Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
A barbárie tomando conta da política
São muitas as perguntas que se fazem no mundo inteiro sobre o renovado conflito entre Israel e a Palestina. São muitas as respostas que as partes e os seus aliados oferecem quando questionados sobre a deflagração de mais uma guerra localizada naquela região.
Há um sentimento de impotência e de desespero, de horror e de carnificina acontecendo perante o olhar impávido de Governos que se afirmam potências regionais e internacionais.
Uma política obtusa feita com base em pressupostos de dureza e de intolerância está empurrando vizinhos históricos para um novo holocausto.
Corre sangue de inocentes, enquanto os promotores da carnificina estão protegidos nos seus “bunkers” e apartamentos de luxo no exílio.
Se todos reconhecem que o assunto Israel/Palestina jamais foi “osso fácil de roer”, está faltando a coragem dos governantes e chancelarias internacionais de se colocarem do lado da razão nesta embrulhada de dimensões históricas.
Ninguém quer aparecer afirmando para as cadeias televisivas que foram erros históricos de políticos já defuntos que trouxeram a tragédia e o ódio para aquela região.
Sob alegações distorcidas e fundadas na crença de que a diplomacia do músculo e o poderio militar tinham força e pernas para andar, houve potências que decidiram reescrever a história e as fronteiras entre árabes e judeus. Vizinhos que se conheciam e se toleravam foram sendo empurrados para a confrontação por uma política fundada no fanatismo político-religioso.
Hoje a situação é polvorosa e as feridas de guerras passadas estão abertas e sangrando. Dos políticos e de Governos que se dizem importantes e fundamentais para a descoberta duma solução digna e consensual, não se encontram receitas viáveis para estancar o assassinato de civis inocentes.
Eleitoralismo dum lado, fanatismo de outro, reducionismo político, cegueira e incoerência, estratégias de aniquilação do outro e da imposição forçada de fronteiras geográficas reacendem um conflito que já perdura há décadas. É na verdade, talvez, o mais velho conflito activo no mundo.
Sucessivas administrações americanas e russas não têm conseguido tomar conta do assunto, como se deveria esperar dos que se arvoram superpotências. Os Governo francês e britânico silenciosa e cobardemente apartam-se das suas “culpas no cartório”, enquanto potências coloniais de peso na região.
E como os políticos vivem de resultados, os “lobbies” da guerra, do complexo bélico-industrial, circulam nos corredores de Londres, Moscovo, Washington, cimentando posições e advogando soluções punitivas.
Parece que em Washington se está esperando pelo falhanço de John Kerry nos seus esforços de encontrar um cessar-fogo. No Egipto, as contas do novo regime são em função do que os seus “inimigos” possam perder ou ganhar com um eventual cessar-fogo. Na Arábia Saudita ou no Qatar, os príncipes milionários não querem solução alguma que coloque em risco o seu poder absoluto.
A fórmula duma democracia política, respeitando direitos políticos e geográficos de entidades internacionalmente reconhecidas, de dois Estados, Palestina e Israel coexistindo pacificamente é está sendo recusada pelos extremistas da região. Mas sem o apoio de fortes batalhões situados em círculos poderosos de Washington, Londres e Moscovo, não teríamos tanta teimosia e ódios reinando.
Um entendimento na região flagelada por um combate inaceitável numa sociedade que se diz e se pretende moderna e civilizada terá que passar pelo fim do isolamento de elementos fundamentais na região. A doutrina dos Estados do “eixo do mal” tem de ser definitivamente enterrada e em seu lugar emergir um pacote integrado de relações entre Estados e povos respeitando as regras de boa vizinhança, cooperação e respeito mútuo.
Washington não pode nem deve sentir-se autorizada a impor soluções amargas para uns e doces para outros.
O mundo está globalizado e estamos todos no mesmo barco. Se fendas se abrem no Médio Oriente, significa que água estará entrando e, em caso de se afundar, é o mundo todo que se afunda.
Os jogos diplomáticos e as receitas ou teorias oferecidas pelos laboratórios dos “think-tanks” como o Conselho de Relações Externas apresentam-se vazios de utilidade neste crítico momento. As suas considerações e motivações estratégicas acomodam, como se tem visto amiúde, teses de quem beneficia da guerra e do “status”.
Se falamos em democracia, não pode haver parcialidade por causa de recursos estratégicos como o petróleo.
Antes de se encontrarem os caminhos para uma paz duradoura, é obrigação das potências que enquadram o Conselho de Segurança da ONU parar com a matança de inocentes. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 31.07.2014