“Eu não sei se foi Chipande o autor do 1º tiro”- idem
Foi nesta terça-feira, na sala de conferencias do Instituto de Formação de Professores de Quelimane, ex-IMAP, numa palestra subordinada ao tema “percurso do movimento independentista de Moçambique”, organizada pela Universidade MUSSA BIN BIQUE, que o General Bonifácio Massamba Gruveta, aquele que foi o homem que abriu a frente da Zambézia, na luta de libertação nacional, fez a confissão e atacou.
Na sua explanação, Gruveta começou por explicar como foi possível iniciar com a guerra em 25 de Setembro de 1964, um pouco pelo país.
Segundo aquele general e deputado da Assembleia da República, pelo círculo eleitoral da Zambézia, a luta de libertação nacional, não pode ser vista o seu arranque com o som das armas, mas sim de acordo com a fonte, houve um trabalho muito sério na clandestinidade, que não se está a falar.
Subsequentemente, Gruveta explicou que há muitos factores que concorreram para que a guerra de armas tivesse retardado ao nível das três frentes que tinham sido abertas, nomeadamente, a frente de Cabo Delgado, a frente da Zambézia e a frente de Tete.
Mas onde começou a luta de libertação nacional a 25 de Setembro?
Bonifácio Gruveta, um dos temidos generais na cúpula da Frelimo confessou de boca cheia. “Não acredito mesmo onde quer que seja, que a luta de libertação nacional tenha iniciado em Cabo Delgado”-disse o General, para depois soltar um riso e sustentar esta sua afirmação alegando que “para o vosso conhecimento, a guerra teve início no dia 24 de Setembro e nada disso que vocês andam a ouvir”-rematou.
Mas mesmo assim, ainda tinha ficado a questão de onde de facto terá iniciado a luta de libertação nacional, que conduziu o país a independência a 25 de Junho de 1975.
Gruveta bem sabia que já tinha ateado fogo nos participantes, dai que ia fazendo compasso de espera, provavelmente para ver se a pergunta passava despercebida. Só que ainda havia esperança de ouvir aquele que foi também um dos homens que desempenhou ou desempenha um papel chave na história de Moçambique.
Com muitas reservas o General do Gabinete do Plano do Zambeze (GPZ), esquivou argumentando que naquilo que sabe, o primeiro tiro foi disparado em Lugela (Tacuane) e mais nada.
E quem deu o primeiro tiro?
Aqui Gruveta nem sequer perdeu tempo em responder e disse: “Não se enganem, eu pessoalmente não concordo e não vejo Chipande como sendo autor do primeiro tiro que deu início a luta de libertação nacional”-disse General Gruveta, para depois acrescentar que “o que houve foi sim a falta de comunicação, entre as frentes, mas como Chipande estava em Cabo Delgado, ele saltou logo para Tanzânia e disse que disparou o primeiro tiro”-frisou.
Seguidamente, a fonte remeteu este debate aos presentes, dizendo que “ele próprio (Chipande), anda dizer que foi autor, está bom, penso que vocês já viram muitas entrevistas por ele dadas e agora?”-questionou também, numtom de riso.
Falhas na frente da Zambézia
Nesta mesma palestra, Bonifácio Gruveta, confessou também que na frente da Zambézia, onde ele era o líder, a guerra não iniciou no dia que se previa, isto porque segundo suas explicações, não tinha visto alvo para o qual ele e sua equipa poderiam disparar. Em jeito de brincadeira, claro para exemplificar, o orador disse que “não se podia disparar a toa, era preciso encontrar alvo certo, porque disparar para pessoa é diferente de disparar para uma gazela ou um outro animal quadrúpede”- vincou.
Prosseguindo, ele disse que uma das falhas que levou com que a frente da Zambézia, não iniciasse com a guerra na data prevista, também tinham a ver com as relações com o antigo presidente do Malawi, Kamuzo Banda, que na óptica do Gruveta, Banda foi um homem altamente perigoso e que nunca aceitou que as manobras da guerra começassem pelo seu país.
Contrariamente a isso, Gruveta diz que com a Zâmbia, havia boas relações, dai que ate hoje, ainda fumasse o cachimbo da amizade com a Zâmbia, do que com o Malawi.
Quando questionado também sobre algumas teses segundo as quais, um dos fracassos do inicio da luta na frente da Zambézia, teve a ver com as elites desta província que não aceitavam entrar na guerra, Gruveta, respondeu que sim, mas disse também que não foram só as elites zambezianas que não nutriram rapidamente o que se pretendia, mas houve também este comportamento um pouco por outras frentes que tinham sido abertas.
Dai que de acordo com aquele orador, quando chegou a Zambézia, terra que lhe viu nascer, deslocou-se ao distrito de Mocuba, onde teria se encontrado com o reformado
Bispo da Diocese de Quelimane, Dom Bernardo Filipe Governo, que claramente declinou o convite que o general havia lhe feito, para que aquele clérigo abandonasse a carreira de missionário e entrar em combate. “Eu convidei o Dom Bernardo, mas ele negou o meu convite, mas garantiu-me que haveria de trabalhar na clandestinidade, junto dos seus colegas seminaristas, caso do António Palange e outros”- explicou.
Todavia, Bonifácio Gruveta, reitera que a luta de libertação nacional, foi uma ginástica muito grande, e apela para que não seja vista apenas na componente arma, mas sim todo aquele trabalho feito na clandestinidade, onde houve gente presa, gente morta antes dos tiros das armas, enfim. (AZ)
DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 08.09.2010