DEZOITO anos após a sua criação, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, longe de ser um fórum iminentemente político ou de apenas convergência da língua, deve ser uma organização efectivamente virada para o cidadão, de livre circulação e um espaço onde os seus povos sintam que de facto vale a pena pertencer à comunidade.
Este foi o denominador comum nas declarações das proeminentes figuras que tomam parte na X Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, a acontecer hoje, em Díli, e que ficará marcada pela passagem do testemunho da presidência rotativa de Moçambique para Timor-Leste.
A decorrer na Sala de Conferências do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, a cimeira irá iniciar com a intervenção do Chefe de Estado anfitrião, ao que se seguirá o discurso do Presidente da República, Armando Guebuza, que se encontra em Díli desde ontem. Tratar-se-á do derradeiro discurso de Guebuza na qualidade de presidente desta organização lusófona, pois a partir desta cimeira a presidência da CPLP estará nas mãos de Taur Matan Ruak, Presidente de Timor-Leste.
Ontem, no decorrer da inauguração da Ponte da CPLP, que ostenta este nome em reconhecimento da solidariedade dos povos e irmãos da comunidade durante os difíceis anos de libertação de Timor-Leste, segundo referenciou Matan Ruak, os vários convidados à cimeira convergiram na ideia de uma organização mais aberta, que privilegie os seus cidadãos através de mais fóruns de contacto, de amizade e de irmandade, com particular realce para empresários, jovens e mulheres, criando-se assim sinergias entre os múltiplos actores desta integração lusófona. Como exemplo destacou-se o facto de, justamente hoje em Luanda, se iniciarem os Jogos Desportivos da CPLP, uma forma, por excelência, do entrelaçamento de jovens e de desportistas da comunidade.
Na óptica dos Chefes de Estado e de Governo, apesar de os oito países da comunidade se encontrarem em espaços geográficos longínquos uns dos outros e se encontrarem em quatro continentes, o esforço conjunto, tanto a nível político como da sociedade civil, deve ser no sentido de a aproximação ser efectiva, mas também a organização se preocupar com as questões económicas, das tecnologias de informação, da promoção da igualdade do género e da construção de uma juventude dinâmica e realmente comprometida com as causas dos seus países, em particular, e da comunidade, em geral, como são os casos do combate à pobreza.
GUINÉ-EQUATORIAL MEMBRO DA CPLP
A despeito de algumas reservas até há bem pouco tempo colocadas por Portugal, alegando se tratar de um país anti-democrático e onde as liberdades fundamentais dos cidadãos são coarctadas, a Guiné-Equatorial será, a partir de hoje, o novo e nono membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A admissão deste pequeno país africano, com um invejável Produto Interno Bruto e com uma economia assente no petróleo, entrará nos anais da história do encontro de Díli, pois trata-se do primeiro não falante do Português – a língua oficial é o Espanhol.
Segundo garantiu ontem a jornalistas o secretário executivo da CPLP, Murade Murargy, a entrada da Guiné-Equatorial é irreversível e os Chefes de Estado e de Governo apenas se encarregarão de confirmá-la, uma vez estarem criadas todas as condições para que tal aconteça. Segundo o diplomata moçambicano, as exigências impostas aos equato-guineenses como condição para a sua entrada na comunidade foram cumpridas, “daí não existirem razões, neste momento, para que a Guiné-Equatorial não seja admitida na CPLP”, esclareceu Murargy.
Aliás, para testemunhar este acontecimento histórico para o seu país, o Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, chegou ontem a Díli, tendo, inclusive, participado, lado a lado com os outros Chefes de Estado e de Governo, no banquete oficial oferecido pelo Chefe de Estado timorense. No seu rosto era visível a satisfação por este facto, uma vez que a questão equato-guineense na CPLP tem estado envolta em polémica, não somente em Portugal como também noutros países, alegadamente porque, por um lado, não é de expressão portuguesa; e, por outro, pela ausência do respeito pelos direitos humanos.
ALEXANDRE ZANDAMELA, em Díli (Colaboração)
NOTÍCIAS – 24.07.2014