A empresa de minérios brasileira Vale anunciou hoje um prejuízo de 32,2 milhões de euros no primeiro trimestre de 2014 em Moçambique e avisou que só haverá mais investimentos no país com menos custos na operação.
Na apresentação dos resultados dos três primeiros meses do ano, o novo responsável da Vale Moçambique, Pedro Gutemberg, apelou em Maputo a todos os intervenientes na cadeia de produção de carvão no país para aumentar a eficiência e diminuir os gastos.
"Se isso não for feito, este resultado que estamos a apresentar hoje não vai ser mudado e dificilmente teremos novos investimentos" em Moçambique, alertou, sugerindo que o Governo de Maputo equacione uma redução temporária de impostos.
Gutemberg, que substitui Ricardo Saad, disse que a empresa traçou um diagnóstico das condições do mercado global do carvão e que esse será o ponto de partida para a discussão com todas as partes e só mais tarde haverá respostas objetivas ao que considerou ser um "problema sistémico".
O gestor lembrou que, "em alguns países, sempre que se percebe que um produto enfrenta uma situação muito ruim, é o próprio governo que toma a iniciativa de oferecer uma redução de impostos temporária".
A Vale Moçambique, segundo os resultados apresentados hoje na capital moçambicana, pagou 13,4 milhões de euros em impostos nos primeiros três meses. A produção total na mina de Moatize, província de Tete, foi de um milhão de toneladas de carvão, dos quais foram colocadas no mercado 650 mil toneladas.
O investimento em Moçambique foi de 270 milhões de euros, incluindo a concessão do corredor de Nacala, o que, nas contas finais, se traduziu numa receita de 46,3 milhões de euros e um prejuízo no resultado operacional de 32,2 milhões de euros.
Além de novo gestor em Moçambique, Pedro Gutemberg é o director da Vale para o carvão e estava colocado na Austrália, onde a empresa brasileira mantém quatro minas e onde funcionava a sede do negócio deste minério.
Com a transferência do gestor, é mudado também o "quartel-general" do negócio do carvão da Vale para Moçambique, sinalizando "o potencial muito grande" que o país oferece e num período em que a firma brasileira se prepara para abandonar a fase de projecto e entrar na fase de produção.
Gutemberg indicou que a Vale mantém em simultâneo a aposta na Austrália, que possui 60% da produção mundial de carvão, um total de 160 milhões de toneladas, segundo números hoje apresentados, dos quais Moçambique representa apenas seis milhões de toneladas, com expetativas de aumento para 16 milhões em 2020.
Para ser competitivo, o carvão moçambicano, de acordo com Pedro Gutemberg, precisa reduzir os custos logísticos, nomeadamente o preço do transporte terrestre e depois do frete marítimo, uma vez que a mina de Moatize "está longe do mar e do comprador".
Em 2013, a Vale Moçambique obteve receitas de 273,9 milhões de euros, tendo pagado 41,9 milhões em impostos. A empresa alcançou uma produção de cerca de quatro milhões de toneladas de carvão.
O desenvolvimento do projeto da Vale em Moçambique tem sido acompanhado de alguma tensão social, sobretudo associada ao processo de relocalização das comunidades que residiam na localidade de Moatize, em Tete.
LUSA – 23.05.2014