REFLEXÃO de: Adelino Buque
No final da presidência aberta e inclusiva à província de Maputo, o Presidente da República, Armando Guebuza, em conferência de imprensa, apelou à seriedade o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para realizar-se o encontro entre ambos, há muito aguardado pela sociedade moçambicana e não só.
De acordo com o Chefe do Estado moçambicano, “é necessário que Afonso Dhlakama pare de mudar sempre de discurso”. Na mesma ocasião voltou a manifestar-se disponível para o referido encontro.
O Chefe do Estado respondia a uma pergunta feita por um jornalista presente no encontro sobre que saída adotar para o encontro com Afonso Dhlakama. “A saída é Dhlakama não mudar sempre de palavra. Ele está sempre a mudar de discurso. Diz que está aberto mas não aparece. Eu digo que estou aberto e estou pronto, efectivamente. Se a experiência ao longo do tempo não prova isso, não sei o que se deve fazer. Mas que eu estou determinado estou, de facto. E estou pronto porque acredito que é a melhor forma de se resolver os problemas, sobretudo se bem preparados os encontros”, disse o Presidente da República.
Na mesma conferência de imprensa, Armando Guebuza não quis condicionar a realização das eleições ao encontro entre ambos, apesar de assumir que é de capital importância e considerar que os moçambicanos têm estado a dar sinais de interesse no processo eleitoral. Na ocasião recordou a atitude da Renamo relativamente a sufrágios anteriores e na preparação deste, nos seguintes termos: “os moçambicanos têm dado sinais para que o processo eleitoral tenha lugar. Nós tivemos eleições autárquicas, ele dizia que não havia de permitir que acontecessem! Aconteceram, e em paz. Ele disse no princípio da preparação das eleições deste ano que havia de haver dificuldades de recenseamento, 85% dos moçambicanos foram recensear. Em países em perfeita paz, não se conseguem essas cifras”.
Aliás, o próprio líder da Renamo, Afonso Dhlakama, apercebendo-se que o comboio “apitou” pela última vez, do local “incerto” fez de tudo para que a sua inscrição não fosse invalidada, mandatando os seus pares ao Conselho Constitucional entregar o documento em falta, mesmo no último dia estabelecido pelo calendário eleitoral. Neste aspecto, a CNE tinha advertido os partidos políticos e organizações interessadas no processo sobre a não dilatação do tempo através de Paulo Cuinica, seu porta-voz, nos seguintes termos: “Dia 21, segunda-feira, vai ser efectivamente o último dia. Não haverá nenhuma dilatação do prazo para a recepção de candidaturas dos concorrentes inscritos”.
Acredito que Afonso Dhlakama terá ouvido os seus representantes naquele órgão que reafirmaram a necessidade de conformar-se com a legislação. Recorde-se que a pedido da Renamo o pacote eleitoral foi revisto e acomoda um número razoável de membros da Renamo.
Como que a corroborar com o Chefe do Estado, Armando Guebuza, para além da Renamo e o partido Frelimo, mais 32 partidos políticos, coligações de partidos políticos e grupos de cidadãos proponentes inscreveram-se para o sufrágio de 15 de Outubro que congrega as eleições do Presidente da República, deputados da Assembleia da República e membros das assembleias provinciais, totalizando 34 interessados. Este número é sinal inequívoco de que os moçambicanos querem eleições, os partidos políticos querem eleições.
O encontro entre o Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, que por sinal não concorre nestas eleições, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, é crucial para o próprio Dhlakama que, a custa deste, poderá gozar de ampla publicidade e restituir-lhe alguma dignidade que o permitiria calcorrear o país em campanha eleitoral. Por isso, mais do que do interesse nacional, é do interesse da Renamo e Dhlakama esse encontro. Esse encontro serviria também de pretexto para que saia do lugar “incerto” onde se encontra para se encontrar com a sociedade moçambicana. Quem não vê as coisas dessa forma certamente estará equivocado. Dhlakama precisa das mãos de Guebuza para a sua livre circulação em Moçambique e no exterior.
Agendem o encontro rapidamente e parem com exigências que não levam a nada.
CORREIO DA MANHÃ - 28.07.2014