O LÍDER da Renamo, Afonso Dhlakama, manifestou ontem o desejo de abandonar as matas de Gorongosa e iniciar o trabalho de preparação da sua participação nas eleições gerais de 15 de Outubro próximo, mas para isso voltou a impor condições ao Governo.
Dhlakama impõe como condição para sair de Gorongosa a assinatura de um cessar-fogo imediato entre o Governo e o seu partido e a retirada incondicional das Forças de Defesa e Segurança que se encontram estacionadas na região.
Numa conferência de imprensa, via telefone (foi usado um celular ligado a duas pequenas colunas de som para que a voz de Afonso Dhlakama fosse audível numa sala repleta de jornalistas nacionais e estrangeiros), o líder da Renamo afirmou ter já “dado um passo importante” ao ordenar as suas tropas a pararem com os ataques armados.
“Para o vosso conhecimento, no passado dia 7 deste mês decidi um cessar-fogo de forma unilateral em todo o território nacional, mas o Governo continua a movimentar as suas tropas e a encher contingentes armados aqui em Gorongosa como forma de impedir Dhlakama e a Renamo de se organizar para as eleições”, declarou.
Para que a paz e a estabilidade sejam efectivas daqui para frente, segundo Afonso Dhlakama, é necessária a assinatura de um cessar-fogo, documento que servirá para que as partes se comprometam perante a sociedade moçambicana, em particular, e a comunidade internacional, em geral, a não se atacarem militarmente.
“Este acordo não tem de ser necessariamente assinado por Dhlakama e Guebuza. Pode ser rubricado por Macuiane e Pacheco (NR – chefes das delegações da Renamo e do Governo no diálogo político que decorre em Maputo). O que se quer é o princípio, tal como foi feito na questão eleitoral”, disse Dhlakama, para depois se mostrar preocupado com o processo de preparação do seu partido para as eleições deste ano.
“Estou preocupado com a situação, sobretudo com as eleições, pois faltam poucos meses. Todos os outros (concorrentes) estão a fazer a pré-campanha e eu ainda estou aqui nas matas. Repito, gostaria de sair hoje ou amanhã e protegido pelas minhas tropas e evitar derramamento de sangue. Por isso é que estou a exigir a assinatura de um acordo que garanta um cessar-fogo, de modo a que as minhas tropas não sejam atacadas”, afirmou o líder do maior partido da oposição, que se encontra a viver fora das cidades desde 2012, primeiro em Sandjundgira e depois nas matas de Gorongosa.
Respondendo a perguntas dos jornalistas sobre quanto tempo mais poderá esperar para que o Governo aceite as suas propostas de cessar-fogo e de retirada dos militares em Gorongosa, Dhlakama disse que, tal como tem feito até agora, vai continuar a ter paciência como forma de evitar o pior (guerra). Tudo depende da boa vontade do Governo”, alegou.
Na conversa com a comunicação social o presidente da Renamo fez questão de desmentir notícias segundo as quais se encontra doente. “Dizem que estou doente, que tenho trombose… é tudo invenção da Frelimo, que não me quer ver bem. Eu estou bem, só o cabelo é que está branco. Eu estou bem e vocês viram-me no recenseamento. Estou a 100 por cento”, referiu.
No que respeita à falta de consenso sobre as questões militares que marca actualmente o diálogo político entre o Governo e a sua organização, Afonso Dhlakama alega que a Renamo não está a pedir nada de novo, antes pelo contrário, está a exigir a formação de Forças Armadas de elevado índice técnico-profissional, que estejam ao serviço do Estado moçambicano, como está previsto no Acordo Geral de Paz assinado em Roma, Itália, pelo Governo e a Renamo a 4 de Outubro de 1992.
É LIVRE DE SAIR DAS MATAS
AFONSO Dhlakama é livre de abandonar o esconderijo onde se acoita nas matas de Gorongosa e participar na vida política, social, económica e cultura do país.
Quem assim o diz é o subchefe da delegação do Governo no diálogo político com a Renamo, Gabriel Muthisse, quando instado pelo nosso Jornal a comentar as declarações do líder da Renamo, que ontem chamou a imprensa para manifestar o desejo de abandonar as matas onde se encontra refugiado para exercer actividades políticas com vista à sua participação nas eleições deste ano.
Segundo o também Ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, o líder da Renamo deve, ao sair do seu esconderijo, trazer consigo os seus homens armados de modo a entregá-los ao Governo para que estes sejam integrados nas Forças de Defesa e Segurança, nomeadamente Forças Armadas e Polícia, ou na vida económica e social do país ou ainda dispersá-los sem armas se não necessitar mais da sua colaboração.
“Afonso Dhlakama é livre de sair do seu esconderijo, mas o seu “status” já não será mais o mesmo. Não poderá continuar a manter homens armados em Gorongosa, Sandjundgira, Muxúnguè ou em qualquer outro ponto do país. No nosso país já não há espaço para homens armados da Renamo”, disse.
O adjunto de José Pacheco na delegação governamental no diálogo com a “perdiz” pôs, entretanto, de lado qualquer possibilidade de o Governo retirar as Forças de Defesa e Segurança que se encontram no distrito de Gorongosa e que Afonso Dhlakama alega estarem a cercá-lo com o intuito de acabar militarmente com a Renamo e com ele.
“As Forças de Defesa e Segurança estão em território moçambicano. Se as retiramos do território nacional vão para onde? Ademais, se Dhlakama sair de Gorongosa vai encontrar membros das Forças de Defesa e Segurança em qualquer parte do território nacional. Se sair de Gorongosa para Beira vai encontrar lá a Polícia e tropas. Se vier a Maputo também vai encontrar tropas e polícias aqui…”, explicou.
No que tange à proposta da Renamo de se assinar um cessar-fogo entre as partes para se pôr fim às hostilidades armadas, Gabriel Muthisse afirmou que, dos dados e informações que tem, o Governo não vê necessidade para se enveredar por essa via.
“O que deve acontecer é a Renamo deixar de atacar alvos civis e a Polícia, de emboscar tropas. Se a Renamo fizer isso o país volta à normalidade”, frisou.
Para ilustrar esta situação, Muthisse recorreu ao que está actualmente a acontecer na Estrada Nacional Número Um, precisamente no troço Save/Muxúnguè, em que a Renamo decidiu deixar de atacar as viaturas civis, policiais ou das Forças Armadas que por ali circulam.
“Se a Renamo deixar de atacar civis e militares a vida no país volta imediatamente à normalidade”, frisou, para depois afirmar não haver nenhuma perseguição do Governo à pessoa do líder da Renamo para acabar com ele militarmente.
NOTÍCIAS – 24.05.2014