Fruto de uma incursão crítica em sua vida e obra, o poeta Tomás Gonzaga mereceu recentemente um justo resgate pelo professor, crítico e ensaísta Adelto Gonçalves, um dos grandes estudiosos da bibliografia do patrono da Cadeira 37, que mergulhou no universo gonzaguiano (nascido no Porto em 1744), buscando nas suas raízes históricas a gênese estética de sua poesia, a partir de sua vida e de seus estudos, divididos entre a infância/juventude na Bahia, Recife e Rio de Janeiro e seu bacharelado em Coimbra.
Nesse livro, que tem a chancela editorial da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, o professor Adelto colige alguns de seus melhores poemas, com estudos e comentários que situam a produção do autor do antológico “Marília de Dirceu” no contexto histórico em que foram produzidos, na esteira do que já havia publicado em seu Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Ed. Nova Fronteira, Rio, 1999), resultando de sua tese de doutorado na USP.
O autor mapeou trajetória pessoal e literária, palmilhando aspectos políticos, sociais, afetivos e culturais dominantes naquele período, como as conspirações na época da Inconfidência, as paixões, as cobiças, o movimento da Derrama, o degredo na África e sua morte em Moçambique em 1810.
Com essa edição, a ABL deixa o registro e firma a memória definitiva, por meio desse breve, mas lúcido e detido estudo, daquele que foi alçado à condição de um dos poetas mais líricos e populares no arcabouço da literatura lusófona. Um poeta que, apesar das vicissitudes por que passou, em razão da detenção e exílio após a Inconfidência Mineira, deixou uma obra de dimensão épica, humanista e universal, um canto de exaltação ao amor e à liberdade, que nos inspiram nesses tempos vigentes, em que experimentamos um dilacerante e veloz de escalonamento de valores morais, políticos e culturais.
Adelto Gonçalves, autor de vasta e premiada obra, faz justiça a Gonzaga e reforça a consolidação de uma obra basilar de nossa literatura.
Jornal As artes e as letras - 30/04/14