Reflexão de: Adelino Buque
Aminha reflexão desta semana poderia ser sobre o campeonato mundial de futebol que neste momento decorre no BrasilMundial. Esta competição realiza-se somente de 4 em 4 anos. No momento em que escrevia este artigo (sexta-feira) já eram conhecidas as equipas que transitaram para os oitavos de final. Para o orgulho de África, Nigéria e Argélia passaram para a fase seguinte. Esta copa tem características específicas: o melhor jogador do mundo saiu da porta “ajustada” para o seu estatuto; o campeão do mundo foi servido no quintal e proibido de usar até a porta dos fundos, digamos que saltou o muro, mas valeu!
Futebóis à parte, a semana que terminou teve muitos acontecimentos domésticos sobre os quais vale a pena reflectir, a começar pela III Conferência Nacional do Partido Renamo, realizada de 23 a 24 de Junho, na cidade da Beira. Como tem sido habitual, estava preparado para parabenizar a Renamo por este evento de grande importância política. Contudo, como nos vem habituando, a Renamo acabou tornando esta conferência num momento do qual muitos moçambicanos não desejam ouvir, ao decidir DIVIDIR MOÇAMBIQUE.
Na semana passada, porque comemorámos os 39 anos da independência nacional, juntaram-se vozes que conhecem e dominam o dossier Acordo Geral de Paz, tais como Mario Raffaelli e Aldo Ajelo. Essas vozes autorizadas consideram que nada há por implementar no AGP assinado na Itália. Essas vozes reconhecem, tal como fez o Presidente Joaquim Chissano, que o maior erro foi ter permitido que permanecessem homens armados para garantir segurança a altos dirigentes da Renamo. Mario Raffaelli foi mais longe ao considerar que “o facto é que agora há muitas pessoas armadas. Isso não é um problema do AGP, mas sim um problema actual”, remata.
Este facilitador italiano disse igualmente que a organização do Exército e da Polícia é um problema do Parlamento, onde existem muitas outras vozes que não são da Frelimo nem da Renamo. Contudo, sublinha, “deve reconhecer-se a importância de Dhlakama e da Renamo”.
Chegados aqui, é preciso recordar a entrevista do Presidente Joaquim Chissano à STV quando disse que “perguntei a Dhlakama se queria que eu fizesse algo e ele respondeu-me que não, se não podem pensar que foi comprado”. O líder da Renamo é por força constitucional membro do Conselho do Estado; é líder incontestável, até 15 de Outubro, da Oposição; tem espaço no protocolo do Estado que nunca quis usar. A questão é, como fazer entender ao senhor Afonso Dhlakama que é uma pessoa reconhecida no país?
Existem muitas correntes que defendem que se deve dar dinheiro à Renamo, como é o caso do Joseph Hanlon. Mario Raffaelli rejeita esta forma de fazer política, nos seguintes termos: “Não concordo com este posicionamento. Como disse antes, é preciso reconhecer o papel da Renamo e de Dhlakama, particularmente. A questão principal é a transparência e a eficácia das eleições e a forma como são contemplados vários sectores da sociedade moçambicana. Trata-se de uma questão geral e não de uma questão monetária. Penso que a questão não é dividir 50% do Exército”.
Contra todas as expectativas, esta é a questão, caro Mario Raffaelli, a Renamo é o nosso paradoxo!
PS: Um velhote jornalista, reconhecido pela sua aversão à Frelimo e simpatias à Renamo, acaba de sofrer uma desilusão com as declarações dos italianos. Será que vai considerá-las do G40!
Esperemos para ver.
CORREIO DA MANHÃ – 30.06.2014