MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá amigo Jerónimo
Como estás de saúde? E a tua família? Do meu lado está tudo normal, felizmente.
Mas, mais uma vez, bastante preocupado.
Desta vez não são preocupações políticas. São provocadas por notícias, muito assustadoras, que nos chegam da fronteira entre o Zimbabué e a Zâmbia. Mais exactamente da barragem de Kariba.
A barragem, uma das maiores de África, parece estar em riscos de ruir dentro dos próximos três anos. Problemas estruturais que não te sei explicar bem, porque de engenharia de barragens nada sei. Mas gente que sabe mostra-se muito preocupada e isso assusta-me.
Porque se a barragem de Kariba ruir, uma imensa massa de água vai descer pelo vale do Zambeze, a enorme velocidade, matando milhões de pessoas no Zimbabué, na Zâmbia e em Moçambique.
No caso do nosso país as maiores probabilidades são de que Cahora Bassa não suporte esse embate e seja também destruída, aumentando de forma gigantesca a dimensão do desastre. Desastre humano, em primeiro lugar, e económico, porque Kariba e Cahora Bassa são os responsáveis pela geração de energia para praticamente toda a África Austral.
Não estamos, como vês, a falar de um pequeno problema. E o que mais me surpreende é não ter, até agora, ouvido nenhuma das nossas autoridades a referir-se a este perigo iminente. Porque três anos não são nada para travar um desastre desta dimensão.
Será que as nossas autoridades estão, sequer, conscientes de que isto está a acontecer?
Será que percebem que não se trata de um problema só do Zimbabué e da Zâmbia mas também profundamente nosso?
Se Cahora Bassa for varrida do mapa praticamente todo o país fica às escuras. E por muitíssimo tempo, na medida em que não haverá sequer a possibilidade de importar energia dos países vizinhos que estarão tão mal ou pior que nós. Além de que teríamos de continuar a pagá-la mesmo tendo ela desaparecido.
Como podes imaginar desejo totalmente que os problemas de Kariba sejam rapidamente resolvidos para afastar o risco deste pesadelo de cima das nossas cabeças.
Mas o bom senso diz-nos que devemos desejar o melhor mas estar preparados para o pior. Para não acordarmos um dia e descobrirmos que se deu o desastre e nada tínhamos feito para minimizar as suas consequências.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 27.05.2014