PORTA-voz do líder da Renamo, António Muchanga, foi detido na manhã de ontem, em Maputo, à saída da reunião do Conselho de Estado, órgão de que também é membro. O referido encontro havia sido convocado pelo Presidente da República, Armando Guebuza, para debater a actual situação político-militar no país, caracterizada por ataques fortuitos da Renamo, particularmente a colunas de viaturas em Muxúnguè, província de Sofala, o que resulta em perdas de vidas humanas e bens.
Segundo fonte autorizada do Comando-Geral da Polícia, António Muchanga recolheu aos calabouços, pesando sobre si o crime de incitação à guerra, postura que vinha assumindo invariavelmente nos seus habituais pronunciamentos públicos. No entanto, segundo a mesma fonte, a legalização da prisão será feita hoje por um juiz do Tribunal Supremo, entidade que está a tramitar o processo, isto depois de analisada e chancelada a sua prisão pela Procuradoria.
Ele foi depois conduzido por uma unidade das forças policiais à 8.ª Esquadra da Polícia que funciona no Porto de Maputo.
A sua detenção seguiu-se ao cumprimento de uma decisão dos membros do Conselho de Estado que votaram a favor da retirada da sua imunidade como membro deste órgão. No que diz respeito à imunidade, os estatutos da organização do Conselho de Estado referem que “nenhum membro do Conselho de Estado pode ser detido ou preso sem autorização do Conselho, salvo por crime punível com pena de prisão maior e em flagrante delito”.
Assim, Muchanga foi detido pouco depois de o Conselho de Estado ter-lhe retirado a imunidade, numa sessão que por sinal ele também participou. À saída da sala onde decorreu a reunião, Muchanga estava visivelmente tenso e transtornado, comportamento que prenunciava para os jornalistas que algo não tinha corrido bem consigo na sala de sessões. Aliás, em algum momento e em voz baixa, ele chegou mesmo a dizer para alguns jornalistas o seguinte: “ (…) esta gente quer prender-me, porque me retirou a imunidade (…)”.
Simultaneamente, nos corredores que levam à sala de sessões, já se deixava escapar alguma informação que indicava que estava iminente a detenção de António Muchanga. Todavia, estava fora das cogitações da maioria dos homens da comunicação social ali presentes de que a sua detenção iria ocorrer em plenos jardins do novo edifício do Gabinete da Presidência da República.
Muchanga é o segundo membro da Renamo detido por manifesto empenhamento público nos actos de incitação à guerra, o que é punido por lei.
Recorde-se que em Junho do ano passado foi detido o seu companheiro de partido Jerónimo Malagueta, depois de anunciar publicamente a intenção de interditar a circulação normal de pessoas e bens ao longo da Estrada Nacional Número Um (EN1), entre o Rio Save e Muxúnguè, na província de Sofala.
Entretanto, numa primeira reacção, a Renamo, através do deputado e chefe da delegação ao diálogo político com o Governo, Saimone Macuiane, disse que desconhece as causas da detenção de Muchanga. “Não temos informações pormenorizadas sobre o assunto. Tivemos esta informação durante o diálogo” –disse Macuiane.
NOTÍCIAS – 08.07.2014