REFLEXÃO de: Adelino Buque
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, declarou há dias que “mandei cessar-fogo unilateralmente; as FADM que abastecem as posições passam, mas não são atacadas; não atacamos na n.º1”, citei de memória. Estas declarações, feitas voluntariamente, dissipam a contra-propaganda que é feita nas zonas de cimento segundo a qual as FADM e a FIR atacam e procuram matar o líder da Renamo.
Ficou claro que Afonso Dhlakama manda atacar colunas que reabastecem as posições das FADM sempre que lhe convém. Quando lhe interessa manda cessar-fogo para transmitir seriedade à sociedade moçambicana e à comunidade internacional.
Depois das declarações acima, os homens armados da Renamo voltaram a atacar viaturas que reabastecem as FADM. Na última semana de Maio e no dia 2 de Junho ocorreram ataques da Renamo na EN1, que causaram mortos e feridos. Estes ataques vêm dar substância à declaração do fim de cessar-fogo lida por António Muchanga, porta-voz do líder da Renamo e do partido Renamo!
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, é, segundo o secretário-geral do partido, o candidato presidencial natural daquela formação política.
Como entender ataques contra alvos civis na EN1?
Como entender a declaração deste mesmo secretário-geral segundo a qual no actual cenário o melhor é dividir Moçambique, numa altura em que estamos a menos de três meses do início da campanha eleitoral?
Como entender que a Renamo no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano seja intransigente relativamente à chefia militar e policial que ataca e meia volta diz que mandou cessar-fogo para fazer adormecer e voltar a atacar? Isto é, no mínimo, ridículo. Com esta atitude, o líder da Renamo revela-se um verdadeiro HOMEM DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE!
Curioso é saber que existe algum sector de opinião que encoraja as acções armadas da Renamo. Este segmento é representado por analistas que raramente condenam as acções do partido Renamo; pelo contrário, procuram no Governo atitudes que justificam esses ataques, esquecendo-se que só o Governo tem o monopólio da violência em nome de todos nós. Podemos estar de acordo ou não. Por outro lado, e em respeito à lei dos partidos políticos, a Renamo deveria estar numa situação de ilegalidade, como dizia acima: quem mata a população não vejo com que imagem irá pedir votos aos eleitores, salvo se for para dizer “votem em mim se não vos massacro”. Penso que esta linguagem também não é permitida.
Até compreendo que as pessoas não se simpatizem com o partido Frelimo, mas não compreendo é que essa falta de simpatia as possa cegar a ponto de não conseguirem discernir o certo do errado. Aliás, no exercício da sua cidadania, as pessoas estão livres de se identificarem com este ou aquele partido mas esse facto não as deve impedir de olharem para os aspectos que pura e simplesmente transcendem as questões de carácter partidário. Temos de olhar para a nação de forma desapaixonada; temos de ser capazes de dizer “aqui não está certo” em função da nossa consciência. Trata-se de um exercício de pura cidadania. Há gente que não há-de compreender isso em todas as formações políticas, mas parto do princípio que os críticos ou analistas possuem bases de análise que outras pessoas não possuem, por conseguinte, podem influenciar a opinião de forma positiva.
MDM um partido sem ideologia
Outro dado curioso é o posicionamento do MDM face à presente instabilidade. Não se conhece o pensamento político e posicionamento deste partido político. Parece que age em função da sazonalidade política, quando lhe convém mete a Renamo e o Governo no mesmo saco, como se isso fosse possível. Muitas vezes os dirigentes do MDM confundem o partido Frelimo com o Governo de Moçambique, sendo que é facto que a Frelimo é o partido da posição, ainda assim, existe alguma distância entre o partido e o Governo. Quando o líder do MDM vem a público dizer que “o Governo e a Renamo têm ganância do poder, eles usam armas para matar os cidadãos, que os seus filhos, sobrinhos e familiares directos não estão directamente envolvidos nesta guerra”. Ora isto é pura demagogia, a questão importante é saber o que pensa o partido MDM sobre as exigências da Renamo nas conversas da Joaquim Chissano; a questão é saber se existe fundamento, do ponto de vista do MDM, para as actuais exigências da Renamo!
Deste debate o MDM furta-se, prefere lançar confusão na sociedade aparecendo ele, o MDM, como aquele por quem as pessoas devem optar porque não possui armas. Se o MDM ganhar as eleições vai desarmar a PRM e as FADM?
Ou será que vai às eleições ciente de que vai perder e, por conseguinte, um debate de fundo sobre políticas não lhe interessa. Só assim se justifica esta fuga para frente constante ou é do interesse do MDM que Dhlakama seja declarado senhor da guerra e ilegalizado para ficar ou capturar o seu eleitorado!
CORREIO DA MANHÃ – 09.06.2014