n'Kanyêzi de: Rafael Shikhani
Há pessoas neste país que cultivam o ódio e confundem-no com qualquer forma de actividade política ou de cidadania. As frustrações e incapacidades pessoais são atribuídas a terceiros e alimentadas anos a fio num mutismo cobarde e surdez à razão. Exercita a pessoa o seu ódio e a ele dá razão em todas as circunstâncias até que aquela morre em todo o seu ser. A partir daí levanta-se e começa a pregar o seu ódio, de uma forma velada, suave, umas vezes sorrindo, outras a vociferar, outras a ameaçar, outras mesmo sacudindo os pesados ombros da culpa para os ombros e consciência de quem o ouve e nele acredita.
De a uns anos para cá a política nacional foi evoluindo (os libertinos assim acham) do monopartidarismo (racional) ao multipartidarismo (irracional) onde desfilam a par e passo com os demais actores políticos (contam-se pelos dedos de uma mão e mesmo aí sob olhar atento de Diógenes, o Cínico) foliões, loucos, libertinos, oportunistas, vendilhões (de consciência, pedras e de almas) e nos momentos eleitorais camaleões e toda uma plêiade de pessoas que transforma o espaço político num circo de horrores, que não se coíbem de o fazer à procura de um lugar ao sol.
Crédulas, necessitadas e famintas de alternativas as massas ululam à volta destes novos Messias e ouvem incrédulas as suas inflamadas palavras e nas massas, alguns, imbuídos de animosidade pessoais e despidos de qualquer sentido crítico ao que ouvem piamente acreditam ou embarcam no comboio de ódios que os novos Messias comandam. Não filtram e engolem todo um discurso perigoso carregado de ódio e de mesquinhas ambições temperados com uma gigantesca pequenez, tudo veladamente alicerçado na divisão e no desiderato de cumprir uma agenda de raivas alimentadas durante anos e enxertadas na oportunidade da democracia.
Assim vão estes novos Messias espalhando sementes de raiva e de ódio nas pessoas esperando, naturalmente delas colher vantagens pessoais à custa da credulidade de alguns. Hoje a cidade de Nampula, depois de Quelimane, é dos macuas, antes disso coube a vez de os machanganas serem lembrados que podiam voltar para as suas terras (há sempre uma origem, um Ovo de Colombo, um mestre e uma doutrina). Quando se gere uma autarquia e colocam-se as prioridades materiais e de outra natureza, longe de materializar o manifesto eleitoral, e as prioridades da mesma e usa-se esta como trampolim político esta é a atitude que se tem.
Este é o verdadeiro discurso da divisão. Quando chamei “Radio Mille Collines” a alguns articulistas e jornais era a isso que me referia. Um bairrismo exacerbado com uma coluna tribal, divisionista que se esconde em discursos personalizados temperados com frustrações e ódios velados à mistura de poesias falsas.
“Moçambique para todos?” A sério? Os que compram ou deixam-se seduzir por este slogan devem antes perguntar pelo real projecto político e não se deixar levar por frases supostamente bem apanhadas. O poder a qualquer preço...
“Nem tudo que luz é oiro”, diz o adágio que apela à prudência. Um pouco parafraseando Mia, penso triste, como em vinte e tal anos de paz e de democracia o país não produziu políticos, mas assassinos.
PS. Deve haver urgentemente uma lei que puna, severa e exemplarmente, todo aquele que use um discurso que incite à violência, se alicerce no tribalismo e tenha como estratégia o discurso tribal e divisionista. A nação é um bem maior que qualquer ambição.
CORREIO DA MANHÃ – 27.06.2014