O fascínio único que a China exerce sobre quem dela se aproxima pode ser comparado à atracção entre os sexos, Sinólogo Simon Leys, citado In O Século Chinês, do jornalista Federico Rampini.
Entramos, em todos os sentidos, no século chinês. O seu maior rival estratégico, os EUA, é o primeiro a admitir que este século pertencerá à China, Federico Rampini.
Por Gustavo Mavie, da AIM, em Beijing
Uma revisitação aos estudos feitos por várias instituições, incluindo as norte-americanas como a sua Agência de Serviços Secretos (CIA) e o prestigiado Banco norte-americano de investimentos provam-se proféticos, ao confirmar o que o Goldman Sachs disse no início dos anos 2000, onde anteviu a China a destronar os EUA do lugar de superpotência, e nos próximos 30 anos, ter uma economia três vezes superior à de Washington.
Neste momento, a China catapultou-se à segunda maior economia depois dos EUA e há consenso entre peritos que nos próximos anos estará no topo como profetizou Napoleão há 198 anos que Quando a China acordar, o Mundo estremecerá, de facto o estremece com a sua musculatura económica.
Nesta revisitação à China, a convite da Associação dos Jornalistas chineses, com acima de um milhão de membros filiados, integrado numa Delegação dos responsáveis de alguns Órgãos de Informação moçambicanos, incluindo Jaime Langa, deste Notícias em que publico este artigo, me apercebo de facto que este País já está na iminência de ter de facto uma economia que será o triplo da norte-americana.
Para quem teve, como eu, a rara oportunidade de acompanhar indirecta ou directamente o espectacular e irreversível desenvolvimento socioeconómico deste gigante asiático, nota que a China atingiu uma velocidade-luz, na marcha rumo à triplicação da sua economia em relação à de Washington.
Os chineses estão a transformar, com o seu empenho no estudo sério e no trabalho árduo, o seu país num paraíso na Terra. Isto não é nenhum exagero, mas uma constatação baseada naquilo que era este país quando, em 2001, o visitei pela primeira.
Na altura, a sua capital donde escrevo este artigo e mesmo a cidade de Xangai, espelhavam uma imagem de velhice, degradação e estagnação que além de embaraçar os seus habitantes levavam os turistas a interromper as suas visitas.
Todavia, as cidades de Beijing e Xangai são hoje super-modernizadas e o orgulho dos seus residentes. Os turistas que nelas chegam, se esquecem de regressar aos seus países, como bem antevia o então Presidente do Município de Xangai em 2002.
Na altura, dizia que queria que a modernização levaria os turistas a se esquecerem de voltar aos seus países e de facto hoje muitos optam por viver nela de vez. Xangai e Beijing são hoje cidades mais do que belas, limpas e pitorescas. Na verdade, toda a China foi substancialmente modernizada nos últimos 36 anos e os seus líderes afirmam que nos próximos 20 anos, o país atingirá a prosperidade total e completa.
Para perceber melhor o quão profético foram os estudos que anteviram a rápida ascensão económica da China, conseguida em 30 anos contados a partir de 1978, quando o seu então líder Deng Xiaping e sucessor do fundador da China moderna, Mao Tse Tung, decidiu embarcar pela sua modernização, nada melhor que trazer de volta Federico Rampin.
No seu livro, cujo título o adaptou de uma investigação sobre a ascensão chinesa, do jornal norte-americano New York Times, publicado também em 2004: Em Fevereiro de 2005, os radares da economia mundial detectaram uma ultrapassagem plena de significado.
A China tornara-se no maior consumidor de produtos industriais e agrícolas, retirando este primado aos Estados Unidos que o detinham há quase 100 anos. Um mês antes a população chinesa atingia oficialmente a cifra do bilhão e trezentos milhões. É a dimensão demográfica da Europa somada à dos Estados Unidose multiplicada por dois. O boom económico chinês é que dita agora os ritmos e as regras do sistema em que vivemos.
Nenhum sector, nem mesmo os mais avançados tecnologicamente, se encontra a salvo da sua concorrência: a China encarna o maior povo de consumidores, o mais vasto reservatório de força do trabalho, bem como uma nação que consegue se destacar na investigação científica, na conquista do espaço, nas biotecnologias.
De acordo com o Banco Goldman Sachs, dentro de 30 anos, a economia chinesa será três vezes maior que a dos Estados Unidos. Segundo as estimativas da Revista The Economist, o desenvolvimento da China contribuirá, no próximo meio século, para a economia do planeta com uma riqueza equivalente á descoberta de mais quatro Américas. Entramos, em todos os sentidos, No Século Chinês.
A acepção de Rampin vai-se provando a avaliar pelo que os chineses fizeram desde 2005/14. O país é mais atractivo aos turistas, tal como acontece entre os sexos como disse o sinólogo Leys para evidenciar a sua atracção.
Pouco antes de escrever este artigo, passeei por Beijing e pela famosa Grande Muralha, onde notei que é a Meca turística dos povos do Mundo. Os seus hotéis estão sempre apinhados de gente de todas as partes do globo que cá vêm ver este milagre económico que os chineses protagonizaram em apenas 30 anos.
Uma das provas de que os chineses estão mais do que determinados a fazer do seu país o mais atractivo ou pelo menos um dos mais atractivos aos turistas, é a forma higiénica com que as mantêm, apesar de serem habitadas por dezenas de milhões. Beijing, por exemplo, conta com mais de 20 milhões de habitantes, e acolhe igual número de turistas por dia! Na China cada um cumpre zelosamente com o que deve e o que não deve fazer. Há um cumprimento rigoroso das práticas urbanísticas, normas e leis.
Uma das alavancas que está a catapultar a China ao sucesso económico é ter um povo que vai à escola e universidades para assimilar conhecimento e não só para trazer um diploma, e faz do trabalho a sua maior paixão e do empreendedorismo, uma cultura ou uma religião.
Ao contrário do que acontece em muitos países, em que os pobres passam a vida a invejar ou odiar os que já são ricos, os pobres chineses se inspiram nos seus abastados para serem também ricos.
Na China, a proliferação do espírito empreendedor é um fenómeno de massas. A conclusão também de Rampini no seu célebre livro O Século Chinês, recomendável aos moçambicanos para perceberem como este povo amigo e até aliado, catapulta-se da pobreza à prosperidade.
Na obra, Rampini vinca que os chineses se guiam agora pelo slogan de Deng Xianping de que Ser rico é glorioso, e é com base nesta tese que eles estão a passar duma História secular de frustrações ao imenso orgulho pela sua Nova China.
MOÇAMBIQUE E CHINA NÃO SÃO SÓ AMIGOS MAS TÊM UMA HISTÓRIA SEMELHANTE
Uma das constatações que me impele a escrever muito sobre este país, é a semelhança do seu mais recente passado histórico e as estratégias de que se têm valido para sair dos problemas com que se debate. Um aspecto comum, r4eside no facto de até 70 e 80, mesmo o povo daqui da capital Beijing dependia da distribuição racionada dos ovos, tal como o era em Maputo e no resto do país.
Hoje os chineses não só têm ovos suficientes mas muitas outras coisas para eles próprios como para vender a outros povos. Quando visitei a China, pela primeira vez em 2001, Beijing era ainda uma cidade cujos habitantes só tinham quase só bicicletas para se deslocarem.
Volvidos apenas 13 anos, as bicicletas constituem um meio de transporte em extinção. Beijing conta hoje com um parque automóvel superior a seis milhões de viaturas e uma rede luxuosa e suficiente de transporte público, como autocarros e comboios, incluindo os mais modernos conhecidos por comboios balas, cuja velocidade atinge mais de 300 quilómetros por hora.
Se tivéssemos em Moçambique, podia se ir de Maputo a Pemba e vice-versa num intervalo de tempo igual a seis horas, no lugar dos dias que se leva hoje a chegar àquele ponto do país.
Analisando a viragem económica da China numa linguagem matemática, dir-se-ia que este país mudou de 8 para 80, provado pelas estatísticas a que tenho tido acesso, cuja compilação não é tarefa fácil.
Aliás, motivado pelo tal espírito empreendedor, o povo chinês, não só aqui no seu país como além-fronteiras caso de Moçambique e um pouco por toda África e do Mundo em geral, está a levar os camponeses a aumentarem a produção agrícola em mais 20 por cento por ano desde 1978 a esta parte. Este feito está a libertar mais de mil milhões de pessoas do espectro da pobreza.
De um povo que não tinha para comer entre 70 e até meados de 80, virou agora um dos maiores compradores de bens de luxo. Só entre 1980/85, os chineses compraram 100 milhões de televisores, e entre 85 a 90 por cento instalaram nas suas casas 50 milhões de máquinas de lavar loiça e 40 milhões de geleiras ou congeladores.
Uma análise fria e honesta do que o seu povo conseguiu em tão pouco tempo, que aos outros povos levou centenas senão mesmo milhares de anos, dá razão ao fundador da grande Nação, Mao Tse Tung, quando disse nos anos 60 ao então Secretario de Estado norte-americano Henry Kissinger, que a China seria mais ponderosa que os EUA.
Kissinger confessa num livro que publicou recentemente sobre esta espectacular ascensão económica chinesa com o título em On China (Sobre a China), que na altura achou que era a pior aberração que estava a antever, mas que agora se rende aos factos, porque, na verdade, ele estava a ser profético.
A antevisão de Mao pode se comparar à do também fundador da nação moçambicana, Samora Machel, quando em plenas carências alimentares e de tudo mais, não se cansava de cantar que um dia se iria comer à fartura em Moçambique. Hita chura Moçambique (Teremos à fartura em Moçambique), assim cantava sempre que orientava um comício cheio de famintos.
Hoje as bichas que se formavam para comprar tudo são coisa do passado, o seu Moçambique faz já parte do pequeno grupo de 10 países que no mundo inteiro estão em rápida ascensão económica, e têm no topo esta China com que ele e a sua Frelimo se inspiravam nas suas políticas e ideologias.
Tal como no caso da China, estudos indicam que Moçambique será, nos próximos 20 anos, um dos países de muita prosperidade. Os imensuráveis recursos naturais até aqui descobertos um pouco por todo o país, como o carvão mineral de Tete e o gás de Cabo Delgado, são apontados catalisadores da ascensão moçambicana, almejada há milénios.
GM/le
AIM – 24.06.2014