelino Binda, já deixou claro, em declarações recentes ao Canalmoz, que os agentes não têm direito a subsídios, muito menos a exigirem férias, enquanto o país está em guerra. Considerou que os agentes são indisciplinados, que tentam vender o que está a acontecer na corporação, uma declaração da qual os agentes não gostaram, e agora exigem esclarecimentos por parte de Alberto Mondlane, ministro do Interior. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 28.05.2014
NOTA:
Há algo que não entendo: o país está em guerra? O Presidente Guebuza e Comandante Chefe diz que não. O General Avelino Binda diz que “que os agentes não têm direito a subsídios, muito menos a exigirem férias, enquanto o país está em guerra”.
Qual deles é o mentiroso?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE