VINTE e seis anos depois, a UNITA explica-se sobre a sua aliança com a África do Sul do “apartheid”. Num documento do seu Comité Permanente da Comissão Política, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) defende-se que a aliança com Pretória, durante a guerra civil, foi "político-militar" e "circunstancial".
Esta, segundo a agência Lusa, é uma das 16 teses publicadas pelo maior partido da oposição angolana num documento com as conclusões do 1.º Ciclo de Conferências sobre a Paz e a Estabilidade na África Austral, promovidas, desde 23 de Abril último, pela UNITA.
"A aliança da UNITA com a África do Sul durante alguns anos não foi uma aliança com o racismo nem com a exclusão. Foi uma aliança político-militar, circunstancial, entre dois vizinhos que num dado momento da História tinham interesses convergentes que decidiram defender conjuntamente, mantendo cada um a sua identidade, sua independência e seus valores", lê-se no documento, a que a Lusa teve acesso recentemente.
Durante a guerra civil que se seguiu à independência de Angola do colonialismo português foram conhecidos os apoios do regime do “apartheid” à UNITA, na década de 80 do século passado, através das forças militares sul-africanas (SADF). Já pelo lado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder, combaterem militares cubanos, entre outras forças.
Precisamente sobre os confrontos entre as forças destes dois movimentos, outra das teses do documento da UNITA, elaborado pelo Comité Permanente da Comissão Política com base nas conclusões das três reuniões realizadas desde Abril, defende que a história da batalha do Cuito Cuanavale (sul) que o MPLA apresenta como uma derrota histórica para as forças de Jonas Savimbi, tal como está a ser contada, "é um mito".
"É uma fraude que precisa de ser amplamente desmascarada e completamente reformulada", lê-se no documento.
“SUBVERSÃO DO REGIME DEMOCRÁTICO"
Segundo a Lusa, uma outra tese do documento, que o partido da oposição defende ser um "contributo para a história", recorda que "ao terem convidado e encorajado as forças expedicionárias cubanas a apoiar o MPLA", contra a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a UNITA, o "Movimento das Forças Armadas e o Partido Comunista Português (Portugal), constituíram-se nos principais responsáveis do incumprimento dos Acordos de Alvor (em 1975, para partilha do poder entre as três forças angolanas) ".
O documento afirma numa outra tese que a "subversão do regime democrático", após o fim de trinta anos de guerra, em 2002, levou à "instauração em Angola, de um regime autoritário", o que "constitui um retrocesso aos Acordos de Paz e obstaculiza a reconciliação nacional e a unidade nacional".
Defende também que os cidadãos nacionais "clamam por memoriais que os reconciliem e não por monumentos que exaltam aliados estrangeiros e ateiam a exclusão e o ódio contra os angolanos".
"Neste sentido, o Estado deve erigir um monumento em homenagem aos pais da independência Álvaro Holden Roberto (FNLA), António Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Malheiro Savimbi (UNITA), e demais combatentes da luta anticolonial", afirma outra tese deste documento.
A última destas 16 teses reclama a "instauração efectiva da democracia em Angola", bem como "a concretização da genuína reconciliação nacional e a resolução definitiva do conjunto de problemas pendentes e mal resolvidos", tendo no "espírito de Bicesse" a "base para a feitura do Novo Contrato Social Angolano e para a plena Integração Regional de Angola".
NOTÍCIAS – 30.06.2014