XIPALAPALA por João de Sousa
Nos meus tempos de estudante das matérias relacionadas com a comunicação aprendi que “um porta-voz é uma pessoa que fala em nome de outra, mas que não se constitui, necessariamente, como parte de outra”.
No mundo moderno exposto aos meios de comunicação, muitas organizações e órgãos governamentais utilizam com frequência cada vez mais o trabalho de profissionais que receberam treinamento formal em jornalismo, comunicações e relações públicas para assumir este cargo, e assegurar que os pronunciamentos públicos sejam feitos da forma mais apropriada.
Em Moçambique existe a figura de porta-voz. É a tal figura que aparece com muita frequência nos canais de rádio e de televisão. É alguém que se diz formado nessa área de comunicar. Lamentavelmente, em alguns casos, quando abre a boca deixa muito a desejar. Como dizia um professor de português nos meus tempos do liceu, “quando abre a boca ou sai asneira ou entra mosca”.
Alguns enchem os nossos ouvidos com frases bombásticas sem nexo. Denotam uma ausência de conhecimento da língua portuguesa, por sinal a nossa língua oficial. Tentam explicar o inexplicável. Portam-se como autênticos vendedores da banha da cobra.
Mas mais grave do que se expressarem mal é o facto de tecerem considerandos sem pés nem cabeça.
Há dias um desses senhores mostrou-se surpeendido, perante os microfones da rádio e diante das câmaras da televisão, pelo facto de o senhor Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, residente em parte incerta lá para as bandas da Gorongosa, ter apresentado o Passaporte no acto do seu recenseamento. E porque apresentou o Passaporte e não o Bilhete de Identidade, o cidadão em causa (Afonso Dlhakama) foi considerado pelo porta-voz como sendo “estrangeiro”. Haja paciência para termos de aturar lérias desta natureza, muito próprias de quem não sabe o que diz.
Se este porta-voz estivesse atento à campanha de educação cívica organizada pelos órgãos eleitorais e aos anúncios que foram veiculados pela comunicação social (rádio, jornais, imprensa) saberia que para recensear o cidadão não tem de apresentar unicamente o seu Bilhete de Identidade. Pode apresentar outros documentos. E nesse rol de “outros documentos” está incluso o Passaporte. E se por qualquer motivo não tiver nenhum documento, pode levar consigo duas testemunhas, que tenham sido recenseadas no mesmo posto eleitoral.
Não sei ao certo se a minha colega e amiga Marlene Magaia, que na semana passada lançou um interessante e oportuno livro sobre assessoria de imprensa, actividade que ela vem desenvolvendo nos últimos anos, tem motivação para, num futuro tão breve quanto possível, publicar algo sobre como se deve comportar um porta-voz no exercício da sua função. Assim evitavam-se “gaffes” desnecessárias de muito boa gente que de porta-voz nem voz tem.
CORREIO DA MANHÃ – 21.05.2014