Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Uma reunião tardia e de utilidade duvidosa…
Quando alguém nos habituou ao silêncio e prepotência sempre que se lhe questione ou critique qualquer mudança brusca de atitude levanta suspeitas.
O caso de uma convocatória extemporânea do Conselho de Estado pelo PR é uma daquelas ocasiões esperadas que já tardavam.
Embora a lógica recomende que não tenhamos muitas ilusões sobre os conselhos que de lá sairão ou se o PR realmente os escutará e tomá-los-á em conta convém frisar que em fim de mandato e para justificar a existência de uma instituição constitucionalmente prevista tal reunião tinha que acontecer.
Vive-se uma situação de desespero institucional derivada de hábitos que foram inculcados por uma liderança que sempre se mostrou desconfiada dos conselhos. Parece que qualquer pessoa de boa vontade que quisesse opinar sobre os rumos da governação era percebido ou catalogado de metediço, intrometido e sabotador.
A concentração do poder nesta terceira república transformou uma república em algo próximo a uma monarquia absoluta.
O PR abdicou de receber conselhos e assessoria tecnicamente útil de segmentos próximos de seu partido e de membros do governo de seu antecessor. O capital de experiência de importantes quadros nacionais foi propositadamente ignorado.
Mesmo em sectores chaves para a soberania nacional viu-se uma autêntica desmontagem de quadros com uma longa experiencia nas lides militares e policiais.
Houve como que uma tentativa de varrer do palco qualquer “sinal do passado”.
Numa actuação similar ao que aconteceu com o “escangalhamento do aparelho de estado colonial” logo após a independência, em que os portugueses foram como que empurrados para fora do país numa estratégia de evitar “sombras” ao poder que se instalava, o PR, AEG, decidiu que não queria qualquer possibilidade de confrontar-se com “apóstolos da desgraça”.
Uns dirão que se critica quando ele faz e o mesmo acontece quando ele deixa de fazer.
Governação efectiva e com impacto significa aproveitamento de oportunidades e uma acção proactiva.
O processo político moçambicano encalhou ou derrapou de forma visível sem que se tenha visto o PR interessado ou preocupado em reunir-se com os seus conselheiros. Uma forma unilateralista de governar empurrou o país para a crise.
Muitas foram as vezes que analistas, académicos e políticos se manifestaram contra a postura do PR no que se refere a sua pouca disponibilidade para o diálogo e engajamento construtivo na arena sociopolítica. Da presidência os sinais claros de que não havia espaço para questionamentos foram se avolumando com o tempo.
Uma das recordações que AEG deixará deve ser a de “catalogador”.
Agora que se decide a reunir o CE é razão para antever que os conselhos não serão ouvidos ou executados.
Quando se diz que o Conselho de estado convocado é uma factura-proforma fora de prazo é exactamente isso pois depois do caldo entornado e de uma série de manobras dilatórias, com legalismos a mistura e falsos pronunciamentos ligando os consensos fundamentais à uma suposta soberania, temos uma guerra ceifando vidas. Os combates fratricidas de hoje teriam sido evitados se a postura do PR tivesse sido outra, se tivesse convocado muitos Conselhos de Estado.
Não querendo ser pessimistas mas tendo em conta aquilo que tem sido os pronunciamentos e prática convém não alimenta muitas esperanças quanto ao desfecho da reunião convocada.
Há uma persistente estratégia de ignorar os pontos de rotura política. Há uma corrosiva maneira de fazer política que no lugar de aproximar os moçambicanos os afasta e cria condições para que se agridam.
Uma camuflada ofensiva de partidarização do estado tomou forma e consolidou-se numa altura em que se esperava que o aprofundamento da democracia fosse a via seguida.
O desprezo dos outros desenvolveu um clima propenso aos abusos e impunidade dos prevaricadores. Agentes do estado, funcionários com algum poder, sentem-se protegidos em suas acções mesmo quando estas são claramente contra as normas e leis do país.
O que reina é uma cultura de medo em que as pessoas se recusam a assumir suas responsabilidades ou a agir pois não sabem se será do agrado das chefias e do chefe.
Assim não é de crer que a maior parte dos membros do Conselho de Estado cheguem a abrir-se e honestamente apresentem seus pontos de vista. Há um situacionismo e gestão de imagem que levam mentes brilhantes a calarem-se mesmo face ao conflito político-militar que se instalou no país. A “defesa da pele”, a protecção patrimonial, o jogo do elogio barato e pérfido estarão em evidência mais uma vez.
Mas como a esperança é a última a desaparecer esperemos que num último suspiro, os conselheiros nos surpreendam, surpreendam o povo moçambicano e co0ntribuam para as jogatinas, as “cartas na manga” sejam afastadas da política moçambicana.
O país está ansioso e exige resultados.
As oportunidades perdidas são irrecuperáveis… (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 08.07.2014