Diálogo político entre o Governo e a Renamo
- Com receios de ser “caçado” no futuro, a Renamo quer ponto por ponto devidamente escrito na versão final do documento que deve num primeiro momento ser rubricado, em sessão solene, pelos chefes negociais e num segundo momento por Guebuza e Dhlakama
As delegações do Governo e da Renamo não conseguiram, esta quarta-feira, rubricar o tão esperado acordo ou “documento final” que vai selar
Definitivamente o entendimento entre as partes e consequentemente devolver o ambiente de paz e estabilidade efectivas ao País.
No final da sessão, contrariando a expectativa da maioria dos moçambicanos, as partes apresentaram justificações diferenciadas quando foram questionados por jornalistas sobre as razões por detrás da não assinatura dos acordos.
Primeiro a falar depois do fim da sessão desta quarta-feira, o chefe da delegação do governo, o ministro da agricultura, José Pacheco, buscou justificação no alegando acréscimo de pontos de garantia da implementação dos acordos por parte da delegação da Renamo. Ou seja, de acordo com José Pacheco, os acordos não foram assinados por culpa da Renamo, que levou para a sessão desta quarta-feira elementos adicionais de garantia da implementação dos acordos entre as partes.
“Chegado a este ponto a Renamo trouxe à mesa alguns elementos adicionais de garantia e perante esta apresentação o governo achou por bem receber e fazer uma avaliação sobre como é que esses novos elementos se encaixam com os termos de referência com as linhas de aproximação e com os mecanismos de garantia já consensualizados” – justificou Pacheco, que assegurou que as questões adicionais apresentadas seriam minuciosamente analisados pelo governo e na próxima ronda, segunda-feira, o governo iria apresentar a sua reacção.
Apesar desta realidade, José Pacheco, classificou de “bastante positiva” a ronda negocial que ontem teve lugar, pois “foram fechados os termos de referência sobre a
Implementação das garantias e da observação militar internacional”.
“Tivemos mais uma sessão. Mais uma vez com avanços pelo facto de termos fechado em definitivo as linhas de aproximação entre o governo e a Renamo em torno dos termos de referência sobre a participação dos observadores militares internacionais, pelo facto também de termos concluído o pacote dos mecanismos de garantias de implementação dos termos de referência para os observadores militares internacionais e também há consenso à volta de como se vai fazer a cessação das hostilidades” – enumerou Pacheco.
Acrescentou depois que as partes também chegaram a consenso em relação “a forma como se vai fazer a integração dos elementos armados da Renamo, há consenso de como se vai fazer a reinserção social dos elementos da Renamo e também há consenso de que findo todo este processo, nenhum partido vai ser detentora nem de homens armados nem de esconderijo de armas”.
Não há nenhum novo ponto
Por seu turno, o chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiana, encontrou uma justificação, de alguma forma, diferente da apresentada por José Pacheco em relação as razões de fundo por detrás da não assinatura dos acordos esta quarta-feira.
Negando a submissão de mais um ponto em torno das garantias, Saimone Macuiana explicou que o que está em questão é apenas a clarificação dos pontos de garantia já consensualizados entre as partes.
De acordo com este dirigente da Renamo, o referido ponto, em nenhum momento entra em choque com os princípios acordados pelas partes na discussão dos pontos debatidos e nas questões de garantia. Apesar disso, Macuiana disse que a posição do governo era compreensível no sentido de proceder a consultas para a tomada de decisão.
“Não há nada de novo. O que propusemos apenas ajuda a clarificar os aspectos de garantia, pois precisamos que as coisas estejam o mais claro possível. São clarificações que irão ajudar a todos na medida em que irão garantir um acordo duradoiro, definitivo e que no futuro não voltemos a ter questões como estas”.
A ideia é que o acordo seja assinado assim que tudo ficar clarificado pelos dois chefes de delegação, no caso Saimone Macuiana pela Renamo e José Pacheco pelo governo. A
assinatura, segundo soubemos, deve acontecer em acto solene, o que quer dizer que deverá ser assistido por alguns convidados. Mais tarde, espera-se, o acordo deverá ser assinado pelo Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama e pelo Presidente da República, Armando Guebuza.
MEDIA FAX – 31.07.2014